O interesse dos cotonicultores brasileiros em firmar posição estratégica nas relações comerciais com a China ganhou força nesta semana. Porta-voz de um setor cuja produção aumentou, a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) formalizou parceria com a China National Cotton Exchange (CNCE), representante de mais de 5.000 compradores chineses de algodão.
Instituída em 1997 pelo governo central Chinês, a CNCE gerencia a maior plataforma de negócios da China. Reúne mais de 4.300 fiações, responsáveis por 90% do consumo chinês, além de 90% dos comerciantes domésticos de algodão.
O memorando de entendimento firmado na última quarta-feira (2) prevê a realização conjunta de eventos binacionais e, principalmente, a construção de um ambiente inteligente de negócios com ganhos para ambos os lados. “O Brasil já é o segundo maior fornecedor para China e seu algodão é conhecido tanto pela qualidade como pela competitividade. Com uma presença cada vez maior, sua influência no mercado também cresce”, pontuou a gerente geral da CNCE, Sun Juan, durante a cerimônia de assinatura, realizada de forma virtual.
Vice-Presidente da Federação de Cooperativas de Abastecimento e Marketing da China (ACFSMC), Hou Shunli antecipou que esse formato de cooperação será referência no país. “O memorando reúne as organizações mais influentes e importantes do setor em cada país e atende aos nossos interesses de longo prazo. Somos duas nações complementares: de um lado, o maior mercado consumidor global de produtos agrícolas e, de outro, aquele que está se tornando o maior fornecedor agrícola mundial”, observou.
A visão é compartilhada pelo embaixador do Brasil em Pequim, Paulo Estivallet de Mesquita – que participou do evento. “Queremos que a China nos veja como parceiro confiável, capaz de atender suas demandas. No caso do algodão, a abertura da operação da Abrapa na Ásia, em 2020, apenas reitera esse interesse em cooperar com os chineses”, contextualizou o diplomata.
Em abril, a Abrapa assinou outro memorando de entendimento com a China Cotton Association (CCA), organização que representa cerca de 60% do setor têxtil na China e reúne diversos elos da cadeia, inclusive indústrias.
“O diálogo comercial entre Brasil e China já está na pauta do mercado internacional do algodão e tende a se intensificar, pois os objetivos de cada país são complementares”, observa o presidente da Abrapa, Júlio Busato.
Embora seja o maior produtor de algodão no mundo, a China é também a maior consumidora global da fibra e não supre sua demanda interna na totalidade. De acordo com o Departamento de Agricultura Americano (USDA), a produção chinesa foi de 6,4 milhões de tons na safra 2020/2021, mas a demanda será de 8,6 milhões tons. Para a safra 2021/2022, a produção prevista é de 5,98 milhões tons, com projeção de que a indústria precise de 8,7 milhões tons.
Em abril, o país anunciou cota extra de importação de 700 mil toneladas para ampliar o volume fixo definido anualmente (894 mil toneladas). Como questões diplomáticas fecharam as portas da Austrália, há a possibilidade de que a China repita 2020 e importe boa parte do que precisa dos Estados Unidos, cumprindo as cotas firmadas com os americanos. Caso isso não se realize, o caminho mais provável para os orientais será o Brasil.
“Igualamos a qualidade de nossa fibra aos níveis dos EUA e da Austrália e somos os únicos fornecedores capazes de suprir o mercado mundial em volumes relevantes de algodão ‘contaminon free’. Estamos preparados”, assegura Busato.
A oferta contínua do produto é um dos itens mais valiosos nessa conjuntura, como pondera o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Henrique Snitcovski. “Não somos um fornecedor sazonal. Podemos suprir o mercado mundial no decorrer de o ano. Em momentos como o atual, em que aumenta a demanda no primeiro semestre, a indústria mundial pode recorrer ao Brasil”, afirma.