A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avaliou o panorama do agronegócio brasileiro e norte-americano durante a crise do coronavírus. Um dos temas analisados foi as medidas realizadas pelo governo dos Estados Unidos para garantir o abastecimento interno e o comércio internacional de produtos agropecuários.
Segundo Alinne Oliveira, especialista em política comercial na Bryant Christie, o pacote de apoio aprovado pelo governo federal destina, pelo menos, US$ 23,5 bilhões para garantir assistência ao setor e a oferta de alimentos internamente. Além disso, está em discussão a possibilidade de um auxílio direto para produtores e a compra de produtos excedentes.
“Outro ponto interessante foi a flexibilização que eles fizeram para as exportações de frutas via aérea. Como o número de pessoas viajando caiu muito, eles vão permitir o transporte de cargas na cabine de passageiros”, disse.
A especialista em política comercial também revela que o setor de frutas e verduras vem apresentando aumento de vendas em supermercados, incluindo na versão enlatada. Por outro lado, houve queda nos preços das commodities e o fechamento de plantas de processamento de carne devido ao afastamento de funcionários infectados pelo Covid-19, o que pode reduzir a oferta doméstica e uma eventual flexibilização na importação desses produtos.
Restrições
Até o momento não foram registradas restrições dos Estados Unidos em relação ao comércio de produtos agropecuários com outros países. Em termos globais, a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê uma queda de 13% a 32% no comércio mundial de bens em 2020, indica Renata Amaral, professora de Comércio Internacional na American University.
“Ninguém sabe quanto tempo a crise vai durar. É extremamente importante a transparência de dados e a cooperação entre os países, principalmente para que os alimentos não sofram restrições”, afirmou.
Sobre possíveis avanços no acordo comercial entre o Brasil e Estados Unidos, a professora da American University avalia que existe disposição política para facilitar uma aproximação. Conforme ela, equipes técnicas estão trabalhando em pontos específicos de um relatório preliminar, mas a pandemia e as eleições presidenciais norte-americanas neste ano devem atrasar qualquer definição.
Quanto aos negócios envolvendo Estados Unidos e China, a visão geral é que primeira fase do acordo comercial está sendo cumprida. Apesar disso, os volumes elevados de exportação e importação previstos, somados à falta de transparência nas regras sanitárias e fitossanitárias, criam fragilidade na parceria.
Nesse cenário e com as mudanças provocadas pela pandemia, elas acreditam que o Brasil precisa rever políticas comerciais e estar atento a novas oportunidades que poderão surgir no mercado internacional. Um objetivo comum entre Brasil e Estados Unidos poderá ser a União Europeia. Em parceria, ambos podem derrubar medidas protecionistas e aumentar as exportações, apesar da concorrência em alguns produtos agropecuários.
“Exportamos US$ 7 bilhões para os Estados Unidos no ano passado. É o nosso terceiro maior parceiro comercial. Sabemos que é um concorrente forte no mercado internacional, mas também existe uma complementaridade e uma possibilidade de ampliarmos nossos negócios juntos”, acredita a superintendente de Relações Internacionais da CNA, Lígia Dutra.