As feridas cutâneas são um problema recorrente para equinocultura, sendo um dos motivos mais comuns de atendimento veterinário. As lesões são ocasionadas por uma série de fatores externos inerentes aos desafios ambientais vivenciados pelos equinos. Porém, esses pequenos ferimentos podem servir como porta de entrada para uma série de doenças que geram perdas produtivas importantes.
É o caso, por exemplo, da Pitiose equina. A patologia, que acomete animais de qualquer raça e idade é causada pelo fungo Pythium insidiosum. O patógeno, encontrado em áreas alagadiças, é comum em regiões que apresentam características climáticas com altas temperaturas e umidade. Esses fatores estimulam a reprodução e multiplicação do microrganismo.
“Comumente os equinos são infectados ao entrar em contato com águas contaminadas, encontradas, muitas vezes, em açudes ou barreiros. O patógeno utiliza feridas pré-existentes para entrar no organismo do animal”, explica a médica-veterinária Baity Leal.
Com uma intensa reação inflamatória, os animais acometidos pela pitiose equina apresentam lesões cutâneas progressivas, granulosas, ulceradas ou fistuladas localizadas, principalmente, nos membros, abdômen e narinas.
Entre os sinais clínicos mais comuns estão, claudicação, anemia, apatia e perda de peso, fatores que deixam o animal debilitado. “Outro sintoma característico é o prurido intenso. Os animais afetados pela pitiose equina costumam se morder ou buscar locais onde possam coçar a região afetada, o que pode agravar ainda mais a lesão na pele”, afirma.
O curso clínico da doença varia de dias a meses e sua extensão dependerá da evolução das lesões. O tratamento da patologia deverá ser indicado por um médico-veterinário e poderá englobar a higienização da ferida e o uso de anti-inflamatórios e antibióticos.
“O criador deverá seguir as indicações do veterinário. É importante ressaltar que higienizar e manter a lesão protegida é fundamental para proteger a área de sujeiras do ambiente e impedir que o animal faça um novo trauma sobre a ferida, o que pode prejudicar, ainda mais, o quadro”, detalha Baity
Outra patologia que utiliza as feridas como porta de entrada e afeta negativamente os animais é a habronemose cutânea. Popularmente conhecida como ferida de verão, a patologia é causada pelo Habronema sp, verme presente no estômago dos cavalos.
No caso dessa doença, as moscas domésticas e as moscas de estábulo desempenham um papel fundamental para a contaminação dos equinos, pois são elas que carregam o verme até pequenas lesões na pele do animal. A patologia afeta o bem-estar do animal, causando prurido intenso, dor e desconforto causados pela ação das larvas.
“Os equinos afetados pela habronemose cutânea ficam mais irritadiços e estressados. Por conta do desconforto, passam a comer menos, o que pode levar a um quadro de anemia ou caquexia. No caso dos potros a patologia pode trazer prejuízos para o desenvolvimento do animal, prejudicando seu crescimento”.
Os principais sintomas da enfermidade são feridas de larga extensão, que nunca cicatrizam, e prurido intenso, que levam os cavalos a morder a área afetada. As lesões aparecem no canto dos olhos e da boca, nos membros, no prepúcio e na linha média do abdômen.
Outro impacto importante causa pela doença está associado a comercialização dos animais. Os equinos afetados pela habronemose cutânea têm seu valor comercial reduzido por conta das grandes feridas presentes no corpo. Além disso, a incidência da patologia é considerada um indício de falha no manejo de vermifugação, no manejo de limpeza e no controle de moscas.
“O primeiro passo para impedir o problema é vermifugar periodicamente todos os animais da propriedade, quebrando assim o ciclo do parasita. Para isso é fundamental o investimento em um protocolo de vermifugação assertivo”, afirma.
Além do manejo sanitário, que visa fazer com que o vetor seja eliminado do ambiente, impedindo a recorrência da doença, o tratamento da habronemose cutânea engloba os cuidados com a lesão, a higienização adequada da área afetada e uso de medicamentos anti-inflamatórios, antibacterianos, antipruriginosos e fungicidas. Em alguns casos pode ser necessária a intervenção química ou cirúrgica na lesão.