Pecuária

Suínos: um novo destino

PEDRO DE CAMARGO NETO, PRESIDENTE DA ABIPECS, ACREDITA QUE A CHINA DEVE SE TORNAR IMPORTANTE IMPORTADORA. “ESSA É A EXPECTATIVA, VAMOS AGUARDAR. O QUE CONSEGUIMOS AGORA É PARTICIPAR, INICIAR O CAMINHO DO COMÉRCIO PARA AQUELE PAÍS”.

FABIANO COSER, DIRETOR EXECUTIVO DA ABCS: “A ABERTURA DA CHINA PARA A CARNE SUÍNA BRASILEIRA REALMENTE TEM QUE SER COMEMORADA, POIS PODE-SE ABRIR UM NOVO CICLO DE EXPANSÃO DAS EXPORTAÇÕES”

PARA CÉLIO PORTO, SECRETÁRIO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO AGRONEGÓCIO DO MAPAA NEGOCIAÇÃO REPRESENTA UMA OPORTUNIDADE IMEDIATA COMO TAMBÉM DE RÁPIDO CRESCIMENTO PARA O FUTURO.

Pela primeira vez, a China abre o mercado para a carne suína brasileira. A expectativa é de que a negociação abra um novo ciclo para o segmento. Na prática, como o potencial dessa demanda pode afetar, de imediato, a produção nacional?

Foram cinco anos de negociação, até que no último mês a China anunciou a abertura de mercado para a carne suína brasileira. Inicialmente, três unidades, das 13 inspecionadas no final de 2010 estão habilitadas para vender essa carne àquele País, mas a perspectiva é de que o número aumente em breve, dado que a China é o maior consumidor mundial de carne suína com volume per capita equivalente a 37 quilos por habitante/ano, o que somado correspondeu a 50 milhões de toneladas do produto em 2010, conforme apontam dados da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), já para os próximos meses, há a previsão de que o governo chinês amplie a lista de frigoríficos exportadores de suínos e aves, período em que se pretende sanar todas as dúvidas e questionamentos dos chineses em relação às demais indústrias. Diante desse contexto, a abertura tem sido muito comemorada pelo setor, mas o momento ainda é de cautela, segundo apontam alguns especialistas.

Na opinião de Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, é sempre importante ressaltar que o que se foi obtido foi uma ruptura, com a conclusão de um processo de aprovação sanitária para a China. “Temos agora a oportunidade de avaliar a competitividade do Brasil naquele mercado, compreender o tipo de corte que desejam e conseguirmos vender. A demanda sendo forte serão os importadores chineses que ajudarão a ampliar o número de estabelecimentos. O primeiro passo foi dado”, pontua.

Como a abertura é bastante recente, ele adverte que, apesar da China ser um mercado bastante promissor, os produtores brasileiros necessitam estar atentos antes de qualquer novo passo para atender mais e melhor aquele País. “É preciso primeiro conhecer o mercado, pois não se pode colocar o carro à frente dos bois. Os investimentos ocorrerão junto com a demanda que, esperamos, seja forte. O Brasil tem qualidade, pode ter quantidade e a competitividade dos cortes precisa ainda ser melhor compreendida. Por outro lado, temos ainda problemas muito sérios com a questão cambial, logística e carga tributária”, conta ele, lembrando que a China deve se tornar importante importadora. “Hoje os volumes importados ainda variam muito de um ano para outro. Vamos aguardar. O que conseguimos agora é participar, iniciar o caminho para esse novo comércio”.

Para Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Mapa, a decisão do governo da China representa uma oportunidade imediata como também de rápido crescimento para o futuro. “Os chineses respondem por 50% da carne suína produzida no mundo, porém estão cada vez mais aumentando a renda per capita e devem ampliar o consumo de carnes”, afirma.

Sobre os impactos imediatos que a negociação pode causar na cadeia produtiva, Fabiano Coser, diretor executivo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), também considera a comemoração válida, destacando a importância de prudência. “É uma notícia impactante, pois, desde a abertura do mercado da Rússia no início dos anos 2000, não tínhamos uma novidade tão importante em termos de comércio internacional. Chegamos ao auge da exportação em 2005, mas desde então o Brasil não cresce. Já estamos há seis anos com as exportações estagnadas e o mercado chinês, apesar da China ser o maior produtor mundial, está aumentando e irá precisar importar suína. Até então eles não apareciam no cenário mundial como grandes importadores mundiais, mas agora realmente não tem uma capacidade de expansão tão rápida quanto à demanda”, afirma.

Segundo o representante da ABCS, o acordo com os chineses pode vir a representar um impacto muito grande, de até 30% do valor das exportações, em um primeiro momento algo em torno de até 150 mil toneladas. “Por esse motivo, o Brasil não precisa ter muita pressa, porque no momento o País nem teria essa oferta já que se tirássemos hoje do mercado brasileiro 150 mil toneladas de carne suína realmente teríamos uma inflação de demanda aqui dentro, o que para o setor não é interessante. Temos consolidado as posições de crescimento no mercado doméstico e nos preparado para absorver tanto esse aumento de demanda no Brasil, quanto esse possível aumento de demanda no mercado externo com a abertura da China”, observa.

Coser afirma ainda que a cadeia produtiva está muito bem organizada, eficiente e tem condições e estrutura de atender a demanda em um curto prazo, considerando um período de um ano e meio a dois anos. Para ele, a principal vantagem do Brasil em relação aos principais seus concorrentes (Estados Unidos, União Europeia e Canadá) está em sua competitividade, com diferencial incomparável em termos de áreas, grãos, água, por exemplo. “Podemos aumentar nossa produção, enquanto os outros têm limitações sérias em relação a meio ambiente e grãos. Temos também uma capacidade muito grande de transformar nosso grão em carne, o que já é feito com sucesso em aves e bovinos. Então, quando você exporta carne você agrega valor ao grão, ao invés de exportar farelo de soja para a China, vamos agora exportar carne suína. Esse é o grande ponto positivo”.

Por fim, ele adverte que é preciso ficar de olho no mercado chinês e outros, mas sem perder o foco no mercado brasileiro e outros compradores, como a própria Rússia. “Para se tornar um grande exportador, é preciso ter um grande mercado doméstico, pois no caso de acontecer algum problema nas vendas externas, é necessário ter onde absorver essa produção. É esse trabalho que a suinocultura vem trilhando para se tornar um grande consumidor ao mesmo tempo em que se prepara para aumentar suas exportações. É esse caminho que temos trabalhado ao longo dos anos e em 2010 já fechamos com um consumo per capita de 14,5 e vamos superar esse ano os 15 quilos tranquilamente. Este é o momento de, também internamente, aproveitar esse ‘boom’ de crescimento e realmente mostrar ao brasileiro o potencial e o sabor da carne suína”.

Comércio bilateral

De acordo com o Mapa, desde 2008, a China é o principal comprador de produtos agropecuários brasileiros. Nos últimos três anos, exportações brasileiras para a China cresceram 214%, passando de US$ 3,5 bilhões em 2007 para US$ 11 bilhões em 2010.

O complexo soja (óleo, grão e farelo) lidera as compras chinesas, com US$ 7,9 bilhões ou 20 milhões de toneladas. Dos três subprodutos, o grão representa a maior parcela das importações – US$ 7,1 bilhões. O Brasil também exporta para a China produtos florestais (madeira, cortiça, celulose e subprodutos) totalizando US$ 1,28 bilhão.

O valor total das exportações do complexo sucroalcooleiro, que compreende açúcar e etanol, é de US$ 514,77 milhões, sendo US$ 514,76 milhões referentes à importação de açúcar. A China também importa carne bovina e de frango do Brasil. No ano passado, as importações do produto renderam US$ 225,6 milhões, dos quais US$ 219,6 milhões referem-se à carne de frango. No ano passado, o Brasil foi o principal fornecedor de carne de aves para os chineses.

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