“2012 foi um ano bem apertado. Apesar do preço da arroba não cair muito, em comparação aos anos anteriores [se referindo a 2010 e 2011 quando o preço chegou à margem dos R$ 100], o que nos apertou foi o alto custo de produção”, conclui o pecuarista Nedson Rodrigues Pereira, presidente da Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Novilho Precoce.
Em sua propriedade, situada no município de Bandeirantes (MS), ele ao lado do irmão –, José Rodrigues Pereira – tocam um rebanho com seis mil cabeças e utiliza-se do sistema de confinamento para os bezerros desmamados serem engordados.
Com a prática, ele e os demais pecuaristas acabam melhorando sua remuneração, afinal o preço da arroba sobe em função da escassez de oferta de gado para o abate e isto serve também como tentativa para regular os preços. Mas, isso não aconteceu em 2012.
Somando o preço do bezerro, a mão de obra, o encarecimento do milho, em um contexto em que o farelo de soja já estava bastante elevado, o ano não agradou. “O preço da arroba não reagiu. Houve uma oferta de mais animais sendo abatidos e o consumo, por sua vez, se estabilizou. Para aqueles que se programaram, ainda houve certa rentabilidade”, diz Bruno Andrade, gerente executivo da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon). Na opinião dele, em 2013, os confinamentos ainda sofrerão com um custo elevado no primeiro semestre. “O consumo manterá estagnado, mas as exportações poderão ser melhores”, afirma. Ao menos dados da Associação Brasileira de Exportadores de Carne (Abiec) divulgados em dezembro apontam que as exportações somaram US$ 5,769 bilhões em 2012, ante a receita de US$ 5,375 bi de 2011. Em nota, a Abiec afirmou que o resultado poderia ter sido melhor, mas ficou um pouco abaixo do previsto inicialmente, de US$ 5,8 bi. “A conjuntura macroeconômica de recessão provocou uma ligeira diminuição no preço médio da carne exportada”, revelava a nota à imprensa.
Ao longo de 2012, fatores macroeconômicos foram responsáveis pelas maiores dificuldades enfrentadas pelo setor em 2012. Dentre eles, a persistência da crise na zona do Euro, a inflação e o ritmo lento da economia brasileira. A média do Indicador Esalq /BM&F Bovespa em 2012 (considerando-se as médias mensais), em termos reais (deflacionadas pelo IGP-DI de novembro de 2012) foi de R$ 97,93, a menor dos últimos três anos.
De acordo com o veterinário Leonardo Souza, sócio-diretor da Qualitas Agronegócios daqui pra frente: “Não haverá elevação de preços da arroba e tampouco, nas reduções de custos. Cada vez mais a pecuária será pressionada a aumentar a eficiência”, diz Souza. Ação que será necessária, uma vez que no mês de dezembro, a notícia do mal da “vaca louca” no Brasil – ainda que a doença não tenha se manifestado no País, trouxe ainda mais a frustração e insegurança para o setor.
O desce e sobe do frango
Se a crise abateu no pasto, quem dirá nas granjas. Para o presidente da União Brasileira de Avicultura, Francisco Turra, na melhor da hipótese há uma expectativa de que o setor cresça 3%, em volume e receita. “Já estamos consolidados e não vejo possibilidade de abrirmos novos mercados”, pontuou Turra, durante o mês de dezembro. Dados da entidade mostra que a produção nacional de carne de frango totalizou 12,6 milhões de toneladas no ano passado, retração de 3,1% sobre as 13 milhões de toneladas de 2011.
Na avaliação do veterinário e diretor executivo do Grupo Big Frango, Valter Bampi em 2012 a avicultura teve a maior crise de sua história, não só apenas pelo aumento dos insumos, mas pela falta de crédito, que somada ainda a uma oferta no mercado levou empresas do setor a passar por dificuldades. “Entretanto, 2013 chega com otimismo. Mesmo com a baixa oferta de frango já em janeiro, mês tradicionalmente de queda de preço, já tivemos um aumento do produto”.
Em 2012, os preços elevados dos insumos levaram muitos avicultores a reduziram o alojamento de pintainhos e foi verificado, até mesmo, o fechamento de alguns aviários, baixando significativamente a oferta. O animal vivo pago ao produtor chegou a R$ 3,00 o quilo em todas as regiões.
O suíno no exterior
No ano de 2012, Marcelo Lopes, presidente da associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), afirmava que aquele ano seria de boas notícias para o setor, principalmente, em relação à exportação. “A demanda de consumo interno segue aquecida e os preços pagos ao produtor também”, disse Lopes, em entrevista à Revista Rural, no final de 2011. Infelizmente, isso não ocorreu e a ABCS já busca algumas formas para amenizar a situação.
O mercado foi influenciado por dois fatores: elevação dos custos de produção no Brasil e no mundo e maior oferta doméstica de carne bovina. No segundo semestre, como resultado do fraco desempenho econômico da suinocultura, a oferta de animais para abate diminuiu, o que proporcionou recuperação dos preços e, mais no final do ano, também do poder de compra frente aos principais insumos da cadeia.
Na opinião de Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, 2013 será o ano de otimismo, uma vez que segundo Neto, poderemos até manter o crescimento de 12,60% na exportação, em volume, mas os preços médios de exportação deverão ser superiores. “Até porque esperamos ter acesso a novos mercados externos que pagam mais, como o Japão. E aumentar as vendas para a China”. Entretanto, ele alerta: “Neste ano, continuará a pressão sobre os custos de produção, uma vez que os estoques de grãos permanecerão baixos”.
Reajuste no cocho
A indústria de alimentação animal no Brasil deve fechar o ano de 2012 com produção de 62 milhões de toneladas de ração e dois milhões de toneladas de sal mineral. Esse foi o saldo anunciado, durante almoço promovido pelo Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), no mês de dezembro, em São Paulo. Em 2011, a indústria de alimentação animal no Brasil produziu 64,5 milhões de toneladas de rações e mais de 2,35 milhões de toneladas de sal mineral.
O alto custo do farelo de soja e do milho, os baixos preços pagos aos produtores e a desaceleração nas exportações das carnes foram os fatores principais pela queda e apontados por Ariovaldo Zani, executivo do Sindirações. “Para 2013, as perspectiva não são boas. O preço milho continuará em alta e alguns fatores podem agravar a situação, como a seca nos Estados Unidos”.
Para Maurício Nacif, presidente da entidade, uma crise foi instaurada, em especial na avicultura e na suinocultura. “O produtor não conseguiu fazer os reajustes necessários e houve perda da nossa competitividade”, disse durante a apresentação. Juntas, a indústria de frangos de corte e suínos demanda mais de 70% das rações produzidas no País e são formuladas com quase 90% da mistura de milho e farelo de soja.