Após apresentar bons rendimentos na safra 2009/2010, ensaios de cultivares de soja em área de várzea atraem novos parceiros e alcançam novas áreas no Rio Grande do Sul.
A Fundação Pró-Sementes apresentou no mês de setembro os resultados de um estudo inédito realizado em solos gaúchos durante a safra 2009/2010. Trata-se dos Ensaios de Cultivares Registradas (ECR) de soja transgênica, em áreas que tradicionalmente são ocupadas por lavouras de arroz. O experimento foi conduzido em uma área experimental em Cachoeira do Sul (cidade conhecida como a ‘Capital Nacional do Arroz’ distante a cerca de 196 km da capital) que recebeu 49 cultivares e chegou a atingir média de 3.312 kg/ha ou 55 sc/ha. A melhor cultivar testada chegou a 4.593 kg/ha ou 76,5 sc/ha.
No Estado, na mesma safra, foram avaliados o desempenho de cultivares em Passo Fundo, Vacaria, Santo Augusto, Júlio de Castilhos, São Gabriel, São Luiz Gonzaga (regiões de coxilha – áreas de colinas cobertas por pastagem). Lá, os ensaios têm apoio da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).
De acordo com Victor Sommer, engenheiro agrônomo da Fundação Pró-Sementes, os resultados da primeira edição em área de várzea trouxeram uma experiência muito positiva que despertou não apenas o interesse dos produtores, como também de outras entidades que tornaram-se parceiras no desenvolvimento desses testes. “O sucesso foi tanto que para a safra 2010/2011 estabelecemos parcerias com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade Clima Temperado, de Pelotas. Juntos, estamos conduzindo novos ensaios em áreas de várzea em oito locais do Estado”, conta.
Os ensaios foram divididos da seguinte forma: a Embrapa Clima Temperado os conduzirá em Capão do Leão, Santa Vitória do Palmar e Arroio Grande; O Irga fará os ensaios nas cidades de São Gabriel, Camaquã e Capivari e a Fundação Pró-Sementes conduzirá em Pelotas três épocas do ECR, em condição de coxilha e dois ensaios em áreas de várzea, em Pelotas e Cachoeira do Sul. Atualmente, o Rio Grande do Sul cultiva cerca de 1 milhão de hectares de arroz, por isso, segundo o engenheiro agrônomo, a perspectiva para essa parceria é muito promissora.
A Fundação Pró-Sementes aponta que um dos grandes problemas encontrados nos arrozais é a forte atuação de plantas invasoras, que são de difícil controle, prejudicando a qualidade e o rendimento da lavoura. Assim, segundo Victor Sommer, a soja entra como opção na rotação de culturas em áreas com grande quantidade de invasoras. Por se tratar de uma leguminosa, a soja funciona perfeitamente na rotação de culturas de espécies, reduzindo o aparecimento dessas invasoras e melhorando a produtividade. “Essa é uma excelente forma de fazer com que se elimine esse problema que tanto atrapalha a produção de arroz. Além disso, existem poucas informações sobre o desempenho das cultivares de soja em solos de arrozeiros. Geralmente, quem planta soja nessas áreas, se utiliza de informações de desempenho de cultivares de outras regiões do Estado”, aponta.
Apesar do ineditismo desse estudo, a Fundação Pró-Sementes, existente há 11 anos, tem realizado ensaios desde a safra 2008/2009, com o objetivo de auxiliar o produtor rural e a assistência técnica na hora escolha das melhores cultivares para determinada região. A Rede Experimental está presente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Além das culturas de soja e trigo, que contemplam a maior parte dos trabalhos, os estudos também são realizados com forrageiras de inverno e de verão, canola, cevada, aveia branca e preta. Os resultados são disponibilizados aos produtores e demais interessados por meio de uma publicação física com distribuição em congressos, reuniões técnicas e simpósios. A versão digital é divulgada no site da Fundação. Outra forma de divulgação é através de dias de campo organizados, normalmente, na pré-colheita de cada cultura. “Nesses eventos, os participantes conhecem todas as cultivares semeadas nas mesmas condições. Na verdade, não fazemos propaganda de nenhuma cultivar, apenas as demonstramos para que cada um chegue a suas própria conclusão”.
Na safra 2010/11 estão sendo conduzidos 39 Ensaios de Cultivares Indicados de Soja. Para se ter uma ideia do crescimento do projeto, Victor Sommer aponta o aumento observado na safra 2009/2010. “No Rio Grande do Sul, considerando os ensaios da Fundação juntos aos dos parceiros, foram 20 ensaios de cultivares transgênicas e paralelamente temos mais três convencionais, totalizando 23; Em Santa Catarina são dois transgênicos e dois convencionais; No Paraná, são seis ensaios de cultivares em rede de transgênicos e quatro convencionais; Em São Paulo são quatro transgênicos e dois convencionais e em Mato Grosso do Sul são cinco transgênicos e dois convencionais; No total, 37 transgênicos e 13 convencionais na Rede Experimental”, explica.
Com exceção do Mato Grosso do Sul, em todos os outros Estados a Fundação conduz os ensaios. Naquela região, há um profissional realizando o trabalho para a entidade. Para a safra 2011/2012 há a perspectiva de que esses estudos também sejam feitos no Mato Grosso, pois há uma demanda muito grande, principalmente em relação à importância da soja convencional naquele Estado, diferente do que há no Rio Grande do Sul. “O experimento abordará ambas variedades. É importante lembrar também que o número de cultivares aumentou bastante no Brasil. Da Região Sul até o Mato Grosso do Sul, temos 181cultivares, entre RR (transgênica) e convencional”, diz. “No Rio Grande do Sul são 90 RR e 19 convencionais; Em Santa Catarina são 94 transgênicas e 20 convencionais; No Paraná 92 e 26; Em São Paulo 89 e 24 convencionais; No Mato Grosso do Sul são 98 e 28 convencionais. No Total são 138 cultivares de RR e 43 convencionais”, completa.
Sediada em Passo Fundo (RS), a Fundação Pró-Sementes possui uma filial em Campo Mourão (PR) e conta com 23 profissionais entre área técnica e administrativa. Em Rondonópolis (MT), a instituição conta com um ponto avançado para certificação de sementes, um pilar de sua atuação em todos os Estados em que atua. “O que temos de inédito nesse sentido são os nossos campos de pré-controle, nos quais semeamos amostras de lavouras de agriculturas que querem certificar sementes. Somos a única empresa no Brasil a realizar essa fiscalização prévia visando observar possíveis variações e misturas nas amostras e com isso garantir que apenas sementes dentro dos padrões de qualidade de certificação cheguem ao agricultor”, finaliza.
O primeiro levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) referente à safra de grãos 2010/2011 prevê uma produção entre 145,72 e 147,93 milhões de toneladas. O estudo divulgado em outubro aponta uma redução de 887,60 mil (-0,6%) a 3,10 milhões de toneladas (-2,1%0) em relação à safra passada e que a área destinada ao plantio deve variar entre 47,32 (-0,1%) e 47,99 milhões de hectares (+1,3%), em relação à 2009/2010 que ficou em 47,37 milhões de ha. De acordo com a companhia, a soja está entre os principais responsáveis pela variação negativa na produção e na área plantada desta safra, já que a previsão é que os sojicultores colham de 67,60 (-1,5%) a 68,90 milhões de toneladas (+0,3%) sobre a safra anterior (68,68 milhões de toneladas). A área destinada à cultura varia positivamente de 23,76 (+1,3%) a 24,20 milhões de ha (+3,1%), sendo que a da safra anterior foi de 23,46 milhões de ha.