Agricultura

Horta: tem vida na horta

Distribuído em 12 Estados, o Sistema Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) chega à região sul do Brasil disseminando o conceito orgânico entre os pequenos produtores. A introdução dessa tecnologia social trouxe uma nova realidade aos agricultores do Paraná, que, agora, estão prestes a lançar um projeto próprio, o Vida na Horta.

“Uma alternativa de melhoria de renda para as pequenas propriedades”, é assim que Geraldo Maurício de Araújo, prefeito de Ribeirão Claro (PR), define o Sistema Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), adotado pelo município localizado no norte paranaense em julho de 2009. Esta foi a primeira vez que uma cidade da Região Sul do Brasil recebeu a iniciativa, que consiste na produção orgânica de hortaliças e de outros produtos, excluindo o uso de fertilizantes sintéticos e agroquímicos.

Com o suporte do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o PAIS – idealizado pelo engenheiro agrônomo Aly Ndiaye, em 2005 – foi implantada na região com o objetivo de transformá-la em um polo de agricultura orgânica e de mostrar aos agricultores que é possível trabalhar com conceito de desenvolvimento local sustentável, conforme explica Patrícia Sogayar, fundadora do Núcleo de Aprendizagem de Práticas Sustentáveis Paulo Sogayar (NAPS), entidade que – junto ao Sebrae e outros parceiros – é uma das principais articuladoras do PAIS, em Ribeirão Claro. “Nossa intenção, a princípio, era de desmistificar o termo ‘orgânico’ e provar que se pode obter renda em um negócio que trabalha junto ao meio ambiente e não contra ele. Em uma conversa com o Sebrae nacional surgiu a ideia de se levar ao município essa tecnologia que já estava disseminada em outros doze Estados do Brasil”, conta. Vale lembrar que o NAPS é um centro de transformação para sustentabilidade que funciona na Fazenda Platina, propriedade na qual há uma horta ecológica desenvolvida para servir como unidade de demonstração e aprendizagem.

Seguindo o ditado que diz que “a união é faz a força”, o projeto-piloto do PAIS no município tem a participação de 30 produtores em um grupo inicial, constituídos em uma associação para que eles possam realizar vendas e compras conjuntas. E foi com esse objetivo que no início deste ano surgiu a Associação Agricultores de Produtos Orgânicos de Ribeirão Claro (APO), entidade que já reúne, atualmente, 21 membros. “O associativismo é fundamental nesse sentido. O grupo gestor do projeto conseguiu criar em sua origem uma integração entre organizações de diversas vertentes, visando atender todas as necessidades dos participantes, desde assistência técnica, cursos de capacitação, missões técnicas para avaliar o potencial do mercado orgânico e busca de certificação da produção. Esperamos que esse grupo inicial seja um modelo para que outros pequenos produtores vejam na agricultura orgânica uma nova possibilidade de vida, uma maneira de gerar renda, protegendo o meio ambiente com qualidade de vida saudável tanto para eles, quanto para os consumidores desses alimentos”, conta Sogayar.

Vida na Horta Orgânico

Após quase um ano e meio de atividades, o PAIS em Ribeirão Claro está entrando em uma nova fase. O acúmulo de experiências durante esse período deram base para que os produtores pensassem em ir mais além, com a criação de um programa próprio, o Vida na Horta, que será lançado na primeira semana de dezembro. De acordo com Marilda Aparecida Baggio Victor, empresária e presidente da APO, para a semana de lançamento está prevista uma grande divulgação da iniciativa, mostrando qual a diferença de consumir um item convencional ou um orgânico, o potencial dessa segunda alternativa, levando informações ao mercado, receitas e, é claro, promovendo degustações.

O Vida na Horta chega também como consequência de outra conquista da APO, a certificação do primeiro grupo de produtores de produtos orgânicos da região. “Oito dos associados receberam, no mês de outubro, o selo de certificação Orgânico Brasil, conferido pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) – primeira instituição acreditada no âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg), do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os demais, estão em processo para conseguir o selo. Tem bastante gente sabendo da história e querendo participar. Conquistamos o selo com custo zero, pois foi o governo do Paraná quem pagou os custos à certificadora”, comemora Marilda Victor, que, inclusive, já exibe orgulhosa o certificado em uma moldura em seu estabelecimento.

A presidente da entidade relembra que mesmo antes de entrar no PAIS já fazia opção de produzir sem agrotóxicos em sua chácara. “A cerca de oito anos venho cultivando dessa forma e costumava falar isso para meus clientes. Hoje, com o certificado, eu posso provar”, brinca.

Nas hortas do PAIS são cultivados pés de alface, almeirão, couve, escarola, rúcula, agrião, cheiro verde, entre outras hortaliças, há também beterraba, cenoura, ovos, frutas e frangos. A produção é destinada à rede escolar, comércio municipal e para algumas cidades do entorno. “O Vida na Horta está com a prefeitura, destinando 30% do valor da merenda à agricultura familiar orgânica. É um valor de R$ 3.435,60 por mês, dividido em 10 meses correspondentes ao ano letivo. Entregamos em cinco mercados locais, alguns de Ourinhos (SP), em restaurantes e estudamos, por conta de logística, a possibilidade de fechar parceria com um distribuidor de São Roque (SP)”, diz.

Ela, por exemplo, desembolsava cerca de R$ 1 mil por mês em alimentos para abastecer seu restaurante e depois da horta agroecológica, além de atender sua necessidade consegue com a venda do excedente uma renda mensal em torno de R$ 1.400, contando também com a produção de morango orgânico.

“O PAIS trouxe um novo ânimo e a melhoria na produção é visível! Muitas pessoas que não sabiam nada de horta, nada de mercado e que entraram no sistema para ter uma renda extra, hoje estão investindo pesado para fazer que a renda seja só da horta. Nossa região tem clima e temperatura que favorecem a produção e com o uso de sombrite e irrigação, o produtor tem mais tempo para trabalhar. De início, isso pode parecer caro, mas no decorrer do tempo, fica super acessível”, salienta Marilda Victor, que ainda destaca o apoio que a Prefeitura local tem dado aos produtores, disponibilizando barracão e transporte para escoar a produção até que a associação crie independência pra fazer isso sozinha. “E com ajuda da prefeitura, o próximo passo é construir nossa unidade de processamento. Hoje, só não produz aquele que não quer”, conclui.

Patrícia Soyagar completa dizendo que mesmo nessa fase de preparo, ainda sim os participantes conseguiram obter rentabilidade. “É claro que tem diversos graus de desenvolvimento dos produtores, de capacidade empreendedora, empresarial que interferem. Mas mesmo assim há ganhos em vários casos, isso já sinaliza que o projeto agora com o selo tem tudo para alavancar ainda mais”.

Estrutura e financiamento

Segundo o Sebrae, a estrutura para o plantio dos cultivos é planejada de forma circular. Assim, as hortas do PAIS são como mandalas, abrigando um galinheiro ao centro e três círculos de canteiros que recebem mudas variadas de verduras. A irrigação dos canteiros é feita por meio do sistema de gotejamento. Uma área de compostagem supre a necessidade de adubação das culturas e um quintal circular é destinado à produção de frutas, grãos e outras culturas. Os interessados só podem adquirir o kit para implantarem essas hortas após passarem por treinamento e receberem as orientações técnicas necessárias.

Para adquirir o kit para instalação, os produtores rurais de Ribeirão Claro podem utilizar-se da linha de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf Mais Alimentos. São considerados agricultores familiares, aqueles que possuem área de até quatro módulos fiscais, tenham no mínimo 70% de sua renda bruta anual originada da agropecuária e sua renda bruta anual familiar esteja entre R$ 4mil e R$ 110 mil.

De acordo com Denise Lutgenz Rizzo, engenheira agrônoma do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Ribeirão Claro tem cerca de 1.200 produtores rurais. Desse total, estima-se que 700 deles sejam agricultores familiares. O papel da Emater no PAIS consiste em mobilizar o público para a importância da agricultura orgânica, auxiliar a elaboração dos projetos para financiar a aquisição dos kits para montagem das hortas, contribuir para a abertura de mercados para comercialização da produção e orientar a legalização de documentações.

Perspectivas

Além da reeducação do agricultor, o prefeito de Ribeirão Claro destaca que a horta orgânica traz benefícios para todos os cidadãos e que há a intenção de que o município se torne o maior centro de produção orgânica do Paraná. “A região também apresenta uma forte vocação para o turismo e podemos somar as duas atividades para que elas se desenvolvam juntas. Temos investido muito no turismo e a produção orgânica pode atender a rede de hotéis e resorts que existe e está se estabelecendo na cidade. É um mercado potencial ainda não explorado. Estamos no começo, mas em curto prazo, vamos colher os resultados”, finaliza Geraldo Maurício de Araújo.

O Sistema Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) é uma tecnologia social desenvolvida pelo Sebrae Nacional, Fundação Banco do Brasil e Ministério da Integração Social. Em Ribeirão Claro, o projeto conta com a parceria do Sebrae/PR, Núcleo de Aprendizagem de Práticas Sustentáveis Paulo Sogayar (NAPS), Prefeitura de Ribeirão Claro, Instituto Paranaense de Extensão Rural (Emater) e Instituto Ventura. O programa tem o apoio do Banco do Brasil e Sindicato Rural de Ribeirão Claro.

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