Agricultura

Supersafra: um campo de excelência

Prestes a registrar um novo recorde, a safra brasileira de grãos tem representado o nível de tecnologia que os produtores têm investido para alcançar tamanha produção e produtividade. Confira quais são os últimos preparativos para a manutenção desses resultados.

A estimativa é que o Brasil colha 183,58 milhões de toneladas (t) e o salto pode ser grande – mais de 17,4 milhões de um ano a outro, o que representaria um volume maior de 10,5% sobre a produção obtida em 2011/2012. Acerca de volume, o recorde é fato, no entanto, se confirmado esse resultado da safra 2012/2013, esse seria o segundo maior salto da história da produção brasileira de grãos.

Ao longo da série histórica do levantamento da safra, feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a partir da temporada de 1976/1977, a ultrapassagem da barreira de 10 milhões de t aconteceu oito vezes.

A mais emblemática de todas, foi a da safra 2002/2003, a qual resultou um crescimento de 26,3 milhões em comparação ao total colhido em 2001/2002. Naquele ano, a produção cresceu 27,24%, a produtividade foi de 16,45% superior e a área cultivada 6,31%. Nesta temporada de 2012/2013, segundo o sexto levantamento, divulgado no início de março pela Conab, estima-se que a produtividade cresça 6,1% e a área cultivada seja 4,1% maior que a da safra passada.

Os números são mais do que positivos e revelam que o Brasil tem muito a contribuir com a produção de alimentos, ainda mais, diante de cenários adversos em outros países destacadamente fortes produtores de grãos, como os Estados Unidos, que têm aquecido a valorização da safra brasileira. E quando os preços estão bons, os investimentos na agricultura também são mais aparentes, por isso, produtores têm lançado mão de toda tecnologia para resultar em boa prosperidade à lavoura. Apesar disso, muitos devem ser os cuidados para que o produtor não deixe escapar o potencial de sua plantação. Algumas dicas básicas poderão fazer a diferença em anos tão dourados à agricultura nacional.

Soja que vale ouro

A cultura da soja é, sem dúvida alguma, a maior entre todas produzidas no País – deve representar mais de 44% do total de 183,5 milhões de t. Muitas regiões estão já em fase final de colheita. Para Alvadi Antonio Balbinot Júnior, pesquisador em manejo da cultura da soja da Embrapa Soja, em Londrina (PR), os cuidados com a oleaginosa, nesses momentos finais de enchimento dos grãos, estão relacionados ao controle de percevejos, doenças de final de ciclo como a mancha parda (Septoria glycines) e crestamento foliar de cercóspora e mancha púrpura da semente (Cercospora kikuchii), e, por fim, a ferrugem asiática. “Nesse sentido o produtor ter de se valer do controle fitossanitário em pulverizações para diminuir as perdas. Inclusive, o controle dessas doenças de final de ciclo são feitos já as aplicações da ferrugem”.

A fase final de enchimento dos grãos é a R-5.4, a qual nível de enchimento está entre 75% a 100% dos grãos cheios. Logo após essa fase, vem a R-6, a qual se caracteriza pela maturação fisiológica, nesse estádio, segundo Balbinot Júnior, o produtor não corre mais riscos de perdas com pragas e doenças.

Do estádio R-6 até o R-8, o qual é o final, o grão estará pronto a ser colhido. Nessas fases a planta vai perdendo água e folhas – é o secamento. É o período no qual os produtores tem lançado mão de herbicidas para uniformizar a dessecagem. “No entanto, é importante salientar que essa prática só tem de ser feita em casos de extrema necessidade. Muitos produtores optam pela dessecagem para que todas as plantas cheguem no estádio de colheita igual. O complicado é se houver incidência de muitas chuvas logo após ter sido feita essa técnica. Como a planta será basicamente vagem e haste, há riscos de a vagem absorver muita água, aumentando a umidade do grão. Isso vai depreciar o valor do produto”, alerta o pesquisador da Embrapa Soja.

O cuidado com a dessecagem vem justamente num momento em que há previsões de chuvas na época de colheita, especialmente, no Estado do Paraná. É importante que o produtor avalie muito bem essa situação e só opte por esse procedimento quando for realmente necessário.

Entre as causas dessa desuniformidade de desenvolvimento das plantas está o próprio posicionamento das sementes quando semeadas. De acordo com Balbinot Júnior, a alocação das sementes em níveis distintos no solo (uma mais baixo que a outra), variações de umidade e fertilidade também podem influenciar nisso.

A chegada da hora da colheita tem de ser bem planejada. A melhor estratégia tem de ser baseada no tamanho de área cultivada, na quantidade de maquinários dispostos à operacionalização da colheita, sejam próprios ou alugados, e as previsões climáticas no decorrer das semanas. “O ideal é que quando chegar o ponto de colheita, que o produtor entre na lavoura o quanto antes para não perder grãos por causa de chuvas. Com a adoção do sistema de plantio direto (SPD), se por exemplo, chover na tarde do dia escolhido para a colheita. No outro dia, com grande parte da manhã ensolarada, a colheita poderá ser realizada na parte da tarde. O ideal é que o produtor faça sempre a averiguação das condições de solo”, aconselha.

A primeiríssima safra de segunda

Em segundo lugar em termos de volume – 41,44% da produção de grãos nacional –, o milho tem ganhado cada vez mais destaque, especialmente no mercado de exportação. E da safra de 2010/2011 para cá, a entressafra, ou a safra de inverno, já ultrapassa o volume da safra de verão do cereal. Na temporada de 2012/2013, são estimados pela Conab 41,2 milhões de t sobre os 34,7 milhões da safra verão.

Para José Carlos Cruz, fitotecnista e pesquisador sistemas de produção da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), a dobradinha de sucesso – soja verão e milho inverno – tem dado tão certo ao longo dos anos, que essa tem sido a razão pela qual a área de cultivo do cereal tem encolhido cada vez mais. “Estima-se que entre as cultivares de soja semeadas no País, 60% sejam precoces. Nisso a própria soja tem roubado a área do milho verão. Isso significa uma área maior para o milho de inverno”.

O importante é que o produtor não perca o prazo – por isso a necessidade de tirar a soja no tempo certo para entrar com o milho de segunda safra também no momento certo, ainda com solo preparado, e fertilizado, nitrogenado pela soja, e que consiga receber as últimas chuvas de março a abril. “Qual o segredo? Quando mais cedo mais o produtor entrar com o milho, mais chance de produzir, menor riscos de geadas e menor chance de déficit hídrico”, avalia Cruz.

À medida que o produtor vai se atrasando, igualmente se reduz a probabilidade de uma boa safra de inverno na cultura do milho. Isso, de certa forma, muitos produtores já tem traçado esse plano a partir do momento do início da semeadura da soja no mês de outubro.

Para melhores ganhos no campo, há tecnologias de todos os custos para a obtenção de resultados na colheita – há desde as mais caras, como uma semente de alto potencial, até as mais baratas, a simples informação de época de plantio adequado. “Para se ter uma ideia, não há custo algum na adoção da semeadura na época recomendada de plantio. O produtor que não o faz, perde dinheiro a toa. Há também cerca de 500 tipos de sementes que podem ser adquiridas no Brasil – o produtor deve usar a mais adequada à região dele, e deve seguir a densidade de plantio recomendada. Essas informações não tem custo. Se a quantidade que vai por hectare é de 50 mil, não se pode semear na mesma área, 60 mil, isso influenciar negativamente o resultado”, explica.

Outro quesito, está na correção do solo. Muitos produtores não tem feito a análise de suas respectivas áreas e por causa disso, estariam corrigindo problemas que nem existem, ou que estariam excedendo em adubação.

Outras tecnologias como sementes adequadas e certificadas, que expressem potencial genético, o tratamento de sementes, o manejo integrado de pragas e doenças, a adubação precisa, a adoção do plantio direto, ou mesmo a integração lavoura-pecuária são consideradas técnicas de grande valia para o crescimento da produção como um todo.

O conselho é que cada produtor busque o que for melhor – rentabilidade ou melhor custo de produção, ambas posturas são efetivamente corretas. Produtores maiores optam pela rentabilidade, não se importando se o custo chega se maior, nesse caso. Já um produtor familiar vai procurar desenvolver um trabalho no qual o custo de produção seja mais adequado. “Cada produtor tem de fazer suas contas. Para se ter uma ideia, há sementes de custam desde R$ 50 por hectare a R$ 500, seguramente uma cultivar transgênica. Cabe o produtor escolher qual a tecnologia que mais venha lhe proporcionar o resultado que ele espera”, conclui Cruz.

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