Pecuária

Manejo: planejamento estratégico é requisito para pasto produtivo

“O conceito de manejo de pasto tem mudado no Brasil, por uma condição de mercado agropecuário, que está atrelado, hoje, à comercialização. Os próprios frigoríficos têm implanto cadeias de abastecimento de insumos e de comercialização, alterando a forma de trabalhar das empresas de insumos. Fornecedores de sementes, de adubos, de herbicidas, terão que se adequar para permanecer nesse mercado.

Ou seja, terão que trabalhar não só fornecendo insumos, mas, sobretudo, serviços, para que o produtor tenha uma boa rentabilidade em sua atividade”. A análise é do engenheiro agrônomo Alberto Takashi, do Departamento Técnico Matsuda, ao abordar a necessidade dos pecuaristas planejarem adequadamente a ocupação de suas pastagens e executarem um manejo correto, com a finalidade principal de obter pastagens de qualidade e maior rentabilidade de seu empreendimento.

Para o técnico, ter pasto produtivo, nesse novo conceito de mercado, “é fundamental para que o produtor sobreviva e tenha rentabilidade”. E para ter pastagens nessas condições, alerta para “a necessidade de um planejamento estratégico antecipado e manejo adequado. Ao fazer esse planejamento, o produtor deve ter a consciência de que existem, em sua propriedade, pasto ruim e pasto bom. Ao ter essa consciência, ele praticamente já começou a planejar o manejo”. Takashi lembra ainda que muitos produtores “reclamam que manejar é caro, que adubar é caro, que cercar é caro. Mas isso é um grande equívoco porque, obviamente, o pasto produtivo é o pasto mais barato que ele tem na fazenda. E o mais caro é o degradado, justamente porque ele ocupa o espaço de um pasto bom. O primeiro passo, portanto, é dividir a propriedade, alocando os animais principalmente no pasto produtivo. A lógica é evidente, pois pasto vedado e com menor pressão de pastejo se recupera. Todos sabem disso, mas poucos se utilizam dessa informação”. O importante, para o agrônomo da Matsuda, é que o produtor crie uma rotina dentro de sua propriedade, por exemplo, dividindo sua pastagem em piquetes, ocupando primeiro as áreas produtivas e rotacionando o rebanho a períodos regulares. E repita isso rotineiramente ao longo dos anos.

Período certo de plantar

Tem sido comum encontrar produtores que, assim que se inicia o período chuvoso, pretende começar o plantio das forrageiras. Para os técnicos da área, entretanto, essa não é recomendação ideal, pois se sabe que não é somente a umidade que determina a germinação das sementes. O agrônomo Marcelo Ronaldo Villa, também técnico da Matsuda, essa preocupação tem que se mais cuidadosa especialmente este ano, quando o período seco foi mais prolongado. Para ele, “as primeiras chuvas não são ainda suficientes para eliminar o déficit hídrico do solo e caso aconteça um veranico — período sem chuva dentro da estação chuvosa do ano que pode ser de 15 a 20 dias, as sementes, tendo iniciado o processo de germinação e se faltar umidade podem morrer, comprometendo todo plantio”.

Outro problema muito comum de acontecer quando se faz o plantio no início das chuvas, segundo Villa, “é a incidência com maior freqüência de chuvas torrenciais, que podem aprofundar as sementes no solo, impedindo sua germinação satisfatória”. O agrônomo alerta que, para uma semente germinar satisfatoriamente, “são necessárias três condições climáticas ao mesmo tempo: temperatura, luminosidade e umidade”.

Para os produtores que pretendem formar novas áreas de pastagens ou reformar áreas existentes, Ronaldo Villa orienta que o primeiro passo é a análise do solo, identificando a necessidade de correção da acidez do solo (calagem), adubação de plantio (adubos fosfatados) e adubação de cobertura (Nitrogênio e Potássio). O segundo passo, ainda segundo Villa, é o preparo do solo propriamente dito, se no sistema convencional ou de plantio direto. Se no sistema convencional, é necessário eliminar a vegetação existente através de gradagens (pesada), aração (disco ou aiveca) e nivelação (leve); no sistema de plantio direto é necessária a eliminação da vegetação existente através da aplicação de herbicidas (um ou vários produtos herbicidas combinados, dependendo de quais plantas existem na área). O terceiro passo é aplicar o calcário e, em seguida, o fertilizante, segundo as indicações de acordo com a análise do solo.

Para recuperação de uma área, se estiver já formada e precisar apenas de manutenção, Ronaldo Villa recomenda a repetição dos 1o, 3o e 4º passos em todos os sistemas (convencional ou plantio direto) do mesmo modo indicado para o plantio direto.

A escolha das sementes

Existe no mercado brasileiro uma grande quantidade de espécies/cultivares disponíveis aos produtores rurais. Esse grande volume de oferta é justamente pelo País apresentar em suas várias regiões condições edafoclimáticas muito diferentes, necessitando de espécies/cultivares que se adaptem a cada uma delas. E se não bastasse isso, o Brasil apresenta níveis de manejo bem diferenciados quanto a fertilização do solo, qual espécie ou categoria animal irá consumir essa pastagem, etc.

No momento de escolha da espécie ou cultivar a ser implantado, Ronaldo Villa ressalta que o produtor deve levar sempre em consideração os fatores que limitam sua produção e qual a finalidade dessa pastagem, “pois a espécie ou cultivar que se adaptar melhor a esses fatores é o que deve ser escolhido. Mas há também fatores limitantes a considerar, como fertilidade do solo, tipo de solo (argiloso, arenoso, etc), topografia do terreno, grau de drenagem, ataque de insetos e doenças, espécie e categoria animal, tipo de manejo e utilização”.

É preciso atentar, ainda, segundo recomendações do agrônomo, que a nova legislação de sementes e mudas (Lei no 10.711 de 05 de agosto de 2003) através do seu Decreto (Decreto no 5153 de 23 de julho de 2004) e da Instrução Normativa (Instrução Normativa no 09 de junho de 2005), extingue o valor cultural (VC) como padrão de sementes. Atualmente, para sementes de forrageiras, os padrões estabelecidos e válidos são os da Instrução Normativa no 30 de 21 de maio de 2008, que estabelece os índices mínimos que cada categoria de sementes de forrageiras (Básica, Certificada de 1o e 2o geração (C1 e C2), Sementes (S1 e S2)) devem apresentar na sua pureza, germinação ou viabilidade, e outras sementes.

Esses padrões, mais a qualidade sanitária é que indicam a qualidade que as sementes apresentam. Villa cita, como exemplo, a semente de Brachiaria brizantha, que deve apresentar no mínimo pureza de 60% e viabilidade de 60%, e Panicum maximum, com pureza de 40% e viabilidade 40% para as categorias S1 e S2.

A preocupação com a qualidade da semente deve ser uma tônica para o produtor e, segundo os técnicos, ele deve se precaver contra sementes de má qualidade e, principalmente, evitar as chamadas “sementes piratas”. Ronaldo Villa adverte que, primeiro, o produtor não deve deixar a semente ser o último insumo a ser adquirido quando toma a decisão de se reformar ou formar uma nova pastagem. No momento da aquisição “ele precisa verificar sempre se a empresa apresenta em sua embalagem endereço, CNPJ e número no Renasem. Aderido à embalagem deve haver uma etiqueta que contenha o nome do cultivar que está se adquirindo, seu índice de pureza, a viabilidade ou germinação dentro do padrão exigido por lei, categoria, safra que foi produzida a semente, prazo de validade do produto e peso da embalagem. No ato da aquisição também o produtor deve exigir nota fiscal e o termo de conformidade da semente, já que este é a garantia do produto, pois é nele que está especificado realmente o que o produtor está levando para sua casa”.

Outra dica importante lembrada por Villa é a retirada de uma amostra em acordo com a legislação vigente e seu envio a um laboratório credenciado para que proceda à análise que comprove o que está no rótulo (etiqueta e termo de conformidade). Por último, tomar muito cuidado com preços muito abaixo do que está correndo no mercado, já que, segundo Villa, nessa área “não existe milagre”.

O investimento feito pelos produtores na formação do pasto, quando faz a opção pela uma semente de qualidade, com tecnologia diferenciada, é sempre um investimento mais alto. Mas ao fazer essa opção, o técnico destaca que o produtor “está optando em não correr risco, pela segurança, por ter um stand de plantas dentro do adequado para uma boa formação e boa cobertura do solo, já que essas plantas apresentam alto vigor que, em conseqüência, irão possibilitar uma entrada antecipada dos animais na área, maior produção de massa (MS – matéria seca) por hectare, risco quase zero de levar junto a essa semente pragas e doenças que podem futuramente inviabilizar outros cultivos e principalmente que venham a aumentar os custos de produção”. Villa enfatiza que, se uma planta que produzir mais por hectare, “consequentemente haverá maior produção por hectare, seja ela de carne, leite ou bezerros, dependendo da atividade do produtor. Se considerarmos todos os benefícios que essa tecnologia traz, com certeza essa semente representará investimento muito menor que as sementes de baixa qualidade”.

A cada ano que passa, há um incremento em tecnologia na produção de sementes de forrageiras. Dentre esses avanços estão as sementes incrustadas, revestidas com materiais especiais que contém K, Ca, Mg, Cu, Si e Fe, entre outros elementos, além de polímero, fungicidas e inseticida. Essas sementes revestidas são provenientes de um processo de escarificação química, onde apenas as sementes que estão totalmente maduras (embrião formado) resistirão à escarificação. Com isso, segundo Alberto Takashi, há a garantia de que cada invólucro “terá uma semente dentro que, em condições adequadas de semeadura, irá originar uma planta saudável e vigorosa”.

Takashi explica que essa tecnologia permite ao produtor esteja levar para sua propriedade “apenas sementes de qualidade, sem materiais inertes, livres de pragas, doenças e nematóides, que podem ser utilizadas tanto por pequenos, médios e grandes produtores rurais, e que podem ser semeadas com equipamentos que as colocam em linha, a lanço e através de avião”.

Mas o técnico adverte ser importante “prestar muita atenção aos materiais com os quais as sementes serão revestidas, pois esse revestimento, se não for de boa procedência, pode afetar negativamente a germinação das sementes”.

Lavoura-Pecuária-Silvicultura

Luciano Lara, também agrônomo do Departamento Técnico Matsuda, explica que a prática de se integrar a pecuária com a agricultura tem várias maneiras de ser feita, “sendo muito peculiar de cada região e sistema de produção da propriedade, pois o sistema de implantação da gramínea pode ser anual (todo ano planta-se e desseca-se a gramínea), pode ser bianual (a cada dois anos desseca-se a gramínea, com o retorno à agricultura na área) ou ainda pode ser utilizada a cada quatro ou cinco anos, dependendo da verificação se a pastagem está, ainda produzindo a contento”.

Explica, também, que outra forma de maximizar os rendimentos “é utilizar a floresta em consórcio com a pastagem ou, uma cultura anual nesse sistema. Planta-se uma ou duas linhas de árvores (eucalipto, seringueira, grevilha, etc) espaçadas umas das outras de 9 a 12 metros de distância e, na entre linha, pode-se plantar uma cultura anual ou pastagem. A floresta, no caso de consórcio com a pastagem, melhora a ciclagem de nutrientes através da queda de suas folhas, melhora o conforto térmico para os animais devido ao sombreamento que proporciona, melhorando o desempenho do rebanho. E, depois de 6, 12 ou 18 anos, essas árvores poderão ser cortadas, virando madeira para indústria, no caso de eucalipto e grevilha”.

A Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura é um sistema cada vez mais utilizado por aqueles produtores que desejam melhorar a produtividade, obtendo dessa maneira um maior retorno financeiro (lucro) por hectare. Essa técnica consiste em se fazer todas as práticas necessárias para o plantio de uma cultura (análise de solo, correção da acidez, adubações, práticas conservacionistas) anual (milho, soja, etc) e, na seqüência, logo após a colheita ou na fase de maturação dessa cultura, semeia-se uma gramínea forrageira, sendo a mais usada, as Braquiárias.

Luciano Lara ressalta que essa gramínea terá dois papéis principais, “servindo primeiro de alimento para os animais justamente na entressafra da produção de capim (estação seca do ano), e por ser uma pastagem nova terá mais vigor para produzir mais e com mais qualidade, possibilitando dessa maneira que se tenha animais em bom estado nutritivo durante a estação seca do ano”.

Quando se iniciar novamente o período chuvoso, o agrônomo orienta para que os animais sejam retirados, deixando-se acumular de 3 a 5 toneladas de matéria-seca por hectare, fazendo-se a dessecação das plantas com o auxílio de herbicidas e posteriormente plantando-se novamente uma cultura anual”. Essa prática é benéfica para o sistema pelo fato da gramínea ter alta capacidade de reciclar nutrientes e incorporar matéria orgânica no solo, além de estruturar o solo devido ao seu imenso sistema radicular como “cabeleira”.

Quando se pensa em adotar o sistema de integração, Luciano Lara adverte que “é preciso sempre pensar que estamos procurando melhorar os índices de produtividade e sabemos que as sementes são o meio mais rápido para disseminarmos tecnologia, porém o inverso também é verdadeiro, se não tomarmos o cuidado de utilizar uma semente confiável e com alta tecnologia, podemos disseminar pragas, doenças e nematóides no solo que afetarão negativamente a produção da área. Por isso quando falamos em sistema de integração, temos que usar sementes com aproximadamente 100% de pureza, alto índice de germinação, alto vigor e principalmente livre de nematóides. A Matsuda disponibiliza essa variedade de sementes, da Série Gold, que são tratadas com dois fungicidas, um polímero que maximiza a eficiência dos ativos, um inseticida — se solicitado — e o material utilizado para seu revestimento possui Potássio (K), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Silício (Si), que contribuem para um melhor desenvolvimento das plântulas após a germinação”.

Planejamento para a seca

Em função da sazonalidade da produção de forragem, o planejamento forrageiro é sempre a principal ferramenta para se evitar o prejuízo. Sabe-se, também, que é na estação das águas que se planeja o período seco. Ronaldo Villa aborda a questão, ao indicar as providências que o produtor deve tomar agora, para evitar prejuízos quando a seca chegar. Para ele, “quando entramos na estação chuvosa, muitas vezes nos esquecemos dos apuros passados no período que antecedem (estação seca). Para se prevenir que o novo período cause prejuízos e o produtor passe aperto, o ideal é planejar a reforma de pastagens degradadas, recuperação daquelas onde se tem um bom stand de plantas, por meio do controle de ervas daninhas, aplicação de corretivos (calcário), adubação fosfatada e adubação com nitrogênio e potássio. Com isso, oferecemos condições para que as plantas se desenvolvam bem e produzam muita forragem”.

O agrônomo enfatiza que os pastos “devem ser bem divididos, num sistema rotacionado, respeitando sempre a altura da planta para a entrada e saída dos animais, para que ela possa se reestabelecer rapidamente. Também é importante ter na propriedade mais de uma espécie/cultivar forrageira — evitando o monocultivo — que podem ser bem exploradas no período chuvoso e que também sirvam de reserva no período seco do ano, como feno em pé, por exemplo”.

Outra alternativa apontada por Villa é ter “área reservada como pato de corte ou capineira, que poderá ser utilizada na forma de silagem ou servida picada in natura. E ter também, se for o caso, uma área com espécies próprias para a produção de feno”.

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