Por Rafael Ribeiro* – Segundo levantamento da Scot Consultoria, a saca de 60 quilos foi negociada em R$57,00-R$58,00 em março (23/3) na região de Campinas-SP. O maior preço, até então, havia sido verificado em 2016, ano em que a queda nos estoques internos e o clima adverso levaram à forte valorização do grão, em reais. Naquela oportunidade, a saca chegou a ser vendida por R$55,00.
Em 2020, ou melhor, desde meados do segundo semestre do ano passado, o câmbio valorizado, a boa demanda, as incertezas com relação ao clima e as expectativas de estoques menores nesta temporada têm dados sustentação aos preços no mercado brasileiro.
De acordo com o relatório divulgado em março pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá colher 100,08 milhões de toneladas de milho no ciclo atual (2019/20), frente as 100,04 milhões de toneladas colhidas anteriormente.
Se confirmado, o volume será recorde. Entretanto, em relação as estimativas de fevereiro para a safra 2019/20, a produção deverá ser 0,4% menor e não estão descartadas revisões para baixo em função, principalmente, da falta de chuvas em regiões produtoras de milho de segunda safra no Centro Sul do país, além das perdas que estão sendo computadas na primeira safra, em especial no Rio Grande do Sul.
Com relação ao consumo, a demanda interna foi mantida em 70,45 milhões de toneladas em 2019/2020. No ciclo passado foram consumidas 65,24 milhões de toneladas.
As exportações foram estimadas em 34 milhões de toneladas em 2019/2020, mesmo volume estimado em fevereiro, mas abaixo das 41,17 milhões embarcadas na temporada passada (recorde).
Com a revisão para baixo na produção em relação ao relatório anterior e manutenção da demanda (interna e exportação), os estoques finais de milho em 2019/2020 foram revisados para baixo no relatório de março.
Estão previstas 8,03 milhões de toneladas de milho estocadas ao final deste ciclo, frente as 8,44 milhões de toneladas estimadas anteriormente. É o menor estoque nos últimos anos. Para uma comparação em 2018/2019 foram 11,40 milhões de toneladas e em 2017/2018, 16,18 milhões de toneladas em estoques finais.
Incertezas
Apesar das recentes altas no mercado físico, no mercado futuro (B3) as cotações dos contratos registraram quedas ao longo deste mês, diante das incertezas em função do coronavírus e da queda no preço do petróleo, que poderão prejudicar a demanda interna e mundial.
Para uma comparação, o contrato com vencimento em maio/20, que chegou a ser negociado próximo de R$53,00 por saca na primeira quinzena de março, fechou o dia 23/3 cotado em R$48,85 por saca.
Para o curto e médio prazo, a expectativa é de preços firmes no mercado do milho e altas não estão descartadas no mercado brasileiro, até que se tenha uma ideia melhor acerca da produção na segunda safra, em reta final de semeadura, em meados de março.
Lembrando que boa parte do incremento previsto na demanda interna é devido ao aumento na produção de frangos e suínos para atender a exportação destas carnes, que por ora, não tiveram os embarques afetados.
As notícias de redução de novos casos do coronavírus na China é outro fator que pode indicar uma retomada da demanda chinesa e possibilidade de aumento das importações do país asiático.
Por outro lado, se a situação mundial e chinesa se agravar precisamos rever a demanda por carne e, consequentemente, por grãos no mercado interno (milho) e para exportação (soja).
(*) Rafael Ribeiro de Lima Filho é Zootecnista, mestre em administração pela UNESP de Jaboticabal e consultor da Scot Consultoria.