Há um século, famílias holandesas chegaram ao País em busca de oportunidade de trabalho, após a grande devastação causada pela 2ª Guerra Mundial. Algumas delas passaram a explorar pequenas propriedades no Sul do País já outras se espalharam por outras regiões. Não se sabe, ao certo, o número de holandeses que entraram no Brasil. No entanto, seu legado é mais do que visível em diversas áreas de atividades econômica, a começar pelo agronegócio. Fazem parte da herança deixada pelos primeiros imigrantes, contribuições como o conhecimento de uma produção tecnificada, o plantio direto, a pecuária leiteira de alta linhagem e, por último, o cultivo de flores.
Mas exatamente em Holambra, a 140 quilômetros da capital paulista, houve a primeira tentativa dos holandeses para implantar na economia daquela região a pecuária leiteira, em especial a raça holandesa, que não se adaptou ao novo clima, menos ainda com o terreno. Desde então, entre frutas e flores as famílias se organizaram em um processo de desenvolvimento da cidade, que ainda nesse tempo não passava de uma grande fazenda.
Hoje, o município é um dos destinos mais procurados pelos apaixonados por flores e plantas ornamentais. Holambra, que surgiu da junção das palavras Holanda (HOL), América (AM) e Brasil (BRA), abriga a Expoflora, a maior exposição de flores da América Latina, que acontece anualmente, sempre durante o mês de setembro. Por ano, o evento atrai 300 mil visitantes. Além de receber um grande público, a Expoflora é considerada uma vitrine para os produtores da cidade, que aproveitam o evento para lançamento de novas espécies. Entre as novidades no segmento de paisagismo e jardinagem, deste ano foram a planta-ovo, o lírio dobrado sem pólen que evita alergias, além de três novas variedades de orquídeas, como a “supermini”, cujas flores não têm mais de três centímetros de largura.
Embora conte apenas com 10 mil habitantes, o município, considerado “a cidade das flores”, é responsável por cerca de 40% do comércio nacional de flores e plantas ornamentais. “É relevante ressaltar que nós [mercado brasileiro] neste setor crescemos até mais que a China. O mercado interno vem crescendo em média de 12 a 15%, graças à economia aquecida. Neste ano, há expectativa que o mercado movimente R$ 5 bilhões. Em 2011 foram R$ 4,3 bi, no ano anterior chegou a R$ 3,8 bilhões”, afirma Kees Schoenmaker, do Grupo Terra Viva e presidente do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor).
A relação de Holambra com as flores sempre foi muito intensa. Os produtores da região desenvolveram técnicas especiais de plantio e cultivo, como produção em estufas trazidas da Holanda, garantindo níveis de qualidade altíssimos. “Os resultados que alcançamos foram, sem dúvida, as melhores variedades, por meio de investimentos pesados e tecnologia na parte produtiva”, diz Schoenmaker.
Com a força desses imigrantes holandeses, a floricultura brasileira firmou-se como um importante setor da economia nacional, principalmente, a partir de 1988, quando a Cooperativa Agroindustrial Holambra iniciou um arrojado programa de reestruturação visando abastecer o mercado externo. Na época, a Holanda, maior produtor mundial de flores, vinha enfrentando questionamentos de ambientalistas da Alemanha, e ajudou os conterrâneos no Brasil a se consolidar neste mercado. Assim, o Veiling Holambra, como hoje é conhecida a cooperativa, se transformou num ponto de comercialização e tornou-se uma das maiores centrais de atacado do País, com compras de milhares de flores por meio de leilões eletrônicos.
Até 2008, o Brasil ainda exportava flores de corte. Há três anos, a cooperativa parou de vender para outros países, um reflexo da crise econômica na Europa e nos Estados Unidos, e também da valorização do real. Mas em compensação os brasileiros passaram a consumir mais flores. “Com o câmbio em baixa, já não compensa mais, além de que temos um mercado interno em franca expansão”, afirma.
Antigamente, lembra ele, as flores só se compravam nas floriculturas. Hoje, elas podem ser encontradas em vários pontos de vendas, que vai desde um simples mercado, passando por grande rede de varejo e até via Internet.
No País, a elevação da renda da população em geral, o apelo ambiental com práticas de conservação do meio ambiente também foram fatores que evidenciaram o consumo de flores, “que é ainda muito baixo em relação aos países desenvolvidos”, lembra Schoenmaker, que ao lado da família foi um dos pioneiros na produção de flores e plantas ornamentais na região.
Na bagagem, a família (casal holandês Klaas e Gemma Schoenmaker, pais de Kees) chegou ao Brasil em 1959, em companhia de seus 11 filhos. Ela trouxe sementes de gladíolos, origem das primeiras mudas de plantas, que foram semeadas nos 50 hectares (ha) de terras que compraram. Neste longo tempo, suas terras expandiram para 12 mil ha nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Ceará e, até no exterior. Assim como os Schoenmaker outras famílias também fizeram o mesmo.
Brasil sai à frente
Com toda a infraestrutura, o cultivo de flores e plantas veio para ficar e garantir a certezas de comercialização de produtores. O Brasil, segundo Schoenmaker, é o maior produtor de mudas, crisântemos, begônias, bulbos e Amarílis. A produção chega a 1,2 bilhões de flores e a geração de mais de 200 mil empregos diretos e indiretos. “Hoje, o mercado não está aberto para amadores. Há também uma necessidade de ser associar a um grupo ou a uma cooperativa. Aqueles que atuaram sozinhos encontraram dificuldades. Vimos que até grandes empresas estão se associando às grandes cooperativas para atuarem de forma mais forte neste setor”, aponta Schoenmaker.
De acordo com o produtor de rosas, Benny Van Rooijen, porta voz dos produtores de Holambra, durante a Expoflora, é necessário que o mercado sempre disponha de novidades. “O desafio do produtor é cultivar novas espécie para serem aceita no mercado consumidor”, diz Van Rooijen, descendente das primeiras famílias que chegaram, em Holambra. Hoje, segundo ele, são 300 produtores só no município. “Atualmente, o foco da produção também está na centralizada na Serra da Mantiqueira, nos municípios de Munhoz, Minas Gerais, Atibaia e Bragança Paulista, São Paulo. Há um grande volume sendo produzido também no Ceará”, diz.
Para Van Rooijen, o mercado de Holambra durante esses anos se manteve graças a Cooperativa da Veeling. “Há muita transparência na venda dos produtos. Além disso, ficamos atualizados com que ocorre no mercado internacional e, quaisquer fatores, podemos nos adequar às novas estratégicas”, afirma.
Outro produtor que trilhou o caminho das flores foi Victor Schiavon Villa Nova, um dos proprietários do Grupo Swart. Ao contrário das demais famílias, o Grupo Swart, por exemplo, iniciou a cultura há 22 anos, com o cultivo de kalanchoe. Em 1992 chegaram às rosas. “Hoje, nossa produção ganhou fronteiras além de Holambra, também cultivamos rosas, no sul de Minas Gerais, em Andradas, e nos últimos anos, na Serra da Ibiapaba, no Ceará”.
Só no cultivo de kalanchoe há uma área total de quatro hectares, seis são destinados ao cultivo das rosas. “Só em Andradas há 15 hectares”, diz. “Existem uma intenção de aumento de área, porém, tudo depende do mercado, se manter firme”, afirma.
Ao menos em datas comemorativas, como Dia das Mães, Dia dos Namorados, Finados e já na Expoflora há um aumento notável no crescimento das vendas. No ano passado, o grupo trouxe ao evento uma variedade de Kalanchoe batizada de “Evita Perón”. “Após a atração ser conhecida no mercado temos que manter o grande volume para a comercialização”, diz.
Com a demanda de produzir em grande quantidade, a família investiu em tecnologia nas instalações e na mão de obra. Hoje, no Grupo são 230 funcionários que cuidam de toda a estrutura. Lá, todas as estufas são automatizadas. As flores recebem temperatura, água e fertilizantes, na medida certa. “Sem investimento, sem know-how é impossível sobreviver neste mercado”, conta.
Nos últimos dez anos, registra-se um significativo crescimento da produção de flores na maioria dos Estados brasileiros, com destaque para os da Região Nordeste. Produzir flores no Brasil ainda é caro. Além do investimento em estufas climatizadas, por volta de R$ 350 mil, para ter o direito de comercializar as variedades, desenvolvidas por empresas de pesquisa europeias, o produtor rural desembolsa US$ 1/ planta. No entanto, o bom mercado. “A partir do momento que consumidor conhece um pouco mais sobre o cultivo, garanto a você que ele passa a valorizar mais o produto, o produtor e o valor pago”, explica Schoenmaker. E como se diz na língua das primeiras famílias holandesas: “Wie koopt een bloem kopen sentiment”. No bom português: quem compra uma flor compra um sentimento.
Dados do Setor:
No ano de 2010 o faturamento foi de R$ 3,8 bilhões;
No ano de 2011 o faturamento foi de R$ 4,3 bilhões
Desde 2006 o segmento de flores tem registrado altas de 8% a 12% em volume e de 15% a 17% em valor.
Cerca de 9 mil produtores;
Área Cultivada: cerca de 12,0 mil hectares;
Tamanho médio da propriedade: 1,5 hectares;
Mão de Obra contratada: 81,3%;
Mão de Obra Familiar: 18,7%;