A colheita da safra 2020 de café do Brasil se aproxima e o comportamento do clima, até o momento, indica que deveremos colher um volume dentro do intervalo apontado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), entre 57,2 milhões e 62 milhões de sacas de 60 kg.
Segundo o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, como os estoques nacionais do produto estão em seus menores níveis históricos, o montante a ser colhido será suficiente para que o Brasil honre seus compromissos com exportação e consumo interno, sem gerar excedentes.
“Com esse equilíbrio entre oferta e demanda, o mercado pode ter menores oscilações e os preços voltarem a ficar em níveis que gerem renda aos produtores”, projeta.
Brasileiro comenta, contudo, que é corriqueiro, nessa época do ano, surgirem diversas especulações tendenciosas a respeito da safra brasileira. “O Brasil é o maior produtor mundial e jogar ao vento que teremos supersafra, safra recorde, só interessa a esses players, já que atuam com a intenção de depreciar o valor do produto e o comprarem a preços mais baixos”, critica.
O presidente do CNC recorda que uma das formas possíveis para cafeicultor e cooperativas de produção não serem afetados pelas oscilações geradas por especulações ocorreu na semana passada, quando o Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC) aprovou orçamento recorde de R$ 5,71 bilhões do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para a safra 2020.
Do total a ser disponibilizado para a cafeicultura a partir de julho deste ano, foram aprovados R$ 2,3 bilhões para a linha de financiamento de Estocagem; R$ 1,6 bilhão para Custeio; R$ 1,15 bilhão para Aquisição de Café (FAC); R$ 650 milhões para Capital de Giro; e R$ 10 milhões para Recuperação de Cafezais Danificados.
“Essa disponibilização recorde do Funcafé reflete o trabalho que realizamos e a sensibilidade do governo federal, principalmente da ministra (da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) Tereza Cristina e sua equipe, frente ao cenário de descapitalização dos produtores, gerados por seguidos anos de preços aviltados e custos elevados. Os recursos serão fundamentais para que os produtores não sejam pressionados a vender nos momentos de baixa e possam escoar sua safra ao longo dos 12 meses, otimizando sua renda”, destaca Brasileiro.
O presidente do CNC orienta que, dotados de orçamento do Funcafé, produtores e cooperativas se atentem às possibilidades que o mercado apresenta relacionadas a cotações e taxa de câmbio. “Eventualmente aparecem janelas de oportunidades nas quais podemos fixar preços futuros para o café. Não podemos perdê-las”, conclui.
Coronavírus e oferta
O Conselho também segue a linha adotada pelo Ministério da Agricultura e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) nesta semana e aponta que a cafeicultura, assim como todo o setor agro, não parará, assegurando o abastecimento do produto aos consumidores.
“Talvez enfrentemos algum problema relacionado ao transporte das cargas, principalmente para o exterior, com a possibilidade de falta de contêineres que estão paralisados nos portos da China em função da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), mas desabastecimento não haverá”, pondera Brasileiro.
Na quarta-feira (18), a ministra Tereza Cristina destacou, em nota, que o Brasil é um grande celeiro, produtor de alimentos, e “não precisamos ter nenhuma expectativa negativa de que não teremos alimentos para nosso povo”, referindo-se às mudanças na rotina dos brasileiros impostas pela pandemia de Covid-19.
A ministra salientou, ainda, que a população deve se manter tranquila em relação à oferta de produtos alimentícios no varejo e elogiou os produtores rurais. “São os nossos heróis, que neste momento estão lá (no campo) dando duro, produzindo e realizando a maior safra colhida neste país, batendo recorde um sobre o outro para alimentar nossa população”.
A CNA, na mesma data, afirmou que as atividades de produção e comercialização de alimentos permanecerão ativas, pois a demanda não será reduzida pela crise.
“Do contrário, se faltarem alimentos ou se houver irregularidades no abastecimento, a saúde das pessoas será afetada e a própria harmonia social, que tanto precisamos nessa hora, será atingida (…) por essas razões, o Sistema CNA, em nome dos produtores rurais brasileiros, assegura à população que continuaremos produzindo normalmente”, posiciona-se a Confederação.