Agricultura

Milho: bons ventos passam pelo milharal

Se no ano de 2009, o setor de grãos resultou em um cenário positivo (com uma safra de 2008/09 – sendo a segunda maior da história brasileira – com 134,99 milhões de toneladas (t), ficando atrás apenas do ciclo 2007/08), este ano o roteiro promete seguir a mesma tendência, a começar pelo milho. E com um fator pra lá de positivo. Um dos bons indicativos é o preço do cereal. O produtor mato-grossense é quem diz. No início do ano, ele não imaginava a arrancada de preços que o milho daria no mercado.

De acordo com o levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o preço da saca de milho no período de julho a novembro de 2010 cresceu 56% nas principais regiões do Estado acompanhadas pelo órgão. Em três cidades, por exemplo, a tendência foi só de alta.

Em Campo Verde, o preço médio foi o maior visto desde junho de 2009, o preço atingindo pela saca (sc), no início do mês de novembro chegou a R$ 16,30 a compra e R$ 17,30 a venda. Em Lucas do Rio Verde, o valor pago para os produtores venderem o cereal ficou cotado em média R$ 16/sc. Na região de Primavera do Leste, a compra chegou a R$ 16,50 e R$ 17,50 /sc a venda.

Mediante aos valores de negociação, o coordenador do Centro de Comercialização de Grãos (CentroGrãos) da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato), João Birkhan, já aponta que pela primeira vez na história os produtores começam a fazer as contas de não plantar soja e realizar a primeira “safrona” do milho. Aliás, a cultura em Mato Grosso (MT) sempre foi vista como alternativa (cultivada apenas como safrinha). “Atualmente, o preço da saca no município de Sorriso (MT) é de R$ 14 reais, sendo que a venda neste ano chegou entre R$ 8 e R$ 9 reais. O preço bom e as previsões de colheita podem garantir que o mercado mantenha esse patamar de valorização, as perspectivas são que os preços não caiam e nem subam mais, apenas se mantenham”, conta Birkhan.

Lá no Estado, o que preocupa os produtores neste momento é que a safrinha é plantada no vazio sanitário da soja (cultura que começou o plantio em meados de setembro e se estenderá até final de dezembro). “Muito embora, em função do La Niña e sua provável consequência futura, de redução de chuvas, há um atraso na plantação de soja. O que alertamos é que se o produtor deixar para plantar milho após fevereiro poderá ficar mais arriscado e não garantir uma boa colheita”, acentua Birkhan.

Em um outro polo produtor, o Paraná, é possível que haja um aumento na área do milho safrinha, por conta dos preços do grão e por causa do trigo, que não está tendo uma boa comercialização. “O produtor não deixa terreno vazio: ou planta o milho safrinha ou o trigo. Esse segundo é uma opção boa em termos de produtividade no Sul, mas sua comercialização está complicada. Com relação ao milho, na primeira safra, houve de fato uma redução no plantio, em torno de 15%. Hoje, as expectativas são outras, porque existe no mercado um preço compensador”, explica Dilvo Grolli, presidente da Coopavel (Cooperativa Agroindustrial que possui atualmente 26 filiais instaladas em 17 municípios das regiões oeste e sudoeste do Paraná).

O preço do milho no Estado chegou a R$ 18,50, hoje o produtor recebe o valor de R$ 16,50/ sc, o que representa uma ligeira queda já questionada pelos agricultores. Mesmo assim, a expectativa é que produtor opte pela safrinha. “Em suma se prevê um aumento de plantio e nesse momento, lá na região, o produtor acaba de plantar a safra de verão e a partir de agora ele vai começar a se movimentar para ver se que vai fazer na safra posterior: o milho safrinha ou o trigo. Mas, nos contatos que temos com os produtores aqui, há uma tendência de aumento da área de safrinha motivados pelo preço e facilidade de comercialização. Você plantou, colheu, quer vender, tem quem compre. Diferente da questão do trigo que continua empacado”, conclui Grolli.

O plantio de milho está em ritmo acelerado no Paraná. Depois de semanas de forte estiagem, voltou a chover no Estado e os produtores tentam recuperar o tempo perdido. Em apenas uma semana, o plantio evoluiu 23% atingindo hoje 37% da área estimada nesta safra verão. Mesmo assim, há atraso na comparação com 2009, quando 52% das lavouras de milho haviam sido implantadas nesta época do ano. A retomada do plantio em ritmo acelerado atende às orientações técnicas por causa do fator tempo. (veja Box: Se São Pedro ajudar).

Situação do Mercado

Já a opinião do gerente de Levantamento e Avaliação de Safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Carlos Roberto Bestetti, é contrário a de Grolli. De acordo com ele mesmo diante as expectativas do mercado, o órgão sugere que no Paraná, por exemplo, poderá haver uma redução 14% de área e 6,5% na produção. “O trigo no mercado internacional caiu e o milho subiu, de repente, assim houve uma movimentação no mercado interno inesperada na Região Sul”, diz Bestetti.

Já com relação à previsão de colheita do grão nos dois Estados citados, não foi possível mencionar uma vez que a Conab tem por tradição não divulgar perspectivas de dados. Porém, Bestetti faz uma suposição do que pode ocorrer no Mato Grosso, por exemplo. “Os produtores não conseguiram semear soja precoce a tempo, com isso a ‘janela’ ficou estreita. Ainda temos o fator do clima La Niña onde se pode chover ou não. Esse ano será difícil fazer uma previsão de safra. Porém, se tudo conspirar a favor, teremos um ano excelente no Rio Grande do Sul e máxima produtividade de soja e milho em Goiás e Mato Grosso do Sul e Mato Grosso”, contesta.

Com esse cenário, qual a expectativa das empresas do segmento? Na opinião de Paulo Bertollini, representante Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), produtor no município de Castro (PR), a situação das altas dos preços é bem recente. Isso, segundo ele, se deve aos estoques da China que precisam agora de uma nova reposição. “O país consumiu todo o seu estoque e isso abre uma boa perspectiva. O mercado chinês é o maior consumidor e o Brasil tem chance de atender essa demanda. A tendência é que o milho safrinha atinja 10 milhões de toneladas. Porém, não houve tempo para o produtor optar por uma cultura e muitos deles, já tinham decidido por outra. Por consequência, foram poucos, o que optaram pelo milho”, diz.

E se São Pedro ajudar…

Contudo, se haver boas previsões de chuva, acreditam-se que ainda é cedo afirmar em uma queda significativa na área semeada com milho. De acordo com a meteorologista do grupo de previsão climática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Priscila Farias, há uma condição grande determinada pelo fenômeno La Niña, que não ocorre todos os anos e da mesma forma. “Perante isso, nós temos uma redução de chuvas na Região Sul do País que começa agora, principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O Paraná chove menos que climatologia é esperado, consequência da La Lima, no qual chove menos e o período que chove é agora, porém, com chuvas abaixo do normal”, conta. “Entretanto, a gente não pode descartar um evento mais severo, principalmente, porque é natural na atmosfera chuvas provocadas pelo calor e úmida”, justifica Farias. Ainda segundo ela, o Paraná e o Mato Grosso estão com a mesma característica climatológica e com isso terão a mesma previsão.

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