Agricultura

Azeite: produtores mineiros formam parceria para produzir oliveiras

Quando Pero Vaz de Caminha descobriu que as terras brasileiras eram férteis e verdejantes, escreveu uma carta ao rei com os seguintes dizeres: “tudo o que nela se planta, tudo cresce e floresce”. De lá pra cá, as afirmações de Caminha só se concretizaram. Graças à vocação agricultável, o Brasil se transformou no que é hoje, um celeiro de várias culturas.

Por séculos essas foram introduzidas com sucesso. A cada ano, surge então um novo desafio na questão da produção e de aumentar a produtividade. Mas, recentemente, o Brasil se dispôs a enfrentar uma nova produção: a azeitona e de azeite de oliva.

A movimentação dessa cultura histórica, produzida em alta escala na região mediterrânea, que é responsável por 95% da produção mundial de azeite, começou no Rio Grande do Sul e também em Minas Gerais. No município de Caçapava do Sul, a 264 quilômetros da capital Porto Alegre, existem cerca de 20 produtores que cultivam em torno de 70 mil mudas, numa área equivalente a 120 hectares. A iniciativa da plantação fez com que o município criasse em 2005, a Associação de Olivicultores de Caçapava do Sul. O forte investimento da olivicultura estimulou também o cultivo em outras localidades, como Alegrete, Bagé, Cachoeira do Sul, Cambará do Sul, Encruzilhada do Sul, Erechim, Lavras do Sul, Pelotas, Santana da Boa Vista, São Pedro do Butiá e São Sepé.

Em Minas Gerais, além do leite e da produção do famoso queijo, algum município mineiro se rendeu definitivamente à olivicultura. Graças ao trabalho de parcerias entre os empresários da região e as pesquisas realizadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), pioneira nos estudos sobre a oliveira, especialmente na seleção de variedades mais adequadas às condições brasileiras e na produção de mudas de qualidade. “A fazenda experimental de Maria da Fé, desenvolve trabalhos de pesquisa e cultivo das oliveiras desde 2005. E os resultados são bastante satisfatórios”, diz o agrônomo Nilton Caetano de Oliveira, gerente da fazenda experimental da Epamig, em Maria da Fé, distante a 431 quilômetros da capital mineira.

De acordo com Oliveira, só no alto da Serra da Mantiqueira, são 43 municípios mineiros e 10 paulistas, com mais de 600 hectares e 300 mil plantas e com um crescimento anual entre 15% a 20%, a sua área de plantio. “A oliveira chegou a Maria da Fé na década de 1950, inicialmente a título de curiosidade ou como planta ornamental, o que justifica sua presença nas ruas da cidade”, explica.

Para conseguir a produção do azeite, o “ouro” líquido, como também é conhecido, que reluz e quando “bom” custa muito caro, requer atributos de qualidade, tais como: a acidez, cor, aroma e sabor. Atributos esses que dependem das condições climáticas, das terras plantadas, das oliveiras, dos cuidados com a colheita, das variedades, entre outros fatores. Condições que os estados do Sul do Brasil apresentam com microclimas favoráveis ao cultivo da oliveira. Assim como os municípios mineiros, como Maria da Fé. De acordo com o pesquisador da Epamig, a oliveira é uma planta que necessita de baixas temperaturas no período que antecede a floração para que se obtenham resultados satisfatórios na produção.

Dados da Epamig apontam dentre as espécie de mesa e azeite do tipo arbequinas, arbosanas, kroroneike, Manzanila basicamente duas variedades têm-se destacado nas pesquisas: a ‘Grapollo’, destinada à extração de óleo, e a Ascolana, para produção de azeitonas de mesa. Porém, ressalta o pesquisador que existem 37 variedades trabalhadas, que são as que apresentam maior produtividade e melhor adaptação ao clima da região.

Segundo Oliveira, há mais de sete anos a região começou a abraçar a ideia da olivicultura e hoje o que se vê são grandes extensões de terras sendo ocupadas pelo cultivo da oleaginosa. “Até 2015, estaremos em produção plena”, diz. De acordo com ele, há planos para que o produto produzido na fazenda experimental Maria da Fé, que possui hoje oito mil pés, sendo 7.500 em produção, esteja no mercado em 2012. Será o primeiro azeite extravirgem nacional a ser comercializado.

Mercado à vista

Além disso, os empresários estão investindo em plantios no formato de pomares próximos a suas moradas, o que deve impulsionar segundo o pesquisador a atividade da agricultura familiar, em um futuro próximo. “Cada pé de azeitona deve produz em média 25 quilos. Cem pés produzirão 2,5 toneladas de azeitonas. A renda pode variar com o mercado na época”, diz Marcio Vasques, proprietário da Fazenda Cauré, localizada na zona rural de Alagoa, município situado no Sul de Minas, considerado um dos berços da produção de oliva no Brasil. Só na Cauré há 25 hectares plantados com aproximadamente 10 mil pés.

Segundo Vasques, a intenção é desenvolver um projeto que possa beneficiar todas as famílias da região. “Só neste ano serão 30. Elas entram apenas com a mão de obra. Todos os custos de insumos serão patrocinados pela Ecomais”, diz Vasques, que também é diretor do Instituto Ecomais.

A iniciativa do instituto prevê a instalação de uma fábrica para beneficiar a oliva, suas folhas e o azeite. Para envolver e favorecer a população rural com esta novidade, a prefeitura de Alagoa e o Instituto Ecomais estão afinando uma parceria que prevê doação de mudas de oliveira, assistência técnica, viveiro de mudas para agricultura familiar, entre outros benefícios.

“A Associação de Oliveicultores dos Contra-fortes da Mantiqueira, do qual somos associados e a Epamig possuem uma pequena planta industrial para extração do azeite e engarrafamento, que utilizaremos futuramente”,diz. “Inicialmente nosso azeite e azeitonas são de uma produção quase artesanal e dessa forma vai primar pela qualidade. Dessa forma nossa produção deverá ser vendida em delicatessens no eixo Rio-São Paulo”, afirma Vasques.

A importância da cultura ganhou novos rumos e se fortaleceu na região. Tanto é que desde 2005, pesquisadores e produtores se reúnem todo o mês de março, em Dia de Campo, para discutir a questão da produção e os principais desafios da cadeia. Como o cultivo é recente no país, alguns entraves precisam ser solucionados, entre os quais se destaca os custos ainda elevados da produção.

Sem uma produção própria de azeitonas e azeite de oliva, o Brasil tornou-se dependente da importação para abastecimento interno. “Tudo o que se usa é importado. Por isso, o mercado é atraente, sem dúvida”, afirma Vasques. Nesse setor o Brasil é 100% dependente do fornecimento externo, em especial, Portugal e Espanha, tendo consumido em 2007 em torno de 63 mil toneladas de azeitona (crescimento de 15% sobre 2006) e de 35 mil toneladas de azeite de oliva (29% a mais que no ano anterior), segundo dados da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva), a importação que dá vida a um negócio que movimenta algumas centenas de milhões de dólares anualmente.

Um brinde à saúde!

O pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) Elifas Nunes desenvolve projeto de pesquisa sobre plantas medicinais, aromáticas e condimentares e aponta resultados que comprovam os benefícios do azeite para o organismo, segundo literatura.

Os estudos indicam que o óleo atua no bom funcionamento do sistema digestivo, controle da pressão arterial e no auxílio na absorção de cálcio, podendo ser usado no combate à osteoporose. “O azeite contém antioxidantes, que retardam o envelhecimento. Elimina os radicais livres que promovem uma série de doenças, inclusive ataques ás células sadias, tornando-as células cancerosas e inibe a formação de trombos nos vasos sanguíneos pela oxidação do colesterol ruim LDL e VLDL, que quando oxidados ficam aderidos às paredes dos vasos sanguíneos, formando os bloqueios para a passagem do sangue. Pode causar derrames pela obstrução dos vasos”, acrescenta.

Duas colheres diárias de azeite extravirgem seria a dosagem ideal capaz de alcançar todos os efeitos, além de prevenir o aumento de gordura. “O consumo diário de duas colheres é recomendado pela literatura para evitar o efeito de acumulação de gorduras no abdômen”, aponta.

De acordo com a legislação brasileira (Resolução Anvisa/RDC nº482/99), o azeite de oliva é definido como sendo o óleo comestível obtido diretamente do fruto da Olea europaea (oliveira) por meio de processos tecnológicos adequados. A resolução diz que a acidez do azeite extravirgem deve ser de até 1,0 g/100g. Segundo o pesquisador da Epamig Adelson de Oliveira, o consumidor deve verificar no rótulo do produto o percentual de acidez e condições nutricionais, como quantidade de gorduras monoinsaturadas, que fazem bem à saúde, antes de comprar.

“Quanto mais baixa a acidez, melhor a qualidade do azeite”, afirma. O pesquisador explica que o óleo composto é a mistura do azeite de terceira categoria, sendo 85% de óleo de soja e 15% de azeite de oliva e, portanto, não traz os mesmos benefícios para a saúde como o azeite.

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