Por Caroline Capitani* – Existem muitas oportunidades nas diversas cadeias produtivas vinculadas ao agronegócio que podem ser resolvidas com soluções criativas e viáveis. O campo tem sido invadido pelos dados para que decisões cada vez mais inteligentes sejam tomadas pelo produtor rural, como entender os inputs gerados pelos equipamentos (telemetria) e aumentar a eficiência, por meio de analytics avançados e gerenciamento das operações de forma mais holística e científica.
A gestão das propriedades rurais pode ser otimizada por meio de softwares de gerenciamento agrícola, assim como o plantio e a colheita também podem ser potencializados com tecnologias voltadas à agricultura de precisão, análise preditiva, irrigação inteligente, robótica e drones. Soluções digitais de escoamento de safra, com marketplaces, também têm se mostrado com uma alternativa bastante interessante. Como exemplo, pode-se citar a plataforma CBC Agronegócios, na qual empresas negociam produtos como grãos, cereais, sementes e insumos.
O setor agro, de forma em geral, vem buscando formas de otimizar a produção e isso inclui a diminuição da dependência humana para determinadas atividades. Outra demanda é da indústria financeira, preocupada em dar mais acesso ao crédito para os produtores rurais, diminuindo a burocracia e revisitando processos muito manuais e engessados.
As seguradoras, por sua vez, estão se preparando para fornecer seguro agrícola adaptado às necessidades específicas dos agricultores. Informados por big data e em tempo real, o agricultor e a seguradora podem adaptar sua cobertura dinamicamente, com base na mudança de risco e nas ações tomadas pelo segurado para mitigar esse risco. Além disso, como parte de um ecossistema agrotecnológico, há um grande valor para o agricultor em tudo aquilo que simplesmente acontece mais rápido, seja de reparos de equipamentos a pagamentos de sinistros. A tecnologia digital é um divisor de águas para o seguro agrícola e tem como principais desafios as mudanças climáticas, a cadeia de fornecimentos e a falta de cobertura.
É perceptível, por exemplo, o aumento das empresas que comercializam máquinas e implementos agrícolas com interesse em medir seu NPS (Net Promoter Score) – métrica de lealdade do cliente -, metodologia que tem se disseminado amplamente em diferente indústrias. Isso mostra a preocupação das empresas em melhorar a satisfação de seus clientes, colocando-os, de fato, no centro das suas decisões. Isso tem estimulado as empresas a desenharem a jornada de compra, identificando o momento ideal para coleta do feedback e estudando os melhores canais a serem utilizados. Para viabilização desse processo, são necessárias a adoção de novas tecnologias e também uma mudança de modelo mental das empresas produtoras, das revendas, das assistências técnicas que estão diante de um produtor rural cada vez mais atualizado e exigente.
Um exemplo de utilização de recursos tecnológicos é da AGCO International, que implementou ferramentas em IoT em suas máquinas agrícolas, ou seja, equipamentos que funcionam de forma autônoma. Como resultado, obteve-se um aumento de precisão de rota dos tratores de um metro para até dez centímetros; registro dos dados de semeadura do produtor: quanto foi semeado de cada semente, cada defensivo agrícola e em qual área da fazenda; dados de telemetria enviados às concessionárias da AGCO: nível de óleo e combustível, temperatura do motor e do óleo e horas de uso do motor.
Outro caso que pode ser citado é o da seguradora Allianz. A companhia usa a solução da startup 365FarmNet – que é baseada em dados de satélite – para melhorar a avaliação de risco em tempo real para seguros agro. A tecnologia é aplicada para garantir desvios dos rendimentos previstos das colheitas. Ela utiliza dados de satélite abertos da Agência Espacial Europeia (ESA) para mapear o acúmulo de biomassa, com o objetivo de melhorar a avaliação de riscos em tempo real, bem como uma avaliação de reivindicações mais eficiente e precisa. Isso significa duas coisas: maior previsibilidade de resultados e uma melhor proporção de insumo/produto agrícola.
Existem diversos cases de sucesso na indústria e uma proliferação de eventos para tratar do tema inovação e novas tecnologias no meio agro. Empresas consolidadas, que atuam no meio agro, têm avançado em prover melhores serviços por meio de uma atuação em ecossistema, trazendo uma atuação virtuosa e de ganhos para o produtor rural por intermédio da tecnologia. E há ainda muita oportunidade de inclusão de tecnologias digitais, especialmente, quando se trata de agricultura familiar, que representa 88% das propriedades rurais.
Sendo assim, um caminho para encurtar esse acesso é por meio da parceria entre empresas e startups, ligando os menores a tecnologias que permitem ter ganhos na produção e na qualidade do produto. Operar em ecossistema é uma saída inteligente, mais acessível e responsável diante do desafio crescente do setor que representa aproximadamente ¼ do PIB nacional.
(*) Caroline Capitani é VP de Negócios e Inovação da ilegra, empresa global de design, inovação e software