Produtores paranaenses tem feito pente fino na lavoura à procura de biótipos de plantas daninhas resistes a herbicidas.
Raul Cocatto é um produtor de grãos bem típico no município de Rolândia (PR), região próxima a Londrina. Lá, ele e o irmão conduzem as lavouras de soja, trigo e milho em cerca de 200 hectares (ha). Os problemas com plantas daninhas se agravaram até meados do início dos anos de 1990, chegando a ocupar cerca de 25% da área cultivada.
“No nosso caso, o problema era com a trapoeraba [Commelina sp.] lembra Cocatto. No início, começamos a aplicar a mistura de 2,4-D e glifosato, e mesmo assim o resultado não era muito bom. Tiramos o 2,4-D fora, porque o produto era muito agressivo, e ficamos só com o glifosato e, aí, piorou mais ainda.
A situação pareceu se reverter com a adoção de um sistema mais adequado para a administração dos herbicidas na lavoura. O produtor estabeleceu uma aplicação logo pela manhã, principalmente, um dia ou dois após a chuva. “Com cinco ou seis litros de glifosato, foi tranquilo. Acabou a trapoeraba! Anteriormente, aplicavamos cinco litros de glifosato e três litros de 2,4-D. Só alteramos a hora de aplicar, com bastante umidade no ar, isso é importante, destaca o produtor.
Desde 1992, Cocatto tem feito esse tipo de manejo e, atualmente, não há registros de daninhas resistentes em sua área e as plantas que ainda persistem nos campos são fáceis de controlar – o segredo do produtor está no manejo consciente dos recursos que ele dispõe e o cuidado na hora de aplicar a formulação adequada. Em termos gerais, o nível de infestação pela vizinhança não é tão alarmante – o que demonstra, de certa forma, que os produtores por lá tem feito o dever de casa quanto aos n’veis de resistencia das invasoras e o uso coerente dos herbicidas dispostos no mercado. Se catarmos todas a plantas que hoje estão em minha fazenda daria um alqueire paulista [ou 2,42 ha], contabiliza.
Buva controlada
Em outro polo produtor, já dentro efetivamente do municipio de Londrina, uma propriedade mostrou indícios de resistência de buva (Conyza canadensis e Conyza Bonariensis). O problema, de acordo com o produtor, Douglas Agaci, fora registrado há tres anos, e culminou com a infestação de 10 alqueires paulistas, ou 24,2 ha, de uma soma de área de cultivo de cerca de 1.307 ha.
Numa área, onde o problema pareceu mais grave, fora feito uma série de ensaios e testes com diferentes tipos de produtos e princ’pios ativos, que verificou realmente a presença de biótipos resistentes ao glifosato. “Nessa área inclusive, já fiz o plantio de feijão, após aplicar o produto a base de dicloreto de paraquate + diurom, e, aparentemente, parece que resolveu, avalia Agaci.
Outra espécie que também tem dado problemas e a corda-de-viola ou corriola (Ipomoea sp.). No geral, o produtor já somou prejuízos de R$ 10 a 15 mil – isso aliado com o acréscimo no uso de defensivos para o controle das invasoras. “Em outras áreas, por exemplo, fizemos a aplicação de glifosato, e não acabou com o mato no meio da soja. Aplicamos depois dicloreto de paraquate + diurom e metsulfuron metílico. Foi feita a introdução do trigo, que já estamos colhendo, e não há registros de buva”, afirma.
Para o produtor, não há como deixar uma área parada, caso contrário, as daninhas tomam conta – por isso, ele preconiza a atividade constante e a presença de cultivares que fazem o serviço de conter o avanço das invasoras.
Adaptação aos produtos
O problema de resistência incide basicamente na aplicação de um único princípio ativo, nesse caso, o glifosato, que se caracteriza como o principal produto utilizado pelos produtores. Os primeiros focos de resistência no Brasil remete a regiões produtoras no Rio Grande do Sul, com o azevém (Lolium multiflorum) em 2003 e a buva em 2005. No final do ano passado, o capim-amargoso (Digitaria insularis) começou dar sinais de problema. Essas tres espécies são caracterizadas com as mais preocupantes no quesito resistência a herbicidas.
O que se percebe atualmente é que não só o glifosato mantem o status ineficácia perante alguns biótipos – produtos com o ingrediente ativo iodosulfurom metílico (trigo), nicosulfuron (milho) e outros graminicidas (utilizados na dessacação pré-semeadura da soja ou milho ou na cultura da soja para controle do azevém) também entraram para essa lista. Os produtores paranaenses tem razão de sobra para se preocuparem e assim estarem vigilantes quanto aos níveis de disseminação que determinadas espécies podem chegar.
E válido ressaltar que o controle químico é apenas parte do programa que deve ser estabelecido para o controle das plantas daninhas resistentes. Entre as técnicas avaliadas pode se destacar o cultivo do trigo ou da aveia que, associados com o uso de produtos na cultura e na pós-colheita, desempenharam papel fundamental no controle da buva; ainda há a rotação de culturas, rotação de mecanismos de ação, integraçao de métodos de controle e limpeza das máquinas.
Azevém
São muitos os casos de falhas no controle do azevém antes da semeadura do milho e da soja. O controle dos biotipos de azevém resistentes ao glifosato, de forma geral, éobtido com uso dos herbicidas graminicidas. Na cultura do milho, as triazinas e o nicosulfuron, entre outros, são boas alternativas de controle do azevém.
É importante o planejamento do controle antes da semeadura (15 a 20 dias antes da semeadura da soja) de forma a permitir o controle do azevém em tempo suficiente para evitar os efeitos negativos da competição sobre a cultura. Além disso, em caso de uso de graminicidas, deve-se levar em consideração que alguns deles possuem efeito residual e podem afetar culturas como o milho, o trigo e a cevada.
Vale destacar que alguns herbicidas graminicidas podem apresentar residual de solo e afetar cultura como milho, trigo e cevada. Para evitar problemas deve-se respeitar os períodos de carência recomendados.
Capim-amargoso
O controle de biótipos resistentes envolve o uso de graminicidas pós-emergentes e alguns herbicidas que atuam como pré-emergentes. Quando ocorre durante o desenvolvimento da cultura da soja, o fechamento das entrelinhas mostrou ser um grande auxiliar na ação dos herbicidas. Plantas adultas que se desenvolvem na entressafra são difíceis de serem controladas. Assim, o maior risco está em se tentar o controle de plantas já desenvolvidas, pois requerem altas doses e aplicações sequenciais com intervalos de 25 a 30 dias.
Não são raros os casos de rebrota, o que reforça a importância da eliminação das plantas novas. A integração do controle mecânico com o quimico pode trazer resultados em plantas desenvolvidas, mas em grandes áreas essa alternativa tem baixo rendimento, e onerosa, e de pouca viabilidade prática. Quando cortadas após a passagem da automotriz, as touceras devem ser tratadas com herbicidas cerca de 15 a 20 dias após.