Amanda Radke* – Se tem uma coisa em que os ativistas são bons, é em conseguir atenção. Para o bem ou para o mal, se os seguidores dos direitos animais conseguirem ficar em frente a uma câmera, eles utilizarão todas habilidades publicitárias e até medidas extremas para garantir cobertura e ter manchete na mídia. Um excelente exemplo disso aconteceu em abril de 2018 na empresa “Cal Poly Meats”, quando duas ativistas se acorrentaram em instalação da companhia para obstruir o abate de um bovino.
Agora, você pode estar se perguntando, o que exatamente duas ativistas iriam fazer com o bovino, caso o tivessem resgatado? De acordo com um noticiário local, elas queriam salvar o animal para enviá-lo para um santuário. Sobre o incidente, a empresa Cal Poly emitiu uma declaração dizendo, “A empresa insiste no tratamento ético e humano dado aos animais nas instalações da empresa e/ou nas entidades afiliadas. A Cal Poly reconhece a responsabilidade de garantir o bom tratamento, e, portanto, adere a todas as leis ou diretrizes federais, estaduais, locais e institucionais aplicáveis que regem o bem-estar animal. A Cal Poly emprega uma equipe de médicos veterinários para garantir que todos os animais recebam os cuidados e a atenção de que precisam.”
Recentemente vi uma mensagem no Facebook que discutia a diferença entre os direitos animais e o bem-estar animal. Para consumidores, geralmente, eles significam a mesma coisa. Pergunte se eles são a favor dos direitos animais, muitos dirão que sim, sem hesitação. Porém, pergunte se o cachorro de sua família deveria ter o direito de processá-los, e, talvez, eles hesitem.
Como pecuaristas, nós deveríamos dominar as conversas sobre bem-estar animal, afinal de contas, nós temos o dever de cuidar do nosso gado, há séculos. Não é apenas inteligente, para o nosso negócio, cuidar dos nossos animais, mas também, é a coisa certa a se fazer.
Contudo, eu não conheço muitos fazendeiros que equiparam a vida de um boi à vida de uma pessoa, porém, isto é o que parte da população acredita. Além do mais, cães e gatos não traem seus cônjuges, sonegam impostos, mentem para suas famílias ou outros pecados que nós humanos somos capazes de fazer. Cães e gatos amam incondicionalmente, e, como resultado, eles rapidamente se tornam membros da família.
Enquanto isso, nossos consumidores nunca têm de caçar para obter a própria comida. A maioria não precisa nem se perguntar de onde será que virá a próxima refeição. Eles não precisam imaginar o abate de um boi ou de um suíno para que eles possam se alimentar. Essa é uma verdade desagradável que a maioria preferiria evitar ao percorrer os corredores dos supermercados.
O cachorro é um membro amado da família, então por que uma vaca não seria? Certamente, santuários de animais podem lidar com eles, e, assim, confinamentos e fazendas não precisariam existir, certo? Enquanto muitos consumidores não fariam necessariamente essa mudança, a triste realidade é que as vezes eles fazem. Isso acontece porque a nossa sociedade está tão distante da realidade (do ciclo da vida), que pode ser que seja também nosso papel, como pecuaristas, lembrá-los da dura verdade de onde a comida vem.
Sem dúvida, nós temos uma história fantástica para contar, uma com ênfase em um fantástico manejo animal, gestão ambiental e na produção de um produto nutritivo para alimentar o mundo. Contudo, essa história não tem apenas o lado bonito. Animais ficam doentes. Desastres naturais acontecem. A oscilação do mercado tira o sono do produtor. E, por último, o consumidor querendo ou não, o abate animal ocorre para a produção de carne e subprodutos.
Essa é a realidade. Não é sempre perfeito, mas é algo que nós, como fazendeiros, entendemos e respeitamos porque o vivemos dia a dia. Então, como vamos ensinar alguns desses princípios de senso comum aos nossos consumidores? Precisamos ser transparentes. Devemos estar dispostos e abertos a conversas. Precisamos estar vulneráveis e dispostos a desafiar noções preconcebidas mesmo quando é desconfortável fazê-lo.
Não será fácil, mas encontrar uma compreensão e respeito mútuos com nossos consumidores é essencial se quisermos prosperar com a próxima geração de consumidores. As gerações mais novas querem saber mais, e eles extrairão informações de algum lugar. Se não formos nós, poderá ser de fanáticos acorrentados a uma cerca do lado de fora das empresas (como o ocorrido na Cal Poly, por exemplo).
Deixemos isso passar e, então, vamos trabalhar.
(*) Amanda Radke é pecuarista nos Estados Unidos (Tradução de Felippe Reis, zootecnista e analista da Scot Consultoria)