Parcerias reforçam o estudo da cana que promete renovar e revolucionar o setor canavieiro.
Há pouco menos de três meses, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), empresa de pesquisa em cana-de-açúcar, e a Embrapa assinaram um acordo de cooperação para o desenvolvimento de pesquisas no setor canavieiro, visando principalmente à produção de um etanol de segunda geração, ou melhor, o famoso 2G, um combustível produzido a partir de materiais que contenham celulose, como o resultado do processamento da biomassa da cana: o bagaço e a palha.
Além das pesquisas sobre melhoramento genético e biotecnologia agrícola, que tem com o intuito de descobrir e validar genes da cana-de-açúcar, que possam ser utilizados em programas de melhoramento da cultura, elas dividirão estudos para desenvolver uma enzima nacional (biotecnologia industrial). “As enzimas são a peça-chave da fabricação de um etanol celulósico economicamente viável. Elas respondem por cerca de metade do custo de produção do biocombustível e são responsáveis por ‘quebrar’ a celulose contida no bagaço da cana, revelando os açúcares contidos dentro dele”, explica a pesquisadora da Embrapa Agroenergia, Léia Fávaro.
As instituições de pesquisa também devem trabalhar em conjunto na avaliação de resíduos de biomassa em processos de pirólise (que permitem transformar matérias-primas como palha e bagaço de cana-de-açúcar em biocombustíveis). Técnica essa que dá origem a produtos energéticos com o bio-óleo. “O acordo não é somente com a Embrapa Agroenergia, mas sim outras unidades envolvidas na produção do setor de sucroenergia. São pesquisas que envolvem desde o sorgo para a produção de etanol, a fixação de energia, a obteve de novos microorganismos e a levedura para a obtenção de etanol 2G”, diz a pesquisadora.
Segundo ela, essa tecnologia deverá permitir dobrar a quantidade de etanol produzida por unidade, em relação ao etanol de 1ª geração, sem necessidade de expandir a área plantada. A tecnologia está fundamentada no moderno conceito do aproveitamento de bagaço e palha, que resultará na implantação definitiva da colheita mecanizada, sem queima da palha da cana, e na utilização de caldeiras de alto desempenho.
O Projeto Biomassa visa a aumentar a quantidade de biomassa para gerar energia para o próprio processo, para a produção do etanol de 2ª. geração e também para vendê-la. Ele utiliza parte da palha retirada do campo, que antes era queimada, para gerar energia.
Manoel Teixeira Souza Júnior, chefe-geral da Unidade Embrapa Agroenergia, diz que as pesquisas iniciadas poderão levar em média de quatro a cinco anos para chegar aos campos, sendo que um dos primeiros projetos. “Na área de melhoramento genético da cana, a parceria terá à disposição um mapeamento feito pela Embrapa de sete milhões de hectares de novas áreas para cultivo de cana no país”, reforça Souza. “A Embrapa tem um time de experts nessa área e um laboratório com tecnologia de ponta. Esse suporte será fundamental para a nova parceria com o CTC, que é um centro que comporta 60% das indústrias do setor sucroalcooleiro”, diz.
Souza lembra também que as parcerias público-privadas são fundamentais para ajudar o Brasil a superar os atuais problemas do sucroalcooleiro e a consolidar a força da energia a partir da biomassa na matriz energética brasileira. “O mercado sucroalcooleiro está crescendo e a demanda por pesquisa é intensa”, diz. Atualmente, aproximadamente metade da energia produzida no País vem de fontes renováveis, sendo que 18% são geradas a partir da cana-de-açúcar.
No CTC, os trabalhos para o desenvolvimento do etanol a partir de biomassa tiveram início em 2006, sendo a técnica escolhida a de hidrólise enzimática. O projeto, inovador, será totalmente integrado aos processos de geração de etanol já existentes nas usinas que operam no Brasil.
Agora, a produção do chamado etanol de segunda geração deve sair da escala experimental e partir finalmente para volumes maiores. Para cumprir a empreitada em um espaço mais curto de tempo, o CTC busca captar os recursos com o BNDES. “Valores ainda que não revelados, pois está em um pacote de pesquisas que envolvem mais 20 projetos”, diz Jorge Luis Donzelli Coordenador de P&D do Programa de Agronomia do CTC.
“A intenção com a nova tecnologia é dobrar a produção, ou seja, o que se fabrica com sete mil litros por hectares poderá atingir 14 mil litros. É possível, utilizando a biomassa”, frisa. “Além disso visamos trazer muitos benefícios para as empresas sócias do CTC em atendê-las no aumento da produtividade nessa área”, diz.
De acordo com ele, a perspectiva é que o país comece a usar cada vez mais também a palha e o bagaço da cana para produzir energia. “Buscamos juntos com essa parceria realizar uma sinergia”, afirma. “Para antecipar o mercado, até o final do ano novas variedades já estarão disponíveis, resultado dessas parcerias”, conta.
Com sede em Piracicaba, o CTC é o maior centro de tecnologia de cana-de-açúcar do Brasil, responsável por pesquisas inovadoras em todos os aspectos da cadeia produtiva da cana, do melhoramento genético convencional à transgenia e etanol de segunda geração. Na outra ponta, a Embrapa é um dos mais importantes órgãos de pesquisa vinculados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com de 42 unidades de pesquisa e cinco de serviços em quase todos os Estados brasileiros.