Agricultura

Café: “pretinho” de origem

Programa governamental auxilia o produtor de café a ter sua lavoura melhorada. Além disso, cada vez mais eleva a qualidade do produto e coloca Minas no cenário do mercado nacional e internacional.

O Estado de Minas Gerais é o maior produtor de café no Brasil com mais de um milhão de hectares plantados. Atualmente, o Estado é responsável por aproximadamente 50% da safra brasileira, segundo dados da Secretaria de Agricultura de Minas.

O café é o principal produto de exportação do agronegócio mineiro e é vendido para mais de 60 países do mundo. Com isso, foi lançado em 2006, o Certifica Minas Café, que é um programa do governo estadual, executado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), instituições vinculadas à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa). Ele tem por objetivo principal possibilitar o crescimento da participação da produção nos mercados nacional e internacional.

O assessor especial de café da Seapa, Niwton Castro Moraes, explica que em suma, o Certifica contribui também para a superação das barreiras fitossanitárias existentes, graças ao trabalho de monitoramento da produção agropecuária e a certificação da qualidade dos produtos mineiros. Além disso, o programa atesta o manejo ambiental, social e econômico das propriedades que estão certificadas. “Essas práticas têm sido uma das exigências de um mercado consumidor internacional, que a cada ano cresce”, diz.

Vale lembrar que em 2011, o Brasil bateu recorde na exportação do produto nacional. Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) apontam que o industrializado, por exemplo, teve as vendas externas do maior exportador e produtor global, atingindo 33,45 milhões de sacas de 60 quilos. Além disso, obteve o maior volume da história, com alta de 1,3% em relação a 2010. Já as exportações de café verde fecharam com alta de 1,2%, para um recorde de 30,09 milhões de sacas. Com preços maiores no mercado internacional, a receita com as exportações de café somou um recorde de US$ 8,7 bilhões em 2011, alta de 53,6%. Entretanto, os embarques do café tipo arábica caíram 4% em relação a dois anos atrás, para 27,42 milhões de sacas.

Durante o último mês de outubro, uma reunião com diversas associações, empresas e instituições ligadas à produção de café brasileiro expôs as expectativas do setor até 2015. Segundo Moraes, que também participou do evento, a expectativa é que os 8% de cafés certificados no mundo aumente em até 25 % de sua totalidade. Ele confirma que, se depender do interesse dos produtores a crescente demanda já é certa. Uma vez que muitos têm descoberto que se forem introduzidas nas lavouras as boas práticas recomendadas pelos técnicos, haverá resultados de safras e qualidade maiores, e, consequentemente, mais valorizadas. Dados do Seapa revelam que há propriedades certificadas em 211 municípios mineiros. As incluídas no programa estão localizadas em microrregiões tradicionais de café como a Zona da Mata, Sul de Minas e agora também na Chapada de Minas com a inclusão de Capelinha, além do Norte, com propriedades em Rio Pardo e Taiobeiras.

De acordo com o Moraes, em 2008 foram 383 propriedades certificadas. No ano posterior foram 1.026, em 2010 contabilizaram 1.230. E em 2011, totalizaram 1.431 propriedades. “A meta para 2012 é de que haja um crescimento de 13% no volume de adesões ao programa. Em Minas Gerais temos mais de 100 mil produtores. O universo dessa certificação por aqui chega apenas a 2%, o que nos mostra que falta muito”.

O trabalho do Certifica Minas, que já existe há seis anos, tem proporcinonado mudanças na agricultura da região. Por exemplo, o produtor Mario Dornelles de Alvarenga diz que a propriedade dele, a Fazenda Olhos d’Água que fica na cidade de Perdões, a 200 km de Belo Horizonte, foi uma das primeiras a receber o certificado do programa. Ele conta que o local tem 152 hectares de plantio e que o Certifica Minas foi muito importante. “Recebemos o certificado em 2009. Inicialmente não havia muitas experiências em relação à certificação, mas com o passar do tempo fomos sendo reconhecidos. Isso ocorreu porque o programa tem as mesmas exigências das leis internacionais”.

Para Alvarenga, toda empresa ou produtor deve cumprir os tópicos da legislação brasileira, que segundo ele é melhor do que a internacional. “O Certifica dá ao produtor uma série de regras (bom controle fitossanitário, colheita eficiente com o máximo de grãos maduros, ao processar os grãos fazer a separação entre os maduros e os secos, entre outros) que se praticada recaem no bom café, por isso é muito importante ter um programa que ajude na qualidade do grão”, diz. O produtor declara que na propriedade dele, a principal ajuda foi em buscar um norteamento para uma produção de qualidade. Por fim, Alvarenga diz que o hoje o mundo reconhece o Brasil e sabe que é o melhor que existe. “Nós temos no Brasil um volume de grãos muito grande, que é maior que o qualquer país lá fora. Com isso, aconselho todo produtor cafeeiro de Minas a se certificar, pois além de ser uma maneira de mostrar que o nosso café é de muita qualidade e que seguimos todas as normas que são necessárias pra uma boa produção, podemos brigar igualmente com os outros países”.

Moraes diz que não importa o porte da propriedade e quais as dificuldades pelas quais elas passam, todas têm condições, após um acompanhamento técnico de conseguir a certificação. Segundo ele o programa tem adesão voluntária e muitos produtores manifestam interesse em se inscrever. “Outros Estados brasileiros também se mostram interessados em realizar um trabalho similar ao Certifica Minas”, conclui.

Valorizar a produção e os produtores do Estado é colocar o café mineiro em um lugar de destaque no mercado mundial, criando novas oportunidades de negócio. Estes também já são alguns dos objetivos alcançados pelo programa. O coordenador técnico estadual da Emater-MG, Julian Silva Carvalho diz que o programa só tem dado certo porque os órgãos responsáveis fazem um trabalho em comunidade e com muita eficiência. “O Certifica Minas é conduzido pela gestão da Seapa. Já a Emater tem o papel de auxiliar o produtor na adequação da sua propriedade as normas do programa. E, o IMA faz as auditorias internas e é responsável pelo sistema de controle interno.”

Carvalho aponta ainda alguns benefícios para os produtores certificados. Entre eles estão a gestão e organização da base produtiva (a propriedade como negócio/empresa), a maior competitividade nos mercados, as melhorias ambientais e sociais, e o acompanhamento técnico diferenciado. Já para os consumidores os benefícios são os de poder ter um alimento mais saudável e seguro, com rastreabilidade, que tenha sustentabilidade na produção e preservação ambiental. “Com estes pontos cruciais e com as boas práticas de produção, com responsabilidade ambiental, social e de sustentabilidade econômica, visamos promover a adequação das propriedades e a profissionalização do cafeicultor mineiro. Além disso, ajuda sendo um meio de trabalhar na atividade cafeeira de forma organizada, profissional, sem desperdícios e com técnicas mais adequadas e eficientes”, declara.

Se adequando ao programa

Para participar do Certifica Minas Café o produtor deve procurar o escritório da Emater-MG mais próximo e, principalmente, ter o processo produtivo enquadrado nas leis brasileiras trabalhistas e ambientais, além de exercer boas práticas de gestão e sempre focar na melhoria da qualidade de seu café.

Segundo Vanusia Nogueira, executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês), o processo de certificação é realizado conforme alguns passos que são feitos com os produtores em suas plantações. “Primeiramente, as orientações para adequações das propriedades são feitas pela Emater-MG, enquanto as auditorias preliminares para checar as adequações de acordo com os padrões internacionais são realizadas pelo IMA. Concluindo o processo, uma certificadora de reconhecimento internacional faz uma auditoria final e concede a certificação às propriedades aprovadas, sendo esta uma garantia para o consumidor de que as fazendas adotem boas práticas agrícolas em todos os estágios da produção, respeitando normas ambientais e trabalhistas”, explica.

Já em relação a 2013, ela diz que no que tange à certificação, o objetivo é aumentar o número de propriedades que integram o programa e o volume de café proveniente de propriedades certificadas. “A respeito do café no Estado de Minas Gerais no ano que vem, teremos um ano de safra baixa dentro do ciclo bienal característico das lavouras da variedade arábica. E, ainda é cedo para realizarmos projeções a respeito do tamanho da produção e, principalmente, qual a qualidade que será alcançada”. Vanusia comenta que é necessário esperar os períodos de florada, para ver se irão vingar, bem como observar qual será o comportamento do clima e se adversidades climáticas ocorrerão. Diferentemente da executiva, Carvalho crava um número de propriedades a serem certificadas no próximo ano. “Temos uma projeção em torno de 1.600 propriedades certificadas para 2013”, afirma.

Vanusia comenta ainda que o Brasil não possui uma política de definição de culturas por unidade da federação. “Minas Gerais, por considerar relevante manter esta cultura e, consequentemente, sua importância para os mineiros e para as divisas estaduais, emprega grandes esforços para apoiar o café”, completa.

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