O manejo adequado no cultivo da uva pode impactar diretamente no aumento do valor nutricional das frutas para o consumidor. É o que mostra estudo realizado durante a última safra na cidade de Bento Gonçalves (RS), em parceria entre a Embrapa Uva e Vinho e a Alltech. Entre os resultados apresentados, parreiras que receberam suplementação com soluções naturais à base de potássio e aminoácidos tiveram concentração de polifenóis 30,7% superior a de plantas não tratadas, enquanto a presença de antocianinas foi 44% maior.
Ambas as substâncias são altamente antioxidantes, trazendo melhorias para a saúde cardiovascular, como explica a nutricionista clínica funcional Aline Andretta Levis. “Os polifenóis, entre eles as antocianinas, são encontrados principalmente na casca das uvas, mas também nas folhas das videiras e nas sementes. Derivados dessa fruta, como vinhos, tem efeito na diminuição do colesterol ruim e aumento do colesterol bom, relaxamento dos vasos sanguíneos e consequente diminuição da incidência de doenças do coração. Além disso, suas substâncias antioxidantes como o resveratrol neutralizam radicais livres no organismo, e levam ao aumento da longevidade”, afirma Andretta Levis.
Como ressalta o engenheiro agrônomo Marcos Revoredo, a quantidade de nutrientes presentes nas frutas vai depender diretamente do manejo realizado pelo produtor durante o cultivo. “Das estruturas de reservas das videiras, como as folhas e ramos, para os cachos de uvas, serão transferidos os açúcares, aminoácidos e nutrientes aplicados durante o cultivo para a formação desses compostos orgânicos benéficos. Além disso, os polifenóis também contribuem para características da própria uva, como sabor e cor. Quanto melhor o processo de nutrição das plantas, além de tempo adequado de desenvolvimento e maturação, maiores serão os benefícios para o produtor e o consumidor”.
Qualidade e produtividade
Ainda segundo Revoredo, o uso de soluções naturais à base de potássio e aminoácidos durante o cultivo impacta diretamente na saúde e desenvolvimento da planta. Entre os principais benefícios, estão a melhor padronização e maturação dos cachos de uva, além do desenvolvimento natural da resistência das plantas a estresses. “Esse manejo nutricional vai ajudar as plantas a minimizar os efeitos dos fatores estressantes, e estimular de maneira mais intensa e equilibrada o transporte de fotoassimilados e nutrientes armazenados nas folhas e ramos para os cachos de uva. Assim, teremos um incremento também no enchimento dos frutos, período no qual a planta vai ter uma demanda maior por essa reserva nutricional”, afirma.
Além disso, as soluções ainda terão impacto na qualidade dos sucos e de vinhos, como mostrado no estudo. Uvas que receberam aplicações de aminoácidos e potássio tiveram um acréscimo de 3,4% na concentração de açúcares. “Essa melhora é decisiva para a boa qualidade da fruta. Tanto para as uvas de mesa quanto para as destinadas à fabricação de vinhos e sucos, o sabor é um dos principais aspectos finais. Quanto maior a concentração de açúcares, uniformidade de cor e tamanho das uvas, por exemplo, melhor será o rendimento para o produtor”, acrescenta.