A Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) do Fundecitrus realizou um estudo inédito na citricultura, a quantificação das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa e da biodiversidade existentes nas propriedades citrícolas de São Paulo e Triângulo e Sudoeste Mineiro, que revelou que as áreas verdes totalizam 181.750 hectares. Nessas mesmas propriedades, a área destinada à citricultura soma 459.058 hectares, o que significa que há um hectare dedicado à preservação ambiental para cada 2,52 hectares de cultivo de citros.
“Pela primeira vez, foi possível dimensionar a contribuição ambiental da citricultura, que é muito expressiva. Esse patrimônio preservado mostra que a citricultura brasileira possui um compromisso com a sustentabilidade ambiental”, diz o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres.
O coordenador da PES, Vinícius Trombin, explica que a perenidade da citricultura favorece a preservação da flora e fauna, criando condições favoráveis para a instalação da vida animal. “As árvores de citros têm vida produtiva de cerca de 20 anos, então não há movimentação intensa da terra com frequência, e o sistema de cultivo demanda baixo trânsito de equipamentos invasivos, fatores que tornam as matas ambientes estáveis e seguros para os animais”, esclarece. “A fruticultura oferece ainda alimento para pássaros e pequenos animais”, acrescenta.
Metodologia da Embrapa Territorial
A quantificação da área preservada utilizou informações do mapeamento completo do cinturão citrícola feito pelo Fundecitrus em 2017 e dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR). O tratamento das informações do CAR foi feito com base em metodologia desenvolvida pela Embrapa Territorial (Campinas, SP) – o método começou a ser construído em 2016 para mensurar e cartografar as terras destinadas à preservação da vegetação nativa em todo o País e pode ser conhecido, juntamente com números e mapas por estado e microrregião, em www.embrapa.br/car.
Para o chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, as informações obtidas pelo Fundecitrus são relevantes para a defesa da sustentabilidade da produção brasileira. “O trabalho complementa e enriquece as análises sobre dimensão territorial das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa pelos produtores rurais ao aplicar métodos desenvolvidos pela Embrapa Territorial às propriedades do corredor citrícola, e os resultados são significativos”, comenta.
Produção sustentável
Na avaliação do pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (IEE) José Galizia Tundisi, especialista em gerenciamento de recursos hídricos, a relação entre as áreas de florestas nativas e as áreas de produção de citros significa um importante investimento e um exemplo fundamental para a produção sustentável. “Esta iniciativa não beneficia somente o setor produtivo citrícola, beneficia toda a sociedade”, afirma. “Já está evidenciado cientificamente que a manutenção de áreas com vegetação nativa tem influência quantitativa e qualitativa no ciclo hidrológico e na qualidade da água dos mananciais, além da preservação da biodiversidade terrestre”, pontua.
O biólogo e pesquisador do Centro de Estudos de Insetos Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Rio Claro), Osmar Malaspina, também destaca o impacto sobre a fauna. “Essas áreas protegidas contribuem para a manutenção da biodiversidade e ajudam na preservação de espécies polinizadoras como as abelhas. A presença desses polinizadores gera um retorno financeiro significativo ao produtor, aumentando em até 50% a quantidade e a qualidade dos frutos produzidos”, enfatiza.
Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam alta produção de mel no cinturão citrícola. “Cerca de 80% do mel produzido no estado de São Paulo está nos municípios que cultivam a citricultura. Nessa região, o crescimento da produção do alimento na última década foi muito maior do que em cidades fora do cinturão”, destaca Trombin.