Agricultura

Ferrugem: encarece a lavoura

Desde quando se instalou no Brasil, mais de US$ 158 bilhões já foram gastos com a ferrugem. Uma das saídas é o produtor se atentar a adoção do vazio sanitário em suas lavouras.

Entra safra, sai safra e a preocupação com a ferrugem asiática sempre fica martelando a cabeça dos produtores de soja no País. Segundo dados do Consórcio Antiferrugem (formado por instituições representantes de diversos segmentos da cadeia produtiva da soja como fundações, universidades, institutos de pesquisa, entidades representantes de fabricantes de insumos e cooperativas de produtores), desde o primeiro foco da doença registrado no País, foram gastos aproximadamente US$ 158,15 bilhões entre custo médio dos produtos e da operação de aplicação, somados à perda em grãos e arrecadação.

Este número é considerado bastante expressivo e que demonstra o quão difícil é combater este fungo que se espalhou praticamente em todos os Estados produtores de soja e que são afetados de maneira contundente, variando sua incidência a cada safra. Entre os locais mais atingidos em maior escala encontram-se o Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Bahia.

O pesquisador da Embrapa Soja e membro do Consórcio Antiferrugem, Rafael Moreira Soares, revela que para tentar um maior combate a esta doença foi criado o vazio sanitário, ou seja, um período em que é proibido ter soja no campo durante a entressafra. Ele explica que o fungo precisa da planta viva pra se desenvolver, sendo assim, serve para diminuir e matá-lo. “Infelizmente, muitos agricultores não seguem esta estratégia e em algumas regiões há falha de fiscalização. Com isso, neste ano, principalmente no Estado de Mato Grosso, já se tem muita soja no campo na entressafra infectada pela ferrugem”. Para ele o bom funcionamento do vazio não depende só da fiscalização governamental, que deve ser feita, mas também do comprometimento dos proprietários em fazer o controle.

A fiscalização do vazio cabe aos governos estaduais, que enviam técnicos pelas lavouras de suas regiões. Segundo Soares, não existe nenhum Estado que tenha um corpo de fiscalização técnico pra cobrir 100% das áreas. Em relação às punições, em casos de descumprimento da medida de controle, o produtor primeiro leva um aviso e caso haja a persistência do erro, há a punição na propriedade. “Cada Estado tem uma legislação própria, ou seja, o valor da multa varia. Nota-se que neste ano, em Mato Grosso e no Paraná têm ocorrido bastantes punições”, declarou.

Com o início da safra 2012/2013, o especialista faz um alerta para os cuidados com a doença e uma previsão para o período. “Estima-se que seja uma safra preocupante em relação à ferrugem, pois ela sobreviveu à entressafra”, relata. No Rio Grande do Sul, por exemplo, não existe o vazio sanitário, pois lá o inverno é muito rigoroso e é o suficiente para matar o fungo causador da ferrugem. No Paraná, a geada pode também dar conta, mas em anos mais amenos como tem sido este, o fungo pode sobreviver e prejudicar a produção. Ainda segundo o pesquisador, nas regiões mais secas, em geral, o agente patológico não sobrevive, pois o calor mata a planta da soja. “Mas, como neste ano choveu um pouco mais do que esperado por lá, a ferrugem também sobreviveu”, pondera. “Isso tudo serve de alerta para que os produtores fiquem de olho e sempre controlem suas propriedades”, declarou Soares.

A expectativa é que este ano seja um bom ano para a lavoura. Isso quer dizer também um ano bom para o fungo. De acordo com Soares, é muito complicado lidar com a ferrugem, pois se há bastante chuva, que é boa para a soja, há também as condições ideais para o desenvolvimento da doença, em função do fungo gostar de umidade e chuva abundante. “As previsões deste ano em relação ao fenômeno El Niño são boas para a soja, só que são ruins ao mesmo tempo porque vai acabar ajudando a aumentar a fonte de inóculo”, explicou.

Soares comentou que a nova cultivar da Embrapa tem resistência à ferrugem e foi adaptada as diferentes regiões, devidos ás suas necessidades. “Estamos trabalhando e iremos lançar novas cultivares, talvez em dois ou três anos. A soja é diferente em cada região do Brasil, pois o tamanho varia e nossas cultivares seguem isso para atender à todos”.

Controlando a ferrugem!

Nos últimos anos, o segmento de fungicidas tem enfrentado diversos desafios para auxiliar o produtor no manejo das doenças que atacam as lavouras, principalmente da ferrugem asiática que evolui cada vez mais e tem se tornado resistente aos produtos disponíveis no mercado. Por isto, a descoberta de novas moléculas é essencial para o controle da doença.

Para se livrar ou pelo menos diminui-lá na lavoura, quanto às estratégias de controle, é necessário iniciar na entressafra o manejo da cultivar da soja e isso varia de região para região. Caso haja a possibilidade da germinação voluntárias de soja durante a entressafra, as mesmas devem ser dessecadas ou eliminadas mecanicamente. “Atualmente o melhor manejo é o controle químico, com aplicação de fungicidas. Porém, antes da aplicação é preciso fazer o monitoramento da lavoura para procurar a presença da ferrugem, assim, quando detectado, pode-se aplicar o produto químico com mais eficiência e com isso, terá o retorno mais rápido possível. A aplicação preventiva do fungicida é recomendada a partir do florescimento da soja. Por fim, a recomendação é plantar mais cedo cultivares, pois isso ajuda na aplicação”, comenta Soares sobre os métodos preventivos à ferrugem.

Hoje em dia, é comum encontrar em propriedades, pulverizadores mal regulados, o que não ajuda o produtor e só beneficia o fungo causador da doença. A pulverização faz parte da tecnologia que está à disposição dos donos das lavouras para o combate. Para o gerente de Marketing de Cultivos Centro Norte Soja e Feijão da Basf, Nilson Caldas a tecnologia é imprescindível para que não haja a perda da lavoura e principalmente na busca de melhores resultados de produtividade.

Caldas diz que a empresa vem se pautando para atender os produtores em relação à tecnologia com soluções para agricultura, oferecendo serviços no que se refere à proteção de cultivos e rentabilidade das lavouras. “O objetivo da companhia é que seus clientes possam produzir mais e melhor, sem necessariamente aumentar suas áreas plantadas. Primamos por todo este esforço para estar cada vez mais próximo do produtor, auxiliando-o a produzir de forma sustentável e tendo como consequência uma melhor rentabilidade”, declarou.

Em 2010, a empresa lançou o Sistema AgCelence Soja, que é baseado em três produtos dos quais o primeiro tem como princípio ativo fipronil + piraclostrobina + metil tiofanato, o segundo piraclostrobina, e o terceiro, piraclostrobina + epoxiconazol. Além do controle fitossanitário, esse sistema proporciona relação de transformação da água, luz e nutrientes em energia e grãos. Os estudos realizados a campo apontam que esse modelo pode proporcionar um aumento de até 5% na produtividade ou algo em torno de três sacas a mais por hectare, caso todos os procedimentos sejam seguidos corretamente. Além disso, o Sistema AgCelence Soja combina práticas desde a semeadura até a colheita, pois na fase intermediária já é possível verificar que as plantas estão mais verdes e com mais folhas e galhos. “Na terceira etapa é visível o nível de sanidade, permitindo a manutenção da área foliar e o número maior de vagens”, conta Caldas.

Para Everson Zin, gerente de Estratégia de Marketing de Novos Produtos da Bayer CropScience, nas últimas décadas, o Brasil vem tendo destaque no cenário mundial com o desenvolvimento de novas tecnologias para o combate das doenças que atingem as lavouras. “O País já possui excelentes ferramentas no manejo da ferrugem, com variedades adaptadas para todas as regiões produtoras, pesquisas abrangentes, que resultam em maior conhecimento da doença aos pesquisadores e agricultores, além de fungicidas adequados”. Ele conta que a empresa tem investido em pesquisas que resultaram na descoberta de uma alternativa de fungicida para o sojicultor do qual o princípio ativo é baseado em trifloxistrobina + protioconazol.

Além disso, a Bayer CropScience, desde a safra 2005/2006, possui o programa Base Line, que trabalha no monitoramento da sensibilidade da ferrugem aos fungicidas comerciais de diversos grupos químicos por meio de metodologia desenvolvida por pesquisadores do Centro de Pesquisa e Inovação Bayer CropScience no Brasil, em conjunto com especialistas do Instituto de Fungicidas da empresa em Monheim, na Alemanha, sendo reconhecida e adotada pelo Comitê Internacional de Ação de Resistência a Fungicidas (FRAC, sigla em inglês).

Não ficando de fora, a Syngenta com seu principal produto do portfólio de fungicidas que tem como princípio ativo a azoxistrobina + ciproconazol, realizou durante o mês de setembro diversas atividades destinadas aos produtores, consultores e distribuidores, com o intuito de alertá-los sobre a ferrugem e como controlá-la. O gerente de Fungicidas do Brasil da empresa, Léo Zappe, conta que a empresa desenvolve o sistema Syntinela, que são pequenas parcelas de lavouras de soja, plantadas um pouco mais cedo que as áreas comerciais, e que serviam para identificar os primeiros focos da doença nas diferentes regiões produtoras do Brasil, alertando os produtores da presença do fungo na região e garantindo que as medidas de controle fossem adotadas no momento correto. “A Syngenta tem pesquisado e desenvolvido variedades mais tolerantes à ferrugem e novos fungicidas mais eficientes para o controle do fungo causador dessa doença. Espera-se que algumas dessas variedades e um desses novos fungicidas logo estejam disponíveis para o produtor”, declarou Zappe.

O principal método de controle é o controle químico com a utilização de misturas prontas de estrobilurinas aliado aos triazóis, segundo o representante da multinacional. “Percebemos que, quando as aplicações são feitas com a doença instalada (curativa) ou não são realizadas nos intervalos recomendados pelos fabricantes, não há um controle efetivo e o número de aplicações é aumentado. Fungicidas eficientes, aplicados preventivamente, e de acordo com as recomendações do fabricante quanto ao uso de adjuvante, intervalo de aplicação, ainda são as principais ferramentas de controle, para evitar que a doença adquira proporções epidêmicas sérias na soja. Mas, também é importante que sejam tomadas medidas integradas de controle, como por exemplo, entre outras, variedades mais tolerantes à ferrugem, eliminação de plantas hospedeiras (soja guaxa) e que principalmente, o respeito ao vazio sanitário”.

Do Japão ao Brasil

Com origem no Japão, no ano de 1902, a ferrugem é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi e atrapalha a produção da soja, uma vez que ela reduz a produtividade da plantação através da desfolha precoce que irá ocasionar uma redução na produção de grãos. Os sintomas causados pela ferrugem começam nas folhas inferiores da planta e são caracterizados por minúsculos pontos mais escuros do que o tecido sadio da folha, com coloração de esverdeada a cinza-esverdeada. Essas lesões provenientes da fase inicial da infecção são muito difíceis de ver a olho nu, sendo necessário posicionar a folha contra um fundo claro ou então com a utilização de uma lupa. Correspondente aos minúsculos pontos iniciais observa-se, no verso da folha, a formação de estruturas de reprodução do fungo, que se apresentam como pequenas saliências na lesão. A observação das estruturas é a principal característica que permite a distinção entre a ferrugem da soja e outras doenças com outros sintomas semelhantes, como o crestamento bacteriano, a mancha parda e a pústula bacteriana. As lesões da ferrugem tendem para o formato angular, podendo aparecer nos pecíolos, vagens e caules. Aqui no Brasil, a ferrugem asiática foi vista pela primeira vez na safra 2001/2002.

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