Negócios

Dedo de prosa: empresas devem melhorar a logística para sobreviver

Entre os principais desafios do agronegócio brasileiro para continuar crescendo está a necessidade de melhorar as condições para o escoamento da produção nacional. Em entrevista concedida ao jornalista Marcos Bedon, o presidente da Fetrancesc, Pedro Lopes, traça um panorama sobre o setor de logística e transportes do país e fala sobre a Logistique – Feira Internacional de Logística, Transporte e Comércio Exterior, que está em sua terceira edição, e acontece de 23 a 26 de outubro em Chapecó/SC.

Revista Rural – Fale sobre a parceria entre Fetrancesc e Logistique:

Pedro Lopes – O apoio da federação é institucional e participativo. A nossa Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Empresários de Transportes do Estado de Santa Catarina (Transpocred) também participará da feira com recurso especial destinado para realizar negócios. Haverá uma equipe auxiliando e financiando os negócios que por ventura os transportadores e empresários venham desenvolver durante a realização da Logistique.

Rural – O setor de logística avançou muito nos últimos anos. Qual é o atual panorama em Santa Catarina?

Lopes – A preocupação de alguns anos atrás antecipou algumas tendências. As empresas passaram a organizar a logística de tal forma que as Federações e a Confederação tiveram a preocupação de ajustar junto da marca também a palavra logística. Isso porque ela avançou muito rapidamente e modernizou o sistema. A logística tornou-se, aos poucos, um grande negócio.

Rural – Isso significa que a logística é uma alternativa fundamental para valorização dos negócios?

Lopes – Ela agrega valor aos negócios num ano que teremos mudanças. Por exemplo, nós teremos a implantação do cartão frete. Já viemos trabalhando nisso há algum tempo e temos que ter o conhecimento eletrônico de frete. A atual discussão com relação aos bitrens nas rodovias estaduais é outra questão que vai impactar diretamente na logística e distribuição de carga próximo às grandes cidades. Nós entendemos que é inviável movimentarmos uma carreta dentro da cidade em determinados horários.

Rural – A implantação de ferrovias resolveria esse problema?

Lopes – Sou otimista…Acho que em 20 anos teremos o começo da ferrovia. Quando afirmo isso, dizem que estou com espírito pessimista de confronto com a ferrovia. Não! Pois essa é a nossa realidade. Observamos o trecho sul da BR – 101 levar sete ou oito anos para ser concluído em função de túneis e pontes, quando deveríamos estar fazendo a 3a pista na parte norte que está operando desde 2007. Não espero do governo nenhuma providência da construção de uma ferrovia como a construção dessa planejada de Chapecó ao litoral. Há recursos, mas o governo tem outros compromissos e vai deixando. É recurso que vai para o Haiti, Bolívia, Argentina, Paraguai, Peru… Com esses recursos que poderíamos ter no planejamento de nosso governo, teríamos resolvido os problemas das rodovias e também da ferrovia.

Rural – Como foi o desenvolvimento dos diferentes modais de transportes a partir da década de 60?

Lopes – Em 1967, o transporte rodoviário de carga era de 36,37%, a cabotagem 34% e a ferrovia 29%. Hoje o setor rodoviário de carga transporta 70 ou 75%, a cabotagem desapareceu e a ferrovia passou para 25% . Contrabalançando, tudo isso teria que ser readequado. Acho que em 20 anos podemos ter uma visão mais concreta disso.

Rural – Mas se continuar nesse ritmo, como serão as nossas estradas se não tivermos um planejamento de recuperação mais confiável?

Lopes – Eu defendo uma integração dos modais que tem maior referência com relação a carga. Hoje o preferencial é o transporte rodoviário de carga pelas circunstâncias em que se encontram os outros modais.

Rural – Por que chegamos a esse nível de desestruturação dos modais de transportes?

Lopes – O aéreo se desenvolveu nos últimos anos e a ferrovia ficou muito para trás. Teremos que reconstruir a ferrovia no Brasil porque ela foi esquecida. Nós temos ainda um outro problema forte que se relaciona com a cabotagem. A cabotagem seria importante para um Estado como o nosso. Temos 500 km de costa. O Brasil tem 8.500 km de costa marítima, mais 1.500 de água doce e em 10 mil km de costa, não temos nenhum planejamento de cabotagem porque não existe planejamento da relação portuária com a cabotagem. Só teríamos se tivesse um ponto específico para isso. O transporte aéreo acabou ocupando esse espaço que deveria ser da ferrovia. A ferrovia estacionou nos 25%, o aéreo saiu de três ou 4 % há cinco anos e está em 9,5%.

Rural – O que motivou o crescimento do transporte aéreo?

Lopes – Costumo dizer que o transporte aéreo cresceu porque a estrada é melhor. A carga é carregada em Chapecó, por exemplo, e em 36 horas está nos EUA. O planejamento da Infraero e a privatização melhorou também a infraestrutura para receber carga rodoviária em alguns aeroportos. Vejo Chapecó como a cidade mais importante do oeste. Mas acho que estamos atrasados com aeroportos ideais para carga aérea. Se houver investimentos, a ferrovia fica em segundo plano.

Rural – Qual a importância da Logistique para o desenvolvimento do setor?

Lopes – Com o rápido desenvolvimento industrial surgiu a necessidade de mudanças, especialmente no processo de movimentação e armazenagem de produtos. Mas para isso, era preciso planejamento e especialização. A logística surgiu como uma das soluções e tornou-se uma ferramenta fundamental para eficiência e a lucratividade.
Para apresentar soluções à vasta cadeia que integra todos os modais que a indústria precisa para se desenvolver, foi criada a Logistique. Participarão 180 expositores, as expectativas de visitantes apontam para 15 mil compradores e a previsão de negócios está estimada em 120 milhões de reais.

Rural – Quem organiza o evento?

Lopes – A Logistique é promovida pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas da Região de Chapecó (SITRAN) e realizada pela Zoom Feiras & Eventos. É apoiada pelas principais instituições do setor: ABTI, ACIC, ANFIR, ASLOG, CNT, Federação dos Transportadores de Carga no Estado de SC (Fetrancesc), Prefeitura de Chapecó, Sebrae/SC, Sest/Senat, Sicom, Sindipostos e Convention & Visitors Bureau.

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