Como maior exportador mundial de carne bovina, o Brasil tem alta demanda por alimentação animal. Com esta finalidade, o sorgo pode ser usado de duas maneiras: para produzir silagem e para colocar o gado para pastoreio. Para esse mercado, o Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, disponibiliza o sorgo forrageiro IAC Santa Elisa, que produz o dobro de matéria verde em relação ao milho, característica que resulta em menor custo de produção. O IAC Santa Elisa também impressiona pelo volume de massa produzido, que pode alcançar 35 toneladas de matéria seca, por hectare.
Além da alta capacidade de rebrota, em que cada planta origina outras cinco, o sorgo forrageiro IAC Santa Elisa apresenta pequena produção de grãos, com produtividade de matéria seca de 18 a 30 toneladas, por hectare. As plantas têm alta resistência ao tombamento, à seca e às doenças foliares, além de porte alto, com 2,5 metros a 3,92 metros, e ciclo longo, variando de 125 a 205 dias após o plantio, para corte na fase de grão pastoso, dependendo da época de plantio.
O maior uso do sorgo é para silagem, mas ele é usado também como segunda cultura, após a colheita da soja, como planta de cobertura ou pastoreio direto, segundo o pesquisador do IAC, Eduardo Sawazaki. “Como o sorgo produz a substância durrina, que é concentrada nas plantas novas e é toxica aos animais, o pastoreio só deve ser feito com as plantas de sorgo maior que 70 centímetros”, ressalta o pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
Os estados de Goiás e Minas Gerais respondem por 74,8% da produção brasileira do cereal, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019. Essas são regiões mais secas, onde o sorgo se adapta melhor do que o milho.
Dentre as vantagens do sorgo está a alta produção de massa, com a utilização dos mesmos insumos, característica que reduz o custo por hectare, no caso de uso para silagem. “Para a produção de silagem, a recomendação é manter em torno de 30% de matéria seca, a fim de evitar excesso de efluentes, que provoca perdas no volume e na qualidade da silagem”, recomenda Sawazaki. Quando bem elaborada, a silagem tem o mesmo valor nutritivo da forração verde. A ensilagem é uma forma tradicional de reservar alimento volumoso para o período de seca.
“Para fazer silagem, a recomendação é plantá-lo nos dois primeiros meses do ano, pois a partir de março a planta fica baixa, o que pode ser vantagem para controle do pulgão branco, que é a maior praga dos sorgos atualmente”, sugere o pesquisador do IAC. Em plantas muito altas é muito difícil fazer o controle dessa praga.
Depois que o gado se alimenta, é passada a roçadeira na lavoura e o sorgo, então, rebrota, o que constitui outra qualidade do cereal. Se não tiver interesse na rebrota, o agricultor pode optar por dessecar a cultura e usá-la para fazer a cobertura de plantio direto para a instalação da soja. Além da produtividade e da economia, o sorgo é mais resistente ao estresse hídrico, que o torna adequado às áreas de Cerrado. Neste bioma, o período em que pode ser plantado é maior do que no caso do milho, tornando-o ideal para cultivo.
O sorgo IAC Santa Elisa foi desenvolvido pelo Instituto Agronômico na década de 40 e mantém elevada resistência às doenças. Tanto que atualmente há alta procura por suas sementes. Em 2019, o IAC repassou 16 toneladas de sementes genéticas da cultivar IAC Santa Elisa ao setor de produção. Esse volume permite semear uma área ao redor de 1600 hectares. Somam-se a essa transferência, os repasses de sementes genéticas a empresas parceiras, que as multiplicam e atendem agricultores de diferentes regiões brasileiras.
Com a entrada no mercado brasileiro da cultivar Agri 002E, chamada “gigante boliviano”, aumentou a procura por informações pelo sorgo desenvolvido pelo Instituto Agronômico. Isso porque o IAC Santa Elisa também é chamado, em alguns casos, de sorgo gigante, sorgão ou super sorgo. ” O IAC Santa Elisa compete em produtividade com o gigante boliviano, com as vantagens de menor custo das sementes, maior proporção de folhas na planta, o que é vantajoso para pastoreio, e ainda produz grãos, enquanto o boliviano apresenta polén estéril”, complementa o pesquisador.
De acordo com Sawazaki, se o produtor fizer requerimento ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), ele pode salvar para uso próprio as sementes do IAC Santa Elisa, principalmente na rebrota, onde a planta fica baixa, facilitando a colheita mecânica.
O sorgo está nos Bancos de Germoplasma do IAC desde 1934, com a entrada do sorgo sacarino número 38. O IAC Santa Elisa originou de cruzamento natural entre materiais da coleção de sorgo. O uso dessa cultivar até os dias atuais reforça a importância da manutenção das coleções de plantas nas instituições de pesquisa.
De modo geral, o sorgo é cultivado no Brasil nas regiões onde há gado de leite e de corte, em especial em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. De acordo com o pesquisador, no Sul é mais plantado o sorgo capim Sudão em sequência ao azevém, para formação de pasto. Os pecuaristas buscam por plantas forrageiras de elevada produtividade. O objetivo é suprir a necessidade de volumoso suplementar para os animais durante a seca, quando as pastagens se tornam escassas e com baixo teor nutritivo.
Sawazaki ressalta que ao comparar os diversos tipos de sorgos para silagem é preciso considerar que os forrageiros silageiros se assemelham mais ao milho. Já o IAC Santa Elisa e o gigante boliviano, de porte alto e ciclo tardio, se parecem ao capim Elefante. Há ainda os que são parecidos com cana-de-açúcar, por apresentarem colmo suculento e elevado teor de açúcares solúveis, como os sorgos forrageiros sacarinos. “Essas características influenciam o processo de ensilagem e cada um deve ter atendidos seus requisitos básicos para uma boa fermentação dentro do silo”, recomenda.