Segmento cresce cada vez mais no Brasil e projeções deixam produtores com grandes expectativas para o futuro.
O mercado das seringueiras vem a cada dia mais conquistando o Brasil e se tornando fonte de renda para diversos heveicultores. A origem deste ciclo da borracha iniciou-se na região Amazônica, de onde a seringueira é nativa. Logo após vimos os clones das mesmas surgindo na Ásia e sendo trazidas novamente para o Brasil no final da década de 50, sendo distribuídas por algumas regiões brasileiras. A partir daí, as seringueiras se adaptaram melhor ao clima e ao solo da região noroeste paulista, onde hoje representa 55% de produção de borracha natural do país.
Mas, os outros Estados vêm mostrando força neste setor e com projeções animadoras num curto espaço de tempo. Por falar em projeções, a nacional mostra que a tendência até 2020 é de que o Brasil possa produzir e consumir mais de 600 mil toneladas de borracha, número este consideravelmente maior que as 370 mil toneladas que são consumidas hoje.
Apesar destas grandes expectativas em relação ao Brasil, dados do Burger & Smit apontam que não somos os maiores produtores deste material no mundo. Ao longo dos últimos anos, a Tailândia é quem aparece no topo da lista dos maiores produtores mundial de borracha, com 36%, seguida de Indonésia com 22%; logo após, vem Malásia e Índia, com 12 e 9%, respectivamente; China com 6%, África e Vietnã com 5% aparecem na sequência da classificação geral; a América Latina aparece logo depois com 2% de produção da borracha. Fechando a lista, outros países asiáticos juntos somam 3% do total.
Mesmo com essas projeções e a situação de momento em que o Brasil se encontra na heveicultura, quando se é falado em látex natural, questões como quais são as vantagens de se produzir e consumir borracha natural aparecem na cabeça daqueles que não tem acesso ás informações a este respeito, ou dos produtores que estão pensando em aderir este conceito para suas propriedades. Com isso, a Revista Rural mostra para você, caro leitor, algumas vantagens de uso e produção para venda da borracha natural: a borracha natural tem muita elasticidade e flexibilidade, grande resistência e abrasão, um bom nível de impermeabilidade, facilidade a adesão em tecidos e aço, e resistência a produtos químicos. Além de todos estes pontos positivos, a seringueira é uma árvore que faz bem ao meio ambiente e tem como função ambiental proteger os mananciais, fauna e flora permitindo recomposição de reserva legal em consórcio nativas (sendo 500 seringueiras e 600 nativas por hectare).
Em relação aos benefícios sociais, a seringueira gera um emprego direto a cada 3.000 árvores em produção. Com isso, um trabalhador recebe em média um salário piso (CLT) de R$650,00, mais uma premiação por produção de 7% que corresponde ao valor de R$ 600,00 e por fim, recebe mais premiação por conservação de 3%, no valor de R$280,00. Ou seja, o salário bruto deste trabalhador ao final do mês será de R$ 1.530,00. Outro exemplo que podemos ver é o lucro que o segmento pode trazer a uma propriedade de 200 hectares que tenha plantadas 100 mil árvores com total de 8 kg de coágulo. Essa propriedade terá de produção anual 800 mil kg vendidos a R$3,00/ kg. Com isso, sua receita bruta anual será de R$ 2.400.000,00. Se subtrairmos os custos de mão de obra e manutenção desta propriedade, ainda sim ela terá um lucro operacional de R$ 1.440.000,00 em um ano, o que significa o valor exato de R$ 120.000,00 por mês.
No nosso dia a dia, este material está presente em mais de 40 mil produtos que são utilizados de maneira frequente e constante do nosso cotidiano. O látex natural está presente, por exemplo, em solas de sapatos, luvas, em preservativos sexuais e até em pneus. Aliás, na distribuição do consumo de borracha no Brasil, a chamada “indústria leve” consumiu 28% da produção, enquanto a “indústria pneumática”, 72%. Segundo dados da Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor), a indústria pneumática utilizava até 2009, a borracha natural em 78% dos casos para a utilização em pneus de reposição e 22% para pneus novos.
Entre os Estados que vêm se destacando na heveicultura e em crescente produção e cultivo de borracha natural, o Mato Grosso do Sul se mostra como um forte concorrente de São Paulo no consumo e criação de seringueiras. Entre os anos de 2007 e 2011, o Estado plantou 3.350.000 milhões de árvores, enquanto São Paulo plantou cerca de apenas 800 mil árvores. Na sequência do ranking vem o Mato Grosso com 300 mil árvores, Goiás com 280 mil e Minas Gerais com 270 mil árvores plantadas, dando um total de cinco milhões de árvores plantadas no Brasil, um número muito bom e muito comemorado por quem faz parte deste segmento.
No município de Cassilândia (MS), que fica em torno de 425 km de Campo Grande, encontra-se a dona Maria Dativa de Oliveira Machareti, de 50 anos, que trabalha como seringueira. Ela é natural de Minas Gerais e vive há dez anos em Cassilândia trabalhando nas mais de 5.600 árvores que propriedade em que mora possui. Deste número de árvores plantadas, dona Maria conta que atualmente 4.700 estão em produção de látex. O marido de dona Maria, Jonas Ademir Machareti, de 60 anos, diz que o trabalho é muito bom de fazer e que gera uma boa renda á família do casal. “Trabalhamos todos os dias das 5h ao 12h, mais ou menos. Nós temos todas estas árvores para sangrar, mas apenas a cada três dias fazemos a sangria da mesma árvore, ou seja, nunca sangramos por dois dias seguidos a mesma seringueira. Ela precisa deste espaço de tempo para voltar a sangrar látex, e isso serve para todas as árvores da propriedade”, declara Machareti.
O Complexo da Borracha
Pegando este gancho do bom momento em que a heveicultura vive, a empresa Cautex Florestal, localizada na cidade de Macaubal, a aproximadamente 550 km de São Paulo, lançou no mês de agosto o Complexo da Borracha que é um projeto verticalizado na cultura da seringueira e que vai beneficiar toda a cadeia produtiva, do início ao fim. A expectativa é que com o complexo, sejam gerados mais de cinco mil empregos diretos e indiretos.
O projeto inclui ainda a construção de uma agrovila operária para acomodar os trabalhadores do complexo, um centro de treinamento de mão de obra, um parque industrial para beneficiamento da borracha extraída dos seringais e indústrias de transformação da borracha. Este projeto foi apresentado ao governado do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, no dia 19 de dezembro do ano passado pelo diretor da Cautex Florestal, Getúlio Ferreira Júnior. Os cargos a serem ocupados pelos trabalhadores do complexo envolvem as funções de enxertia, tratorista, sangradores, operadores de máquinas, supervisor de sangria e gerente de produção.
Atualmente, segundo Ferreira Júnior, a Cautex possui mais de cinco milhões de seringueiras plantadas em diferentes Estados, sendo que mais de 3,35 milhões estão em cidades do Mato Grosso do Sul. “Estamos num projeto onde até 2016 vamos alcançar um número de 20 milhões de seringueiras plantadas, numa área de 40 mil hectares, volume suficiente para dar viabilidade ao complexo”, afirma.
A empresa possui ao todo, três viveiros de mudas de seringueiras, distribuídos da seguinte forma: o viveiro localizado na cidade de Macaubal conta com dois milhões de plantas; o viveiro localizado em Paranaíba (MS), possuí um milhão de plantas em fase de crescimento e o viveiro que se encontra em Cassilândia conta com dois milhões de plantas. Todos os viveiros da Cautex Florestal são registrados no Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas), do Ministério da Agricultura. Além disso, os viveiros contam com sementes selecionadas por especialistas, ruas cobertas com lona, manejo diferenciado, origem genética comprovada por DNA, enxertia feita apenas uma vez, controle de qualidade e transporte em caminhão adequado.
Mas, para que esse complexo saísse do papel e começasse a ser construído, a Cautex precisou de diversos parceiros e investidores financeiros, que acreditassem no projeto. Até o agora, já foi usado um bilhão de reais somente para estruturas das plantações e gastos com estes fins, e, ainda mais um bilhão de reais será utilizado para a construção da agrovila, o centro de treinamento, e o parque industrial o que totalizará um gasto total de R$2 bilhões.
“Após a aplicação de dois bilhões de reais neste projeto, daqui a 11 anos teremos todo o retorno financeiro de todo investimento feito. E este retorno não será apenas para a nós da Cautex, mas também para todos os investidores do complexo”, declarou o diretor da empresa. Para que isso ocorra, ele apresentou a projeção de que até 2023, cerca de 16,683 milhões de árvores estarão em produção, rendendo 80.732 mil toneladas de borracha seca. Com isso, o complexo estará em seu pleno funcionamento, gerando um PIB de 1,12 bilhões de reais.
Ian Hill é produtor de cana de açúcar, e de pecuária de corte e desde 2005 atua na área da borracha. Ele é um dos parceiros da Cautex que investiu no Complexo da Borracha e diz que não se arrepende do investimento feito, pois acredita que o projeto será um grande sucesso. “É muito profissional e muito boa a logística de distribuição que a empresa faz dos materiais. Eu conheci o projeto através da própria Cautex, e já que somos parceiros há seis anos, resolvi me agregar a esta empreitada. Acredito que através deste complexo haverá uma agregação de valores entre a empresa e todos seus investidores”, declarou Hill.
E agregar valores é um dos principais objetivos de Ferreira Júnior, que diz que sua principal expectativa com este complexo é conseguir executar este projeto por completo para satisfazer a população de Cassilândia e todos os parceiros do projeto. “O povo cassilandense pode esperar criação de empregos, diversidades, melhor qualidade de vida e reconhecimento do município. Tenho certeza de que quando se falar em borracha e seringueiras, falarão não só do Estado de Mato Grosso do Sul, mas de Cassilândia também!”, finalizou.