Agricultura

Precisão: foco exato na produção

Com a evolução das tecnologias de comunicação via satélite e equipamentos de monitoramento de colheita, o agricultor agora para a fase do manejo preciso na lavoura.

Com a evolução das tecnologias de comunicação via satélite e equipamentos de monitoramento de colheita, o agricultor agora para a fase do manejo preciso na lavoura.

“NO CALCÁRIO A REDUÇÃO FOI ABSURDA. GERALMENTE O PESSOAL FALA, ‘VAMOS FAZER APLICAÇÃO DE CALCÁRIO DE QUATRO EM QUATRO ANOS’, E ESQUECEM ATÉ DA AMOSTRAGEM DO SOLO. ENTÃO IDENTIFICAMOS OS LUGARES QUE REALMENTE PRECISAM SER TRATADOS, FAZEMOS A CORREÇÃO E GASTAMOS O QUE PRECISOU SER GASTO”, DIZ CÁSSIO DE OLIVEIRA KOSSATZ, ENGENHEIRO AGRÔNOMO E PRODUTOR DE GRÃOS NA REGIÃO DE PONTA GROSSA (PR).

PARA MARIANA CAMARGO, GERENTE DE PRODUTO DA CASE IH, AGRICULTURA DE PRECISÃO É JUSTAMENTE TRATAR CADA PEDAÇO DE TERRA COMO SE FOSSE ÚNICO E COM PARTICULARIDADES.

Cássio de Oliveira Kossatz, engenheiro agrônomo e produtor de grãos na região de Ponta Grossa (PR), decidiu há sete anos experimentar uma das ferramentas que então revolucionaria a atividade dele – era o que se chamava de agricultura de precisão. Foi na época que esteve que na faculdade que pôde tornar conceitos teóricos em práticos, e o resultado que testemunhou foi de redução de custos em adubação, ao mesmo tempo em que ganhava em produtividade. “Mantivemos e aumentamos o rendimento da lavoura em algumas áreas, só que o diferencial é que não jogamos adubo onde não era necessário. A partir daí, começamos a detalhar mais o nosso solo”, relata Kossatz.

Entre os principais elementos utilizados estão o calcário, o cloreto de potássio e o fósforo. “No calcário a redução foi absurda. Geralmente o pessoal fala, ‘vamos fazer aplicação de calcário de quatro em quatro anos’, e esquecem até da amostragem do solo. Então identificamos os lugares que realmente precisam ser tratados, fazemos a correção e gastamos o que precisou ser gasto”. No calcário houve uma baixa de custos em torno de 20%. Com o cloreto de potássio, o produtor já registrou uma queda total no uso desse elemento. Quanto ao fósforo, houve uma economia de 40% em algumas áreas. Só para se ter uma ideia, todos esses tratos com esses três elementos chegam a custar mais de 40% da produção.

Da média ao grid

O primeiro passo tinha de começar justamente com o reconhecimento da área onde o produtor ia plantar – as análises de solos informarão o há e o que falta. Mas a partir daí, o método teve de mudar para se adequar ao conceito de agricultura de precisão. Tradicionalmente, quando se faz uma análise de solo, são coletadas várias amostras em determinados pontos de uma área e, com base nos resultados obtidos, tira-se a média. Isso pode influir em correção de áreas que não tinham problema algum ou mesmo suprir pouco as que, por ventura, necessitassem de mais elementos.

“Por que trabalhar na média se eu posso desenvolver meu trabalho a partir de dados mais precisos?”, indaga Kossatz. Foi a partir dessa ideia que a média foi deixada de lado para a entrada do conceito de grids de amostragem.

Funciona da seguinte maneira: a área foi divida de dois em dois hectares (ha), por opção do próprio produtor. Cada uma dessas divisões correspondem a um grid (grade) e são devidamente identificadas pela posição geográfica (latitude e longitude) que se encontram na Terra, através do sistema GPS (Global Positioning System, ou Sistema Global de Posicionamento). Por exemplo, numa das propriedades de Kossatz, uma área de 72 ha foi dividida em 30 amostras, ou grids.

As análises são feitas e para cada grid há uma referência do que há de elementos necessários ou deficitários naquela área correspondente. “Mas isso ainda é um grid quadrado, matemático… O ideal seria criar zonas de manejo. Nosso próximo projeto é identificar nossas zonas de manejo e intensificar as operações nesses lugares”, conta.

O produtor entende que a análise de solo passa ser interessante se a fizer anualmente – em função de estar sempre se fazendo o monitoramento da área e a traçando a tendência do local, e isso não é necessário se fazer no mesmo grid. “O mais interessante é que você passa a ter um histórico de tua área, e a partir de então, começa a identificar algumas deficiências, manchas e tendências”, avalia.

Contagem de grãos

De posse dos dados referenciados geograficamente, isso é repassado à máquina – trator, pulverizador ou colheitadeira, dependendo da tarefa a se desempenhar. No caso da colheitadeira, a máquina lerá o quanto cada área está rendendo. Segundo Kossatz, durante esse processo ela identifica os níveis de entrada de grãos e aí gera um banco de dados. Essa leitura pode ser feita de um em um segundo ou de três em três, e a informação sai relativa à largura do implemento utilizado ou da plataforma de colheita [entenda melhor esse processo no quadro ‘O funcionamento da máquina’].

Para Mariana Camargo, gerente de produto da Case IH, agricultura de precisão é justamente tratar cada pedaço de terra como se fosse único e com particularidades. Além disso, ela crê que a tecnologia atualmente oferecida no mercado passa a garantir maior destaque a esse novo conceito na agricultura em função da maior disponibilidades de satélites ao redor da Terra. “Alguns dos primeiros equipamentos que vieram para o Brasil [em meados de 1995] tinham problema com o sinal. Isso porque só tínhamos uma constelação de 24 satélites, o GPS que é o sistema americano. Hoje já dispomos do Glonass (Global Navigation Satellite System, ou Sistema Global de Navegação via Satélite) que é o sistema russo – aí são mais 24 satélites. Mais recentemente, temos o Galileo, que é europeu. Tudo isso proporcionou uma evolução na qualidade de sinal e a qualidade dos monitores de colheita melhorou também”, ressalta.

Resultados na lavoura

Um dado interessante de Kossatz foi o resultado da safra passada de milho. Na época, muitos produtores da região pereciam com a seca, e tiravam em média cerca de sete mil quilos por hectare (kg/ha) do grão. Já na propriedade do agricultor, que também passava pelos mesmos problemas, ele afirma que pôde tirar facilmente 9.900 kg/ha. “A explicação disso está justamente na saúde do solo que reflete diretamente no rendimento da lavoura”, testifica. “Outro fato curioso… Identificamos numa área que metade dela – e não me pergunte por quê, pois isso é solo – era argilosa, com uma boa textura, e a outra metade era areia. O que fizemos? Colocamos um milho de extremo potencial na área boa, e conseguimos colher uns 11,5 mil kg/ha. Na outra área, plantamos um milho de baixa tecnologia com semente mais barata e reduzimos o adubo, pois ele ia embora mesmo porque era uma areia. Ao final, chegamos a uma produção de nove mil kg/ha. Aí, vão dizer, ‘é ruim nove mil’, mas e o retorno que tive com a semente mais barata e menos adubo? Isso também foi uma ajuda da agricultura de precisão”, relata Kossatz.

Custos para adoção da tecnologia

O retorno do investimento dependerá do agricultor e do tipo e da qualidade da área a ser cultivada. No caso da propriedade de Kossatz, no primeiro ano foram feitas as amostragens, e o que mais chamou a atenção do produtor foi a economia de 60% total na adubação. No segundo ano, os solos ainda registravam níveis altos dos elementos necessários. Como resultados, houve economia nesse trato com a terra e alcance de produtividade. “Pensando em maquinário, geralmente o pessoal fala que os equipamentos para a agricultura de precisão são muito caros. Se você reduzir 20% da tua adubação que custa 40% de todo o teu custo, a máquina se paga no primeiro ano”, contabiliza o agricultor.

Alta rotatividade

Não só o uso da tecnologia de maquinário fez a diferença. O manejo consciente no uso da terra também foram as bases que elevaram o rendimento de Kossatz. Lá ele desenvolve um programa de rotação bem diversificado baseando nas culturas da soja, milho, trigo, cevada, um pouco de feijão e aveia preta – que só serve como adubo verde para o plantio direto. “No esquema de rotação basicamente a gente tenta começar com o milho, depois o trigo, já adubando a soja, e aí termino com soja”, declara o produtor.

Na safra atual a média de soja, cultivada em 1.600 ha, teve um rendimento de 3.800 kg/ha. Já o milho está estimado num rendimento de 10,5 a 11 mil kg/ha.

Quanto ao trigo, apesar de muitos produtores o enxergarem como uma lavoura sem atrativos em termos econômicos, para Kossatz o cereal vem a agregar valor ao solo. “É uma cultura bem complicada, a gente sofre com o preço. Vem trigo da Argentina com preços e qualidade melhores, mas, na nossa empresa, levamos o trigo como um integrante para a rotação de culturas. Então ele já ajuda muito na adubação do sistema. O pessoal às vezes não faz a conta. Eles falam que o trigo dá prejuízo, mas esquecem que no plantio da soja não foi adubo. Aí o rendimento dela não será bom”, pondera.

O funcionamento da máquina

1) Através de um receptor GPS instalado na máquina, ela recebe a informação de posicionamento geográfico via satélite. Devida a evolução dessa tecnologia, atualmente é possível obter uma informação com apenas 2,5 centímetros de erro;
2) Toda essa informação é repassada a outro equipamento, o monitor de colheita, que deverá ser informado pelo operador o tamanho – largura – do implemento (seja uma plataforma de colheita ou uma plantadeira). Além disso, são transmitidos a esse aparelho os detalhes da área a ser manejada (um programa de computador faz o mapeamento da área com base nos dados dos grids de amostragem);
3) Sob o comando de um piloto automático, a semeadura, colheita, ou pulverização será feita obedecendo todos os parâmetros de localização da máquina e da área – o equipamento não permite a repetição do trabalho em numa mesma área, e, no caso de uma adubação, ele comandaria fazê-la onde fosse necessário;
4) Atualmente há dois tipos de pilotos automáticos – o elétrico e o hidráulico. O primeiro tem um motor que traciona o volante no sentido de corrigir e manter a rota da máquina. O segundo atua diretamente no rodado dianteiro, coordenando a direção.
5) Cabe ao operador as funções de velocidade e parada da máquina, quando for terminada a ação em determinada faixa de terreno (talhão), assim como dar a volta e fazer o posicionamento da máquina para dar continuidade à tarefa.

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