Pecuária

Pantanal: pecuária no pantanal – uma nova perspectiva

Em meio a um cenário de áreas extensas, com campos naturais e rica biodiversidade, o gado convive em harmonia com a fauna e a flora de forma sustentável, contribuindo ao longo de mais de 270 anos para a preservação desse que é um dos biomas mais conservados do Brasil.

Com uma área total de 151.313 quilômetros quadrados (km2), entre os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal apresentou em 2008 uma taxa de 15% de áreas desmatadas, 83% de vegetação remanescente e 1,68% de corpos d’água, de acordo com o Monitoramento dos Biomas Brasileiros divulgado em junho de 2010, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

A mesma pesquisa indica que o desmatamento do Pantanal entre 2002 e 2008 ficou em 4.279 km2, com taxa anual média em 713 km2, a menor dentre os quatro biomas observados no período. Recentemente, um estudo coordenado pela WWF-Brasil, com a participação das organizações não-governamentais Ecoa, Avina, SOS Pantanal e Conservação Internacional (CI) e a consultoria técnica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – unidade Pantanal -, revelou que cerca de 87% da vegetação original da região está conservada, o que coloca esse ecossistema como o mais conservado do País. O trabalho se chama “Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai – Porção Brasileira”.

Para o chefe geral da Embrapa Pantanal, José Aníbal Comastri Filho, por conta da prática tradicional da pecuária na região e sua conservação, o Pantanal deveria servir de exemplo para outros biomas e até para outras regiões do mundo. “O que outros países estão fazendo para garantir a conservação da vegetação nativa de seus biomas? Há poucas informações neste sentido. Os resultados do estudo demonstram que a produção pode conviver com o meio natural, adaptando-se as suas condições e gerando menor impacto sobre a biodiversidade e os demais serviços ecossistêmicos”.

Dados divulgados pelo projeto de Construção da Imagem da Pecuária Sustentável do Pantanal estimam que a região possui um rebanho superior a 5,5 milhões de cabeças. Para a pesquisadora, zootecnista e doutora em Produção Animal, Sandra Aparecida Santos, é importante ressaltar que a região tem aptidão natural para o desenvolvimento de uma pecuária sustentável em termos ambientais. Isto se deve, principalmente, pelo fato de muitas das paisagens pantaneiras serem formadas por áreas de campos com predominância de gramíneas, ervas e leguminosas forrageiras nativas que favorece a criação extensiva sem precisar desmatar. “Muito se tem trabalhado para que essa conservação se mantenha, buscando estimar a real capacidade de suporte dos diferentes tipos de vegetação. Temos pastagens nativas de diversas qualidades e quando há a intenção ou necessidade de introduzir uma forrageira exótica, existe sempre a preocupação de que isso seja feito com bom senso, respeitando critérios técnicos para que não haja interferência nos padrões das paisagens. Não podemos interferir no padrão das paisagens pantaneiras, pois além de ser considerada única e um dos principais atrativos turísticos da região devido a sua notável beleza cênica, a paisagem revela a estrutura e funcionamento dos ecossistemas naturais, por isso, buscamos otimizar seus recursos, de maneira sustentável e equilibrada”.

De acordo com a pesquisadora, a principal vocação da região é a cria e recria de bezerros. “Muitos produtores tradicionais especializam-se na cria de bezerros, pois, dependendo da localização da propriedade, não vale a pena fazer a engorda dos animais, principalmente devido à dificuldade de acesso aos frigoríficos. Porém, há casos de produtores que possuem duas propriedades, uma localizada na planície pantaneira voltada para a cria e a outra na parte alta, voltada para a engorda, permitindo a realização do ciclo completo. A pecuária sustentável tem despertado o interesse dos produtores da região”, explica Sandra Santos, lembrando que desde 2004 estudos vem sendo realizados por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores com o intuito de caracterizar os sistemas de produção do Pantanal em relação aos aspectos econômicos, sociais e ambientais. A partir desses estudos estão sendo desenvolvidos indicadores contemplando as dimensões da sustentabilidade. Esses indicadores permitirão avaliar o impacto da pecuária como também fazer um diagnóstico produtivo das fazendas de pecuária. Através dessa análise será possível propor boas práticas de manejo, como também direcionar as pesquisas.

Essa ferramenta de avaliação, diagnóstico e monitoramento está em fase de finalização e seu modelo permite aplicação em todo o tamanho de propriedade.. “Estamos em processo de validação e a ferramenta será constantemente ajustada, porque o uso de indicadores nunca deve ser fixo, ou seja, a partir dos novos conhecimentos que serão gerados, a ferramenta deve ser ajustada tornando-se cada vez mais eficiente dentro do que estamos buscando. Objetivamos indicadores práticos, que realmente são fáceis de aplicar, porque não adianta adotar um indicador muito complicado que exige equipamentos sofisticados, inviabilizando o processo, pois buscamos otimizar os sistemas, sem alterar a paisagem, tornando-os multifuncionais, com maior rentabilidade e sustentabilidade”.

Sobre o melhoramento genético do rebanho, estão sendo priorizadas linhagens mais eficientes e precoces adaptadas ao Pantanal. Além do aprimoramento desenvolvido nesse sentido com a raça Nelore, há também o trabalho para a conservação da raça Pantaneira, um gado taurino, de origem européia. Segundo Sandra Santos, essa é uma raça que está há muito tempo na região e por ser de origem européia provavelmente apresenta carne de excelente qualidade. Estão sendo realizados estudos para avaliar a qualidade dessa carne e mostrar o valor desse animal que está em extinção. “Além da busca por linhagens mais precoces, procuramos melhorar a qualidade das pastagens nativas por meio de práticas de manejo, também com o objetivo de reduzir a emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE’s). No Pantanal, o gado só é prejudicial quando ele está acima da capacidade de suporte ou quando o manejo é inadequado, pontua a pesquisadora, explicando que o boi tem moldado as paisagens pantaneiras desde a sua introdução.

“Quando a taxa de lotação é moderada com capacidade de suporte adequada, o bovino pode prestar alguns benefícios ambientais para o Pantanal. Portanto, os estudos sistêmicos são fundamentais para aliar produção e biodiversidade. O mundo precisa de alimentos e para obter sistemas de produção sustentáveis no Pantanal, os estudos devem buscar animais realmente adaptados a essa diversidade, domesticar recursos forrageiros nativos de maior potencial produtivo, otimizar áreas pobres em nitrogênio, desenvolver ferramentas de sustentabilidade, conhecer os serviços dos ecossistemas, tais como o papel dos micro-organismos dos solos na fixação de nitrogênio”, disse. Uma análise de uma fazenda tradicional local com mais de 20 mil hectares comprovou que 98% da fazenda é proveniente de recursos renováveis. Esse estudo foi feito em 2008 e está sendo feito em outras propriedades para comparação.

Divulgando a pecuária sustentável do Pantanal

Em abril de 2010, a Embrapa Pantanal deu início a um projeto de divulgação do conceito da pecuária sustentável praticada na região pantaneira. Alguns dos parceiros nessa iniciativa são: a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a WCS (Wildlife Conservation Society) e a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO). A divulgação que envolve a mídia deve durar dois anos e será focada em veículos de comunicação da Região Sudeste, onde estão concentrados veículos de abrangência nacional. Um dos planos de ação prevê a formação de uma rede de comunicadores das Unidades da Embrapa que desenvolvem pesquisas sobre pecuária de corte e de assessores dos parceiros. Para o diagnóstico das ações do projeto, serão aplicadas duas pesquisas de opinião em âmbito nacional: uma antes dos trabalhos de divulgação e outra ao final do projeto, no início de 2012. A finalidade é comparar a imagem da pecuária praticada no Pantanal antes e depois do trabalho de divulgação. A pesquisa inicial está em fase de contratação.

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