Em meio às diversas grandes empresas e indústrias, os pequenos produtores rurais buscam maneiras de abrir espaços para seus produtos e serviços. Parte do diferencial está nos valores e propósitos de cada negócio e de que maneira as atividades são realizadas. Principalmente hoje, momento em que a sociedade e as grandes organizações projetam metas e cobram responsabilidade ambiental para recuperar os danos já causados ao planeta e para proteger os recursos e ecossistemas que ainda existem, o modo de produção tem definido o sucesso dos negócios.
Há seis anos, a AmazonBai, uma cooperativa de pequenos produtores de açaí no arquipélago do Bailique, a cerca de 160 quilômetros de Macapá, no Amapá, iniciou um processo de conquistas florestais. Hoje a cooperativa tem seu manejo florestal e a cadeia de custódia certificados pelo FSC, sendo a única do mundo com tal certificação para o manejo do açaí com verificação de impactos positivos nos serviços ecossistêmicos de carbono e biodiversidade.
A história da AmazonBai ajudou a disseminar os benefícios da certificação e, agora, o número de unidades de manejo certificadas dentro do grupo pulou de 88 para 132, abrangendo também produtores da região do Beira Amazonas. Durante a auditoria realizada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), já foram avaliados os planos de manejo dos novos produtores. “Para nós é uma felicidade muito grande a entrada dos produtores do Beira na Cooperativa, porque isso mostra que o trabalho de certificação, de manejo comunitário, está sendo feito de forma muito positiva, com resultados para as comunidades e famílias ribeirinhas da região amazônica”, diz Amiraldo Picanço, presidente da Amazonbai.
No total, são 54 novos produtores, sendo 43 da região do Beira Amazonas, com a área certificada de manejo sustentável alcançando 2.971,69 ha. “A certificação FSC vem com a premissa de fomentar o bom manejo”, diz Aldemir Santos Correia, vice-presidente do comitê gestor do protocolo comunitário do Beiro Amazonas. “E com o bom manejo, a gente tem um ganho econômico, com o aumento da produção e da produtividade, um ambiental, com a conservação da diversidade florestal e a manutenção do paisagismo natural, e, por fim, mas não menos importante, um ganho social, com a geração de emprego e renda”, explica.
Além dos aspectos sociais e ambientais, o manejo florestal responsável do açaí carrega ainda uma bagagem cultural, o conhecimento adquirido ao longo de séculos de trabalho com a colheita do fruto pelos moradores locais. “Dar a eles fontes de rendimento e apoio técnico, estimulando a melhoria e o aprendizado contínuo, fortalece a ligação deles com a terra e promove a conservação a partir do momento em que valoriza a floresta em pé”, explica Daniela Vilela, diretora executiva do FSC Brasil.
Bruno Simionato Castro, Coordenador de Certificação Florestal do Imaflora, conta que os produtores do Beira Amazonas vêm acompanhando de perto o processo de certificação FSC da Amazonbai por parte dos produtores do Bailique, percebendo seus benefícios. “Com a entrada dos produtores do Beira Amazonas, temos uma ampliação no número e na abrangência de áreas de florestas sendo manejadas por cada um de seus produtores dentro dos requisitos exigidos pela certificação FSC, buscando conciliar a produção de açaí com a conservação dos seus recursos naturais, a gestão do seu território, o engajamento dos seus atores e a melhoria contínua dos seus processos de gestão e governança”. Além dos benefícios econômicos e de segurança para os produtores, o manejo sustentável do açaí garante a manutenção da cobertura florestal e, consequentemente, os estoques de carbono e a diversidade de espécies, graças a conservação dos habitats e da alimentação dos animais que vivem nessas áreas.
Tradicional na região amazônica do país e cada vez mais valorizado no Centro-Sul do Brasil e no exterior, o açaí é um superalimento que ganha cada vez mais espaço com a tendência da alimentação saudável. Com muitas vitaminas, minerais, ômegas e antioxidantes, o fruto combate o envelhecimento precoce, ajuda no controle do colesterol, melhora o funcionamento do intestino, protege o coração e dá energia.
O Brasil é um grande produtor de açaí e o maior exportador de polpa congelada, mas ainda existe um potencial enorme de crescimento se pensarmos em todos os possíveis derivados. E Correia, do Beira Amazonas, levanta um ponto importante que influencia no aumento de produtividade e corrobora para as altas consecutivas de produção no País nos últimos anos. “Antes, o período da safra começava em janeiro, fevereiro, e terminava, no máximo, em julho. Mas depois de alguns anos de manejo responsável, ele aumentou e começa em dezembro e vai até agosto, setembro”, comenta.
Essas boas práticas, com o reforço da certificação, também ajudam a ampliar a consciência ambiental dos produtores. “As famílias passam a cuidar melhor da sua propriedade e do entorno e deixam de ser meros extrativistas, que é alguém que só tira algo da natureza, e se tornam produtores florestais”, define Correia. Ao garantir essa diversificação de potencial, há uma diminuição da limitação das populações tradicionais por um lado e, por outro, a melhora da qualidade desse alimento que vai para mesa nas grandes capitais e até mesmo em outros países.