A nova realidade de economia mundial vem provocando uma mudança bastante significativa em diversos mercados. Algumas empresas que, até pouco tempo atrás disputavam espaço num mesmo segmento estão decidindo levar a efeito o velho ditado que diz, a união faz a força e se juntam para somar infraestrutura e Know how, gerando novas empresas e mega incorporações que visam ampliar sua participação e força dentro de suas áreas de atuação.
O reflexo desta mudanças na agricultura e pecuária brasileira é grande, principalmente porque ambos os setores despertam um interesse estratégico muito grande nas grandes empresas internacionais. É fácil entender esta posição em que o Brasil se encontra, já que é um país de dimensões continentais, quase que totalmente agricultável, com cerca de 150 milhões de bovinos e, o mais importante, com uma agropecuária em franca expansão. Além disso, o Brasil é, no mundo, o quarto mercado para produtos veterinários, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, França e Japão.
Na área de produtos veterinários, por exemplo, algumas das novas empresas já demonstram sua disposição de investir no País para o desenvolvimento de novas pesquisas. Este vai ser o grande diferencial das empresas nascidas dessas fusões, a capacidade de manter-se sempre a frente, concentrando todos os seus esforços em novas descobertas ,garante Fernando De Mori, gerente de produto da área de Saúde Animal Novartins, empresa que surgiu da união entre a Ciba Geigy e Sandoz. Assim como Novartis, que começou a existir oficialmente há cerca de sete meses, outras empresas de porte e tradição nesse segmento estão passando pelo mesmo processo. A Rhodia Mérieux e a Merck & Co., por exemplo, acabam de transformar-se na novíssima Merial, assim como Schering Plough e a Mallinckrodt também vão se transformando numa só. Junta-se a esse seleto grupo a Fort Dodge, que já absorve uma série de outras empresas no setor veterinário, entre elas, Cyanamid, Shell, Solvay e Whyeth, tornado-se um dos gigantes do mercado também no Brasil.
Embora pouca gente acredite no risco de formação de cartéis no setor, é grande a preocupação quanto ao futuro dos pequenos e médios laboratórios, de fora ou nacionais, que atuam hoje no País eles, que são em grande número, esta recomposição de forças é ameaçadora. Renato Cirne Lima, diretor da Ciquisa Indústria Veterinária, por exemplo, considera estas fusões péssimas, pois os pequenos já patinavam, sobretudo no setor de grandes animais.
A falta de condições para a realização de pesquisas e desenvolvimento de novos produtos é, de acordo com Peter Ahlgrimm, da Zeneca Brasil Ltda, o Fato que vai obrigar os pequenos e médios a mudar sua postura, simplesmente, por uma questão de sobrevivência. Eles vão ter que deixar de ser laboratório para ser uma empresa de representação ou distribuição. Outra Alternativa será associar-se para crescer através da formação de uma linha mais completa de produtos. Na área veterinária, a zeneca Brasil passou um bom tempo vendendo produtos da Wellcome e ICI. Hoje, trabalha com a Lamthrin.
Para Carlos Roberto Dourado Wilwerth, responsável pelo setor de saúde animal da Novartis, o surgimento deste gigantes não deve representar o fim dos pequenos: Há muitos segmentos pouco explorados pelos grandes. Além disso, os laboratórios menores vão poder continuar atuando no mercado de manipulação, com produtos já existentes, uma vez que os pecuaristas costumam ser fiéis aos produtos, garante Dourado, lembrando, porém, que estas empresas também terão a necessidade de manter estruturas enxutas e bastante eficientes.
Na área de genética o mesmo processo vem acontecendo. Para agilizar a conquista de espaço dentro do mercado brasileiro, interessante pelo potencial de crescimento demonstrado, alguns grandes nomes mundiais em venda de sêmen e embriões encontraram um caminho semelhante, buscando em empresas brasileiras a estrutura que não tinham por aqui para oferecer uma quantidade maior de reprodutores. Com essa idéia, surgiu a união da ABS com a Pecplan e da Alta Genetics com a Central VR. Outros casamentos entretanto, podem sair, principalmente porque outra grande empresa brasileira do setor, a Lagoa da Serra, está em processo de venda e são muitos os que acreditam que ela deve passar para as mãos de alguma empresa estrangeira.
Pecplan / ABS
Para as empresas de genética, com uma economia estabilizada, o palco brasileiro está perfeito para a entrada de novas estrelas. A ABS, potência norte-americana na disseminação de genética de ponta em todo o mundo, encontro na Pecplan Bradesco, uma das empresas mais tradicionais da inseminação artificial no mercado um parceiro perfeito para suas ambições.
A ABS está trazendo Know how de 70 anos de experiência em inseminação artificial nos EUA. Hoje, no seu setor, é a maior empresa privada norte-americana, com faturamento em torno de US$ 70 milhões/ ano. São mais de 6 milhões de doses de sêmen comercializadas anualmente, sendo que 70% da demanda vem do exterior. No seu país é líder em tecnologia também na transferência de embriões, clonagem, fertilização in vitro e pesquisas de DNA. Os investimentos em tecnologia e prova de touros mais de 300 por ano chegam a 10% de seu faturamento.
Mas nem tudo isso impediu que seu desempenho no brasil fosse modesto, mais destacado no fornecimento de sêmen de gado leiteiro. Era preciso mudar este contexto, principalmente, porque a demanda por qualidade no mercado brasileiro se acentua. Da pergunta como mudar, surgiu resposta: Pecplan Bradesco, empresa pioneira em inseminação artificial no Brasil, líder de mercado e com grande credibilidade junto aos pecuaristas.
Para Donário Lopes de almeida, o casamento foi perfeito, ficando a empresa com maior fatia do mercado, segundo o executivo, que vê no Brasil a galinha dos ovos de ouro da pecuária mundial. Donário explica que potências como EUA, Austrália e a Europa (CEE), já se tecnificaram e hoje até reduzem seu rebanho bovino: Não há para onde expandir. E como a África não consome carne, sobrou para este lado do hemisfério a responsabilidade de crescer, justifica. Mas não é somente o potencial de consumo da genética de qualidade que atrai investimento. O criatório de zebú nacional é de grande qualidade e poder ser exportado para outros países tropicais, começando pelo Mercosul e países latino-americanos.
Bastante otimista, Donário acredita num crescimento de 20% da nova empresa, ainda em 97. Antes da fusão, separadamente, a ABS Brasil fechou 96 com um faturamento de US$ 2 milhões, enquanto a Pecplan atingiu US$ 11 milhões. Juntas, comercializaram 1,1 milhões de doses se sêmen, sendo 65% para pecuária de corte e 35% para a leiteira. A meta para 97 é de 1,6 milhões de doses. Só neste primeiro semestre, a empresa vendeu 450 mil doses. Vale lembrar que o forte da demanda é esperado no segundo semestre, por ocasião da estação de monta. Toda estratégia da Pecplan/ABS para alavancar o mercado, segundo Donário, está baseada na melhoria da qualidade do atendimento ao cliente. Atualmente, seis veterinários já estão dando suporte técnico ao trabalho dos vendedores, ministrando palestras, cursos e acompanhando o trabalho no campo com indicação de acasalamento e outros apoios.
Além de pecuaristas, os técnicos visitam sindicatos rurais e associações de classe, sempre com intenção de estimular o aproveitamento da IA, por seus inúmeros benefícios, principalmente como recurso mais barato a multiplicação do rebanho e sua evolução produtiva. O gerente de Marketing da Pecplan – ABS, Carlos Savini, acredita que, com esta estratégia, além de investimento mais sistemáticos em marketing e propaganda, a empresa espera fechar 97 já com 35% do mercado de sêmen ( em 96, detinha 29%).
VR e Alta Genetics
A VR possui quase 80 anos de experiência na seleção de gado zebu ( 30 anos de central), grande tradição, mas competitividade prejudicada pela oferta e comercialização específicas. A Alta Genetics é uma empresa canadense, com central também nos EUA, e boa reputação internacional, mas que era mais estrangeira precisando incrementar seus negócios no Brasil. Sua força em termos de comercialização de sêmen sempre foi leiteiro e europeu de corte. Faltava a mesma performance no Zebu, a base do rebanho brasileiro, e instalações adequadas para aumentar sua participação no mercado. Com toda esta conveniência, segundo Marcos Longas, gerente regional da Alta Genetics, só restava mesmo juntar os trapos. Longas conta que os preparativos para a vida comum, exigiram para a central VR investimentos de US$ 20 mil, necessários á construção de um novo laboratórios e melhoramentos de forma geral para todas as suas instalações, inclusive números de piquetes, conforme ressalta Fernando Barros, da própria VR. E na outra perna do negócio, a comercialização dos produtos, não foi diferente, até recebendo o dobro de investimentos, cerca de US$ 4000 mil, para melhorar a formação do pessoal de vendas ( 90% de técnicos) e a própria infraestrutura de trabalho, com escritórios, computadores etc. Atualmente, a empresa dispõe de regionais na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.
O intercâmbio de Know how foi imediato. Um técnico da VR, Marcio Alvarenga, passou por uma reciclagem nos EUA e trouxe novos conhecimentos. Além disso, preocupadas com a eficiência de seus produtos, a VR/Alta Genetetics fechou um convênio com a Embrapa para realizar os testes de progênie dos touros em coleta e oferecer maiores garantias de qualidade aos pecuaristas.
Um dos maiores atrativos da parceria entre VR e Alta Genetics será sua ofertas de embriões, aliás única entre as grandes centrais. As estruturas deverão possuir o mesmo padrão de qualidade conferido no sêmen. Neste primeiro semestre de 97, o casamento já colocou 6000 embriões no mercado, números visto como modesto, mas que deverá subir bastante com o amadurecimento da parceria.
No item sêmen, o ano promete fechar com 700 mil doses vendidas, sendo 150 mil de zebu, 300 mil de gado leiteiro. Nas ambições do casamento está a exportação, principalmente para a América Latina (zebu, por enquanto) e quem sabe outros continentes, assim que resolvidos problemas sanitários, como o da febre aftosa, por exemplo.
O regime da parceria entre VR e Alta Getetics é uma espécie de comunhão parcial de bens. Os produtos exclusivos da VR são repassados em consignação para a Alta Genética comercializar. No caminho inverso, a empresa canadense paga os serviços prestados pela empresa brasileira. Para longas e Barros, todos ganham mais, todos estão satisfeitos.
Novartis
Para se ter uma idéia do que representa o mega casamento entre a Ciba e a Sandoz, a Novartis fachou 96 com US$ 19,7 bilhões de faturamento mundial e uma expectativa de US$ 750 milhões 97 apenas no Brasil, com um investimentos de US$ 3 bilhões somente em pesquisas. A empresa, com 1000 mil colaboradores e sede na Suíça, está presente em mais de 90 países.
Fernando De Mori, gerente de produto na área de saúde animal, explica que a palavra Novartis vem do latim Novae Artis, que resume o conceito de Inovação, aplicado em todos os seus segmentos: A Novartis Agro – defensivos agrícolas que não agridem a natureza; a Novartis Saúde – Animal – pecuária e animais de companhia; a Novartis Seeds – pesquisa genética de sementes e biotecnologia; a Novartis Nutrição – produtos para suprir deficiências nutricionais de pessoal que não conseguem cobrir suas necessidades com a dieta convencional; a Ciba-Vision – lentes de contato; e a Novartins Farma, carro chefe, empenhada na recuperação e melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Recentemente, a Novartins comprou a Merck & Co. (divisão agrícola), engordando um pouco mais sua participação no mercado. Entre outros significados, que dizer que o setor agropecuário deve ganhar em muito no que diz respeito ás conquistas de novas tecnologias, qualidade de produtos e atendimento. O Brasil tem o segundo melhor mercado para produtos veterinários em todo o mundo, nenhuma multinacional pode descartá-lo de seus planos.
Em maio último, a Novartins anunciou a compra da Merck & CO. Inc. Agrícola por US$ 910 milhões. Em 96, esta empresa faturou US$ 2000 milhões nos mercados de acaricidas/ inseticidas e fungicidas.
Rhodia e Merk
Um dos casamentos mais recente que vai mobilizando as atenções do setor é entre a Rhône-Mérieux (grupo Rhône-Poulenc- Rhodia no Brasil) e a Merc & Co. (MSD Agvet, no Brasil),formando a Merial, uma joint-venture de 50% para as partes. A empresa já nasce líder mundial em saúde animal e genética avícola, atuante em mais de 150 países. A palavro Merial foi escolhida porque as letras iniciais ” mer” são as mesmas de Mérieux e Merk, e as finais “al” são as iniciais da palavro aliança.
Os formadores da Merial, Rhône- Poulenc e MercK & Co. registram faturamento anual de US$ 36,8 bilhões, sendo US$ 17 bilhões e US$ 19,8 bilhões, respectivamente. Toda a estratégia de atuação das empresas está baseada em pesquisas e desenvolvimento, tanto que neste primeiro ano de vida, a Merial deverá investir US$ 120 milhões na conquista de novas tecnologias, devendo faturar cerca de US$ 1,9 bilhão ainda em 97.
No Brasil, a Merial também será líder seus segmentos de atuação. somando forças da Rhodia-Mérieux Veterinária e da MSD Agvet, o braços veterinário Merck & CO. A sede mundial da empresa ficará em Londres, com escritórios regionais nos EUA e na França. No Brasil, a sede está em Campinas/SP, região onde as duas empresas possuem bases industriais e 380 funcionários em atividade. O faturamento estimado em US$ 125 milhões, 97, corresponde a 19% do mercado brasileiro, onde a Merial vai liderar no segmento de bovinos, avícola, suínos e animais de companhia e lazer.
De acordo com Jorge Enrique Sole, presidente da nova empresa, a Merial promoverá a complementação das atividades, produtos e competência em pesquisa que as duas sócias vinham realizando: Até então, tanto a Rhodia-Mérieux quuanto a MSD Agvet disputavam o segundo lugar do ranking de empresas veterinárias, no Brasil, respondendo por 9% de participação cada uma.
Esta condição de liderança no Brasil, segundo Sole, permitirá ampliar ainda mais a vantagem sobre a concorrência e acrescenta que a subsidária brasileira terá fundamental importância na estratégia mundial. Entre outras importância na estratégia mundial. Entre outras atribuições, a casa brasileira também desenvolverá novos produtos para o mercado externo. Isto significa que ela contará com boa parte do orçamento para suas pesquisas e o aporte tecnológico da Merck & Co. e do grupo Rhône-Poulenc, além do Brasil possuir quadros altamente capacitados e a maior e mais moderna unidade de manufatura de produtos veterinários do País, complexo de laboratórios homologados pelo FDA (Food and Drugs Administration, dos EUA, órgão referencia mundial em qualidade de medicamentos e alimentos) e duas estações experimentais, uma no Rio Grande do Sul e outra em São Paulo.
A expectativa de crescimento da Merial, no Brasil, é superior a do próprio crescimento do mercado, ou seja, 10% em 97. Isto significa para a empresa, provar ao produtor que os casamentos vieram para trazer eficiência e agilidade na obtenção de melhores respostas tecnológicas ás necessidades do setor agropecuário. Neste contexto, o trabalho de marketing e propaganda será fundamental departamento que deverá receber 5 ou 6% do faturamento da empresa, para investimentos.
Federações de cooperativas buscam fusões
Ao descobrirem que possuíam interesses comuns na luta pelas melhorias de condições produtivas, que muitas vezes encontram-se nos mesmos corredores do Ministérios da Agricultura com as mesmas reivindicações, a Fearroz – Federação das Cooperativas de Arroz e a Fecotrigo – Federação das Cooperativas de Trigo e Soja, duas das principais federações de cooperativas do Rio grande do Sul, resolveram iniciar um estudo para viabilizar a união das duas numa única entidade.
Estudo concluído, o fato apresentado á sociedade consumado em julho deste ano, com data oficial marcada para setembro. Com isto, a nova federação vai referendar o interesse de 90 cooperativas e 227 mil famílias, reunindo um universo estimado de 1 milhão de pessoas. Movimentará 60% de sua safra gaúcha de grãos, dispondo de uma rede armazenadora de 7,8 milhões de toneladas. Será responsável por 71% da produção de trigo do Estado, 55% do leite, 43% da soja, 40% do arroz, 21% do milho e 11% do feijão. Representará ainda setores ligados á produção de lã, carne, uva e vinho. Esta federação deve faturar anualmente cerca de US$ 2,6 milhões e arrecadar mais de US$ 100 milhões em tributos estatais e federais.
Conforme expõe o ainda presidente da Fearroz, André Barreto, este projeto tem pelo menos três anos de manutenção e levou este tempo, porque era necessário descobrir as afinidades e as vantagens que traria aos produtos. Mas o processo se acelerou, principalmente pelas dificuldades econômicas, alterações no modus vivendi econômico atual, qual estruturas estão cada vez mais unidas, enxutas e ágeis, para fazerem frente á competição que o mercado está exigindo.
Barreto acrescenta que esta reestruturação está levando em conta a necessidade de alterar paradigmas muito arraigados dentro do sistema cooperativista que levaram á pouca eficiência econômica. Hoje, o que estamos propondo com esta nova fórmula é um sistema altamente profissionalizado, voltado a acompanhar as tendências mundiais de administração que possibilite a todo o sistema, passar da condição de sobrevivência para a de empresa sólida e forte, assinala o dirigente. Segundo ele, esta união preconiza uma forte atuação política junto ás autoridades constituídas para, bem representar os interesses dos cooperativados, liderar estudos sobre todo o setor agropecuário que visem ao aumento da eficiência e da produtividade, e dar especial atenção ao suporte técnico a ser oferecido ás cooperativas que integrarem o sistema, porque de agora em diante, só deverá ficar na teia aqueles que mostrarem profissionalismo e competência para ficarem no mercado, ressalta Barreto.
Na sua forma de ver, a velha máxima de que a união faz a força está cada vez mais válida no mercado e no sistema atual de trabalho de todas organizações. Ele preconiza que agora em diante, quem não se associar, fizer alianças, formar parcerias, não irá resistir por muito tempo, porque no mundo todo estamos assistindo a formação de grandes conglomerados ,de empresas se associando ou comprando outras do mesmo setor, e se não entrarmos no mesmo caminho, não sobrará muito o que contar sobre cooperativismo, avisa.