A notificação apareceu no WhatsApp do fiscal estadual agropecuário Juliano Ritter, da Fronteira Oeste: era o vídeo de um produtor orgulhoso mostrando a aplicação correta de 2,4-D em sua lavoura após alteração feita no bico dos pulverizadores de sua propriedade, para atender notificação da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr). O título do vídeo: “Deriva Zero”.
Esta é a meta almejada e conquistada por diversos produtores pelo Rio Grande do Sul, depois que uma deriva de 2,4-D foi constatada em dezembro de 2018, afetando diversas culturas sensíveis. Desde então, a Secretaria da Agricultura editou uma série de instruções normativas com o intuito de resolver este problema, estipulando a assinatura de um Termo de Conhecimento de Risco e de Responsabilidade na receita agronômica, por parte do produtor rural; regras para o cadastro dos aplicadores de produtos agrotóxicos hormonais e a necessidade de o produtor prestar informações; e regulamentação da venda orientada de agrotóxicos hormonais.
O fiscal Alonso Duarte de Andrade, da regional São Luiz Gonzaga, esteve na propriedade do produtor Luciano Viegas, em Santiago, esta semana para acompanhar. Após notificação feita na safra passada, Luciano fez todos os ajustes necessários nos aplicadores, trocando o bico que era utilizado por um nº 03, que produz uma gota mais grossa, que dificulta a deriva. E também passou a monitorar as condições climáticas como vento, umidade e temperatura. “Eu não tinha um conhecimento mais profundo, mas depois que fiz o curso e com as orientações da fiscalização, eu me adequei melhor. Além de ser a lei, nós temos parreiral, arvoredo, e nos preocupamos com os vizinhos”, diz ele. Luciano planta soja, milho e pastagens em uma área de 300 hectares.
Na região foram realizadas reuniões de orientação e cursos para produtores, empresas e responsáveis técnicos. ‘Está tendo uma mudança de comportamento, de atitude, de todos os envolvidos na cadeia produtiva”, destaca Alonso.
Distante 140 quilômetros da propriedade de Luciano Viegas, no município de Maçambará, vive a produtora Gisele Wenning, que tem em torno de 6 mil hectares plantados com soja, trigo e outras culturas. Ela garante: “Nós atingimos a deriva zero e as aplicações em clima ideal, beneficiando o meio ambiente e evitando causar danos em culturas diversas dos vizinhos das lavouras”. Segundo Gisele, os funcionários receberam treinamento para aplicação de herbicidas hormonais e ela criou um grupo no whatsapp onde, ao final de cada dia, ela sabe o que foi aplicado, em que área da propriedade e por quem. E a cada semana, informa no sistema da Secretaria (SIG@) as aplicações. “O controle ficou tão bom que hoje estamos usando esta ferramenta para todas as aplicações feitas na propriedade: herbicidas, fungicidas e inseticidas”, ressalta Gisele.
O fiscal Juliano Ritter diz que foram muitas palestras e reuniões de esclarecimento sobre a aplicação dos hormonais e os riscos de deriva, principalmente nos municípios de São Borja, Itaqui e Maçambará. “Nós temos que destacar que muitos produtores se conscientizaram, estão fazendo a sua parte. Nós temos duas vinícolas aqui, uma em São Borja e outra em Maçambará, que não registraram deriva, o que é muito positivo. Mas o trabalho não pode parar, a gente tem que seguir orientando. Temos muito a evoluir, mas estamos no caminho certo”, afirma ele.
De acordo com Rafael Lima, chefe da Divisão de Insumos e Serviços Agropecuários da Seapdr, o desafio ainda é grande. “Nós teremos para o próximo ano a vigência de todos os municípios dentro das instruções normativas, portanto, o envolvimento de toda a cadeia produtiva e a participação dos profissionais na prescrição dos produtos e no acompanhamento das aplicações é fundamental”, destaca ele.
“Parte de nossa missão como ente público é a de conscientizar e instruir, por isso fico muito satisfeito em ver a evolução dos produtores gaúchos. Isso é resultado do trabalho árduo dos fiscais agropecuários da Secretaria da Agricultura, que estão ao lado do produtor no dia a dia, aplicando as políticas públicas que desenvolvemos como governo”, afirma o secretário Covatti Filho.
Maçambará e Santiago estão na lista dos 24 municípios prioritários que registraram casos de deriva em 2018.
Os 24 municípios prioritários são: Alpestre, Bagé, Cacique Doble, Candiota, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul, Hulha Negra, Ipê, Jaguari, Jari, Lavras do Sul, Maçambara, Mata, Monte Alegre dos Campos, Piratini, Rosário do Sul, Santiago, São Borja, São João do Polêsine, São Lourenço do Sul, Santana do Livramento, Silveira Martins, Sobradinho, Vacaria.