A fase de transição entre as águas e a seca é um momento muito importante para a pecuária, já que é neste período que são tomadas decisões que influenciarão todo o ciclo da atividade.
Segundo o médico-veterinário e gerente da Connan, Marcio Bonin, a chave para conquistar bons resultados na pecuária é se planejar. O criador deve ter traçada a sua meta para o ano e, dessa forma, tomar as medidas necessárias de acordo com o objetivo de sua propriedade. “Não se decide no caminho aonde se quer chegar. Na atividade é importante que se tenha um objetivo definido e, a partir dele, se planejar”, destaca.
Por ser uma época de pouca chuva e, consequentemente, de queda na produção e na qualidade das forragens, alguns fatores estratégicos podem auxiliar o pecuarista no momento das decisões.
Para auxiliar neste processo, o médico-veterinário listou algumas dúvidas comuns dos criadores neste momento de transição e que serão fundamentas nas demais fases da pecuária.
1) Qual o momento certo para troca do suplemento de chuvas pelo de seca?
A decisão deve ser tomada durante o primeiro mês do outono. Do meio da estação para frente, a forragem apresenta grande queda de qualidade e, com a troca do suplemento, é possível voltar a embalar os animais e manter o ritmo de ganho de peso no período das águas.
“Decidindo pela troca nesta fase, o animal continua com bom ganho de peso, mesmo com a menor qualidade de forragem. Poucas fazendas adotam essa estratégia, de efetuar a troca com o pasto ainda verde. A maior parte dos pecuaristas opta pela mudança quando o pasto já está mais seco e com isso o animal desacelera muito o ganho de peso, o que leva a menores índices”, explica Bonin.
2) É viável suplementar na seca? Esse tratamento influencia no desempenho do animal no próximo período de chuvas?
“Com certeza”, ressalta o gerente. Segundo ele, o pecuarista que suplementa adequadamente consegue aproveitar melhor o início do período das águas.
“O animal que não recebe um suplemento adequado em proteína nesta época de seca acaba registrando uma mudança em seu metabolismo, pois a menor quantidade de comida ingerida obriga o organismo do bovino a se adaptar com uma ingestão menor de calorias por dia, o que ocasiona a redução geral do metabolismo”, conclui.
Com essa redução do metabolismo, o animal chega na fase das águas com baixa capacidade de aproveitar o bom alimento e assim expressar o seu melhor potencial em ganho de peso. Desta forma existe um grande prejuízo para o pecuarista, pois o animal vai ganhar muito menos peso do que deveria na melhor fase das pastagens, atrasando o ciclo de produção e tornando mais caro o custo de produção da arroba.
“Por isso reforço a importância do planejamento da propriedade. Sabendo qual é a meta para o ano, fica mais fácil definir os investimentos para cada época. Com os objetivos bem determinados, o pecuarista pode investir melhor na suplementação nas águas e ser mais certeiro na escolha do suplemento que dará ao rebanho no período de seca”.
3) Quanto devo investir na suplementação de seca e quais critérios devo seguir?
Para responder esta questão é importante que se tenha o conhecimento do prazo de validade dos animais que estão na fazenda, ou seja, que se conheça a data para o abate, e com isso, definir o quanto investir com suplementação em cada fase.
Bonin ainda acrescenta que é importante conhecer as condições de pastagem da propriedade, para que o cálculo mostre o nível de consumo de suplemento que deve ser adquirido.
“Se a lição de casa foi bem feita no período das águas, o rebanho entrará bem nas secas, dessa forma o investimento em suplemento será mais leve. Mas se os animais não chegam em boas condições na fase com menos chuva, o pecuarista terá que desembolsar mais com suplementação”, pontua.
4) Será que minha fazenda vai suportar o rebanho atual durante todo o período de seca?
Para responder esta pergunta é necessário que o pecuarista conheça o quanto de pasto possui e quanto ele suportará em termos de quantidade de animais durante a seca. “Voltamos a falar sobre planejamento. O pecuarista que conhece a realidade de sua fazenda consegue ter mais certezas nos momentos de tomada de decisão. Só conhecendo o estoque de pastagem ele vai conseguir determinar se os pastos serão suficientes ou se será necessário partir para outras estratégias, como o confinamento ou mesmo se será necessário vender alguns animais”, enfatiza o técnico.
5) Quando devo vedar as pastagens e qual o melhor capim para a seca?
A vedação de pastagem, que consiste em selecionar algumas áreas de pasto da fazenda e impedir, temporariamente, o acesso dos animais deve ser feita em até 60 dias antes do período de corte das chuvas. “É importante destacar que o período de vedação pode variar de acordo com as características de cada fazenda, mas o objetivo é acumular massa para consumo dos animais no período seco”, informa o médico-veterinário.
A escolha do tipo de pastagem depende da definição de qual categoria fará a sua utilização (cria, recria, engorda ou silagem). Outro fator importante é levar em consideração o clima da região e suas particularidades. No Brasil, a braquiária é o gênero mais comum e a que oferece mais condições de nutrição para o gado na seca, pois possui boa quantidade de folhas e menos talos.
6) Até quando consigo terminar a boiada a pasto? Como fazer e quais os principais cuidados?
Segundo o médico veterinário, se trabalhar o modelo convencional, com a nutrição da boiada com pasto e suplementação, pode iniciar a terminação dos animais até 90 dias antes do tradicional corte da chuvas.
Para estender a utilização das pastagens para terminação dos animais mesmo em período seco, recomenda-se a técnica da Terminação Intensiva a Pasto (TIP), um modelo vantajoso, pois dá previsibilidade de abate ao pecuarista, possibilitando que se desenvolva um programa nutricional tanto para as águas quanto para as secas, permitindo abater seus diversos lotes com maior homogeneidade. A TIP facilita também a extensão do prazo de abate sem a necessidade de se investir em uma estrutura de confinamento.
“Em ambos os casos é importante a escolha de um suplemento de qualidade e que acrescente nutrientes à alimentação da boiada”, acrescenta.