O comportamento de grande parte das commodities da agricultura, como soja, milho, algodão, café e trigo, ao longo de 2011, foi de crescimento moderado em relação às médias averiguadas em 2010. Com exceção, ao arroz, as demais registraram altas ao longo do ano, com destaque para o café arábica e o milho, com altas de 37,13% e 29,06%, respectivamente.
Num ano de muitas incertezas no mercado internacional, diante de tantas crises deflagradas, especialmente na Europa, o mercado brasileiro pôde encontrar alguns subterfúgios, como o cenário de baixas dos EUA em relação à produção de soja e milho.
Além da prevalência de bons preços para alguns produtos, outra notícia boa para o ano de 2011 foi o anúncio do recorde histórico da safra, a de 2010/2011, que atingira mais de 162,9 milhões de toneladas – valor representou uma alta de 8,41% em relação à temporada anterior.
A novidade mais recente foi o resultado mais do que positivo da balança comercial do agronegócio brasileiro, que chegou a um superávit de US$ 77,507 bilhões – para se ter uma ideia, o superávit total do Brasil chegou a US$ 29.790,00 milhões. O saldo positivo mostrou a força das exportações do setor, que obteve um incremento de 23,7% sobre o ano de 2010.
Podem-se registrar quedas de governos lá fora, o quanto quiser – o fato é que a população mundial cresceu, e já atingimos a casa de sete bilhões de pessoas no planeta. A pressão volta-se para a produção de alimentos e ao uso racional dos recursos naturais para garantir a sobrevivência das gerações futuras. O Brasil, nesse aspecto, tem um papel fundamental. Apesar de os números da safra 2011/2012 não ajudarem muito, as perspectivas ainda são otimistas. Confira, nas próximas páginas, os detalhes do balanço do setor da agricultura em 2011.
SOJA
Se for analisar o aspecto de preços da saca de 60 quilos (kg), ao longo de 2011, o grão se valorizava até meados de fevereiro. Logo depois ele entraria num suave declínio que só melhoraria entre setembro e outubro. A partir daí, os valores não superariam mais as médias registradas em 2010 – encerrando em baixa, o ano. No final das contas, o ano não foi nem bom, muito menos, ruim. A ideia de média resumiria bem 2011 que, no geral, foi 13,88% superior a 2010, se forem avaliadas as médias de preços da saca no Estado do Paraná (média de R$ 46,49 a saca), ou 14,19% maior, sobre a comercialização feita em Paranaguá (PR), que registrou uma média anual de R$ 49,04. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Cepea/Esalq), vinculada à Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com o levantamento do Cepea/Esalq, 2011 foi marcado por incertezas no campo e também nos cenários político e econômico, que afetaram diretamente o mercado de soja, tanto no setor alimentício quanto no de energia. A dificuldade de se estimar o tamanho da nova safra, especialmente dos Estados Unidos, e as preocupações com a economia mundial, principalmente a europeia, que influenciara a demanda agregada, mantiveram os produtores e a indústria em alerta por longos períodos.
No campo, inicialmente, o atraso no plantio da safra 2010/2011 no Brasil e na Argentina levou a apreensões sobre a produtividade. Depois, ganharam destaque os receios sobre os impactos do clima sobre a safra americana. Quanto às questões políticas e econômicas, podem ser citadas as instabilidades no Oriente Médio e no norte da África, no primeiro semestre, e as da zona do euro no segundo semestre de 2011.
“Podemos dizer que o ano foi muito favorável ao produtor de soja”, destaca Lucilio Alves, pesquisador da área de grãos e algodão do Cepea/Esalq. “Inicialmente, houve períodos de alta e de baixa, especialmente relacionados à crise da zona do euro. No entanto, devido as quedas da safra americana e chinesa, em -8% e -11%, respectivamente, os preços conseguiram se manter justamente pela questão dos estoques baixos”.
Ainda no primeiro trimestre de 2011 (período de colheita), observaram-se recuos nos preços da soja, que foram influenciados por problemas logísticos para a chegada dos caminhões até o porto de Paranaguá (PR). Chuvas intensas destruíram pontes das principais rodovias de acesso ao porto. Em algumas semanas, até mesmo os desembarques de caminhões e embarques de navios foram dificultados pelas chuvas intensas. Com isso, foram realçadas as preocupações com o espaço disponível nos armazéns em algumas regiões do interior e com o elevado custo do transporte até o porto.
Do valor máximo, averiguado para a saca, em 2 de fevereiro, a R$ 50,79, para o mais baixo, R$ 43,17, em 15 de abril, houve apenas uma estreita faixa de tempo de 64 dias – justamente no período marcado pela colheita. O segundo pico no preço da oleaginosa se daria em setembro, especificamente no dia 21, quando a saca alcançava R$ 50,61. Isso, no caso, analisando-se os valores médios da região do Estado do Paraná. Já, considerando a comercialização do produto no porto de Paranaguá, a saca chegou à cotação máxima de R$ 53,82, também em 21 de setembro. O menor preço de 2011 foi de R$ 45,68 em 14 de abril.
Inicialmente, havia quem apostasse que a demanda por soja continuaria a dar o tom altista aos seus preços em 2011, que poderiam ser ainda mais impulsionados caso ocorressem problemas com a produção 2010/2011 na América do Sul. Nesse sentido, nos primeiros meses do ano, as atenções estiveram voltadas ao desenvolvimento das lavouras no Brasil e na Argentina. Entretanto, com o passar dos meses, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fazia a divulgação dos dados recordes para a área, produtividade e produção brasileira. Na Argentina, no entanto, houve queda na produção em relação ao ano anterior.
Em setembro, as cotações de soja em grão e derivados passaram a refletir a instabilidade econômica mundial com maior intensidade. O resultado foram oscilações mais expressivas dos contratos futuros, no Brasil e em Chicago, que chegaram a preços no físico nacional. Diante disso, as cotações em dólar nas bolsas e no físico brasileiro (Indicadores Cepea) chegaram aos menores níveis do ano. Já em reais, nas praças brasileiras, a média mensal de setembro chegou a ser uma das maiores do ano – especialmente nos portos e nas regiões de Mato Grosso.
A área cultivada com soja no Brasil foi de 24,18 milhões de hectares na temporada 2010/2011, 3% maior que a da safra anterior, segundo a Conab. A produtividade estimada foi de 3.115 quilos por hectare (kg/ha), 6,4% acima, e a produção chegou a 75,32 milhões de toneladas, avanço de 9,7%. Da produção total, a estimativa era que 33,6 milhões de toneladas fossem exportadas e 40,45 milhões de toneladas, esmagadas internamente. Desse processamento interno, seriam produzidas 28,45 milhões de toneladas de farelo de soja e 7,21 milhões de toneladas de óleo de soja. Mais da metade da produção de farelo deveria ser exportada, enquanto 76,4% da produção de óleo seria consumida internamente – todos os dados de produção, consumo interno e exportação (exceto de óleo) foram recordes.
MILHO
Vinte e oito, 29, 30, 31, 32… Foram basicamente por essas faixas que oscilaram os preços do milho brasileiro no ano de 2011. Em comparação a 2010, a lavoura obteve o segundo lugar em termos de incremento de preços, de acordo com os dados do Cepea/Esalq. No ano passado, a média anual da saca de 60 kg, R$ 30,32, foi 29,06% maior à registrada no período anterior.
Segundo os analistas no Cepea, 2011 iniciou em clima de redução da área da safra de verão no Brasil, diante da menor rentabilidade do milho frente a culturas concorrentes em área, especialmente a soja. Mesmo assim, era de se esperar que os baixos estoques pudessem dar sustentação aos preços nos mercados interno e externo. E, de fato, isso aconteceu. A maior paridade de exportação elevou os preços internos já a partir de meados de janeiro, à medida que favoreceu as vendas para o exterior, o que estimulou o aumento do cultivo no Norte e Nordeste do País.
No mercado externo, os baixos estoques, principalmente nos Estados Unidos, contribuíram para que os preços em Chicago alcançassem níveis recordes em julho. “O mercado internacional permaneceu com alta volatilidade nas cotações de milho em Chicago, nesse período”, avalia o engenheiro agrônomo e analista de mercado da Conab, Thomé Luiz Freire Guth. “As incertezas em relação a situação econômica norte-americana, onde as principais bolsas se encontravam apreensivas com a possibilidade de calote, devido à quebra de braço entre republicanos e democratas em relação ao aumento do teto da dívida afetou também o setor de commodities”.
Para o analista de mercado, houve paralelamente uma preocupação dos traders e dos fundos em relação às condições das lavouras estadunidenses que continuaram com redução das condições boas/excelentes de 66% para 62% e de 14% para as condições ruins/muito ruins. “Isso gerou a especulação do mercado climático, onde o excesso de calor provocaria movimentos de alta. Outro fundamento importante foi a desvalorização cambial que, neste caso, refletiu diretamente nos preços de paridade de exportação e importação, afetando o ritmo de embarque e fechamento de contratos, os quais, sazonalmente, aumentariam naquele semestre”.
Para a safra 2010/2011, no período de tomada de decisão quanto ao que cultivar na safra de verão, a relação custo/benefício estava favorável à soja e as cotações do milho seguiam sem sinais de reação. Consequentemente, parte da área de milho foi substituída, especialmente por soja. Mesmo assim, em Estados do Norte e Nordeste houve tempo para retomada do cultivo, levando a crescimento de área, diante da recuperação dos preços no primeiro trimestre de 2011.
Igualmente, para a segunda safra, também houve crescimento de área cultivada, tendo em vista que os preços estiveram em níveis atrativos aos produtores, pelo menos, entre fevereiro e setembro de 2011. No último trimestre do ano, os preços cederam, pressionados pelas preocupações com a crise na zona do euro e pela retração compradora nos mercados interno e externo.
Do lado da demanda, a Conab apontou que o consumo interno chegou ao recorde de 48,4 milhões de toneladas. A exportação fechou 2011 em 9,459 milhões de toneladas, o terceiro maior volume da história. Mesmo assim, os estoques de passagem em 2011 devem ser de 9,6 milhões de toneladas, também o terceiro maior.
Dados da Conab apontaram que, na safra de verão de 2010/2011, a área de milho verão aumentou 2,5%, para 7,9 milhões de hectares. A produtividade chegou ao recorde de 4.538 kg/ha, 2,9% maior que a do ano anterior, contribuindo para a produção de 35,9 milhões de toneladas, 5,4% a mais que a da safra 2009/2010. Na segunda safra, a área cultivada aumentou em praticamente todo o País (+12,4%), chegando a 5,9 milhões de hectares. Entre os principais produtores, somente em Mato Grosso houve diminuição da área de milho, de 3,6%. Porém, faltou chuva nas principais regiões produtoras, além do que a geada em regiões do Sul, de Mato Grosso do Sul e de São Paulo também agravou as perdas de produtividade. No agregado, o rendimento das lavouras foi 12,4% inferior ao da segunda safra de 2009/2010, na marca de 3.645 kg/ha. Entre os principais produtores, apenas em Goiás houve crescimento da produtividade.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços subiram 7,1% no mercado de balcão (ao produtor) e 3,8% no de lotes (negociação entre empresas) em 2011. É importante observar que ao considerar o preço médio anual, os valores no balcão em 2011 ficaram 46,6% maiores que os de 2010, assim como os do mercado disponível, que subiram 46,9% na média de 2011 frente à de 2010.
ALGODÃO
O ano começou com os preços da pluma superaquecidos. Certamente, nenhuma outra commodity agrícola conseguiu atingir os patamares do algodão – a fibra conquistou o recorde histórico em termos de comercialização. O ápice da sobrevalorização foi em 15 de março, quando a libra-peso (lp) era avaliada em 399,02 centavos de real, ou a R$ 3,9902, de acordo com levantamento de preços do Cepea/Esalq. A média do ano ficou em R$ 2,4530/lp, ou 23,24% maior do que a averiguada em 2010. Como resposta, a área com a cultura cresceu, elevando a oferta global. “A demanda, no entanto, não teve o mesmo ritmo”, destaca o pesquisador do Cepea/Esalq, Lucilio Alves. “Com a pluma negociada a valores recordes, as indústrias foram forçadas a procurar matérias-primas substitutas mais baratas. Assim, a demanda por fibras artificiais cresceu, em detrimento do fio de algodão. Os preços da pluma baixaram, especialmente no segundo semestre, mas o retorno às compras de fibras naturais – como o algodão – não foi tão rápido quanto se imaginava”.
As altas sucessivas nos três primeiros meses do ano que levaram ao recorde de março estiveram atreladas ao crescimento do consumo, à redução na área cultivada em importantes países produtores na safra 2009/2010 e à redução dos estoques mundiais. A relação estoque/consumo estava ao menor nível dos últimos 15 anos.
Naquele período, agentes do mercado de algodão se perguntavam qual seria o limite de alta para os preços da pluma. Com os recordes sendo superados diariamente, não havia modelo de previsão que conseguisse sinalizar o que vinha pela frente. Mesmo assim, era fato que, assim que a oferta se recuperasse, os níveis tenderiam a cair. “O contexto que antecede esse período, na safra 2008/2009, foi justamente o oposto, quando produtores buscavam culturas mais atraentes, economicamente, do que o algodão. Com a elevação dos preços, os agricultores se voltaram com mais agilidade – tão, rápido foi o posicionamento da indústria em buscar opções à fibra têxtil natural”, ressalta Alves.
Já na segunda quinzena de março, os valores internos da pluma começaram a diminuir. A pressão veio da retração de compradores diante dos preços altos. Mesmo com os estoques ainda baixos, as indústrias, em termos mundiais, limitaram as compras e as paridades de importação e exportação cederam.
Somente em abril, os preços recuaram expressivos 24,35%, a maior variação negativa no acumulado de um único mês de toda a série do Cepea, iniciada em julho de 1996. De modo geral, o mercado avançava em direção a um patamar de preços que continuasse atrativo ao produtor, ao mesmo tempo em que despertasse o interesse de compradores.
Diante da expectativa de maior oferta – no Brasil, a produção de 2010/2011 cresceu 64% e, em nível mundial, 13,4% -, os preços seguiram em queda até o começo do segundo semestre, quando problemas climáticos em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil, geraram incertezas sobre a produção agregada ao mesmo tempo em que a demanda se apresentou mais firme. De acordo com os pesquisadores do Cepea, isso fez com que, no Brasil, os preços assumissem um comportamento mais estável e em nível relativamente baixo.
No início do segundo semestre de 2011, incertezas e o vai-e-vem da demanda no mercado spot favoreceram mudanças pontuais de tendência três vezes em pouco mais de um mês. Altas foram observadas entre o final de julho e a primeira semana de agosto, mas, em seguida, o interesse de venda passou a prevalecer, num momento em que compradores se afastaram. Consequentemente, os preços cederam, chegando a patamares que voltaram a atrair compradores, ao passo que vendedores se retraíram, tendo em vista que as cotações domésticas se aproximaram da paridade de exportação. Assim, novamente, os preços voltaram a reagir. Já nos últimos três meses do ano, prevaleceu a baixa demanda pelo produto no Brasil e no mundo, o que tem mantido as cotações da pluma em nível baixo. Entre o valor mais alto da fibra ao mais baixo (R$ 1,5480/lp, em 20 de julho) houve uma variação de 61,20%.
Na safra 2010/2011, a área com algodão no Brasil cresceu 67,6%, indo para 1,4 milhão de hectares, segundo a Conab. A produtividade do produto em caroço subiu 2%, para 3.705 kg/ha, a segunda maior da história. Em pluma, a produtividade média no Brasil foi de 1.400 kg/ha, a quarta maior em nível mundial. Com isso, a produção brasileira de algodão em pluma aumentou 64%, totalizando 1,96 milhão de toneladas na temporada 2010/11.
CAFÉ
O pretinho básico do Brasil e do mundo liderou a alta entre todas a commodities da agricultura frente ao período de 2010 em 37,17%, isso, com base no Indicador Cepea/Esalq Café Arábica. A média do ano passado ficou em R$ 494,68 a saca de 60 kg. O maior valor foi averiguado em 3 de maio a R$ 555,19 a saca, já o menor, foi registrado no primeiro dia de cotação do ano (3 de janeiro) a R$ 412,99.
De acordo com os especialistas, a sustentação desses preços deveu-se principalmente à baixa produção mundial que pode ser insuficiente para atender à crescente demanda global. Com isso, os estoques caíram para o menor patamar da história tanto nos países produtores quanto nos consumidores.
Há indícios que a produção mundial da safra 2011/2012 deva ser de 128,6 milhões de sacas, 3,4% menor que a da anterior 2010/2011, a qual registrara 133,1 milhões, de acordo com a Organização Internacional do Café (OIC). Para o órgão, as condições climáticas desfavoráveis afetariam negativamente a produção em algumas regiões, levando a maior incidência de pragas e doenças.
No entanto, as atuais expectativas brasileiras contradizem o relatório da OIC quando à queda da produção cafeeira em 7,4% na América do Sul. Um estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), divulgado no início de janeiro (dia 10), apontou uma possível safra recorde do grão em 2012, entre 48,97 e 52,27 milhões de sacas beneficiadas. De acordo com Manoel Bertone, secretário de Produção e Agroenergia do Mapa, o volume esperado seria reflexo do aumento da produtividade e da melhoria da qualidade do grão, além da aplicação de investimentos na lavoura, como mais insumos pelo produtor, por exemplo.
O café colhido neste ano vai atender ao mercado interno, que cresce a 4% e 4,5% ao ano, e recompor, parcialmente, os estoques nacionais a partir de agosto. Bertone lembrou que os países produtores da América Central e da África estão com a produção estagnada. “Desta forma, abre-se a possibilidade de o País continuar como protagonista no mercado mundial do grão”, afirmou.
Em relação aos preços, a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) prevê alta ainda para este ano, especialmente neste primeiro trimestre de 2012. A entidade toma como base o atual cenário, marcado pela baixa disponibilidade de arábicas no mundo, pelos baixos estoques mundiais, pela demanda crescente apesar da crise econômica, e pelos estoques brasileiros muito baixos no período anterior à colheita. “O volume comercializado também se reduziu porque muitos detentores de estoques de café estão segurando sua venda, prevendo preços melhores nos próximos meses”, diz Américo Sato, presidente da Abic, alertando que essa conjuntura afeta os resultados e a produção das indústrias.
Por outro lado, os preços do café nas prateleiras ainda encontram-se muito defasados e bem abaixo do que deveria, em função dos aumentos da matéria-prima. De janeiro a novembro de 2011, os preços dos cafés tradicionais, nas grandes cidades, aumentaram na média 15%, atingindo R$ 12,81 o quilo na Grande São Paulo. Pesquisas mostraram que no Brasil, os preços médios subiram somente 9%. A defasagem, portanto, é superior a 20%. “Esses níveis atuais não cobrem sequer o aumento da saca do grão, e as indústrias precisam realinhar seus preços com a maior brevidade possível, de modo a evitar o colapso de abastecimento regular”, alerta Sato.
O consumo de café no Brasil é o segundo maior do mundo, atingindo 19,1 milhões de sacas em 2010, o que representou 40% da safra brasileira. Os consumidores têm à sua disposição cafés de todas as qualidades, diferenciados ou tradicionais, certificados e de alta qualidade. “O crescimento da classe C e dos gastos com alimentação no lar e fora do lar têm impulsionado o consumo de cafés de melhor qualidade, e a Abic e as indústrias brasileiras têm preocupação em oferecer a qualidade que o consumidor exige e deseja, o que não pode ser feito se os preços praticados não remunerarem todos os custos e, principalmente, a aquisição de boas matérias-primas”, frisa o representante.
ARROZ
Se o café obteve o melhor desempenho perante 2010, o arroz é, de fato, o antagonista no mercado das commodities agrícolas em 2011. Ele amargou o pior resultado entre as demais, com uma queda significativa de 22,67%. Na média do ano passado, a saca de 50 kg ficou em R$ 22,35, ao passo que em 2010 a mesma saca girava em média de R$ 27,42. Em 24 de maio, a o produto atingia o menor preço do ano, segundo os dados do Cepea/Esalq, R$ 18,85.
Desde o início de 2011, os produtores afirmavam que o custo de produção da safra brasileira de arroz 2010/2011 estaria acima dos preços vigentes no mercado. A estimativa de aumento da produção brasileira do grão e o início da colheita fizeram com que os preços oscilassem entre R$ 18 e R$ 20 a saca no período.
Diante deste cenário, produtores gaúchos realizaram protestos e reivindicações, solicitando ao governo federal instrumentos de política agrícola que possibilitassem que o preço da saca do produto em casca atingisse o mínimo de R$ 25,80 a saca.
O governo atendeu, com a realização de vários leilões no correr do ano – 12 de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) e dois de Contratos de Opções. Ele também autorizou várias renegociações de dívidas de custeio de orizicultores em 2011. Os leilões de Contratos de Opções (balizado em torno de R$ 29 por saca), por sua vez, trouxeram novo fôlego ao produtor, que retraiu a venda, na expectativa de aumento nos preços.
Assim, em junho, o Indicador do arroz passou a subir. Em julho, os valores registraram fortes aumentos, recuperando, inclusive, as perdas verificadas em todo o primeiro semestre de 2011. O movimento de alta seguiu até final de novembro. A partir de então, o mercado esteve com as negociações bastante lentas, com os preços praticamente estáveis.
FEIJÃO
No mercado de feijão, as praças acompanhadas pela Conab (São Paulo, Paraná e Bahia – sobre a saca de 60 kg do carioca) tiveram comportamentos bem semelhantes ao longo do ano e fecharam com média de R$ 90,07, R$ 79,03 e R$ 95,97, respectivamente. Em São Paulo, por exemplo, as maiores altas se concentraram em meados do final de setembro e início de agosto, com o registro do valor médio da saca por R$ 110,00. A sobrevalorização nesse período estava relacionada à restrição na oferta do produto e do comportamento dos preços praticados em regiões produtoras, onde os níveis de preços estavam igualmente mais elevados.
A soma da área cultivada nas três safras da temporada 2010/2011 foi de cerca de 4 milhões de hectares, que representou um aumento de 11,10% sobre a de 2009/2010. De acordo com o levantamento da Conab, isso pode gerar a colheita de 3,787 milhões de toneladas (alta de 14% sobre a safra anterior). Já para o período de 2011/2012, o feijão pode ter a área reduzida em 3,69% e queda na produção em torno de 7,57%.
TRIGO
Por fim, o mercado de trigo do País, sinalizou inicialmente uma leve trajetória de alta até julho, tanto no Paraná como no Rio Grande do Sul, segundo dados do Cepea/Esalq. No Paraná, a média anual foi de R$ 478,65 a tonelada do produto, 9,76% superior, se comparada à média de 2010. No RS, a média ficou em R$ 444,95 a tonelada, com alta de 10,03% sobre 2010.
O ápice dos preços do cereal, no PR, ocorreu em 25 de abril, quando a média alcançava R$ 502,13 a tonelada, segundo o levantamento do Cepea/Esalq. Na época, os preços seguiram firmes, não tendo muitas oscilações ao longo do período, e foram sustentados pelas exportações. Já no mercado gaúcho, a tonelada de trigo obteve sua maior valorização, R$ 471,08, em 16 de março. Nesse dado momento, refletiu-se sobre os preços os baixos estoques do produto aliada à manutenção de preços mais altos ao trigo vindo da Argentina nas bolsas americanas. A previsão da Conab para a safra 2010/2011 é de 5,881 milhões de toneladas. A subsequente, 2011/2012, é estimada sofrer uma leve queda de 1,58%, com o total de 5,788 milhões de toneladas.