A sincronização de cio traz vantagens ao sistema de produção, como o aumento na taxa de prenhez ao final da estação de monta, concentração de nascimentos em propriedades de corte e programação de nascimento e lactação no gado de leite. No entanto, a adoção dessa prática requer alguns cuidados especiais com o manejo e seleção dos animais a serem submetidos a esse processo.
Dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), apontam que a prática evoluiu nos últimos dez anos mais de 58% no País. No gado de corte, esse porcentual foi de 51,9%, enquanto na pecuária leiteira, o crescimento chegou a 68,8%. Em 2009, foram comercializadas cerca de 9,1 milhões de doses de sêmen, sendo 5,2 milhões de doses voltadas ao gado de corte e 3,9 milhões ao gado de leite.
Com o aumento desses números, o setor tem observado também uma maior adesão das propriedades para a técnica de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), que permite programar, facilitar, diminuir o tempo gasto com o manejo e mão de obra voltados à reprodução animal e concentrar os nascimentos dos animais em um único período determinado. Um dos principais complicadores para a promoção desse trabalho, está ligado à observação do cio, principalmente, em rebanhos comerciais, devido ao grande número de fêmeas a serem submetidas a essa prática. Para eliminar esse problema, foram criadas alternativas de sincronização de cio.
Na prática, além da eliminação da detecção de cios, a técnica traz outras vantagens, como o aumento da lucratividade por matriz via melhoria da eficiência reprodutiva por meio da diminuição do intervalo entre partos, melhoramento genético em variados rebanhos e sistemas de produção, controle sanitário efetivo, homogeneidade dos lotes, melhor qualidade na desmama oriunda do melhoramento genético agregado e do nascimento em época correta, padronização e maior peso ao desmame, otimização da mão de obra e antecipação dos nascimentos, conforme aponta Cristiano Ribeiro, coordenador do Programa IATF da ABS Pecplan. “Além de tudo isso, vale lembrar que as vacas na próxima estação estarão aptas mais cedo. Os pesquisadores buscam cada vez mais o protocolo barato, com menos manejos e ajustes de horários e doses de aplicação dos fármacos, desenvolvendo pacotes tecnológicos eficientes garantindo assim a diminuição da variabilidade dos resultados”.
De acordo com a unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Corte, basicamente, existem dois meios para o controle do ciclo estral em bovinos. O primeiro utiliza produtos à base de prostaglandina, para induzir a regressão prematura do corpo lúteo (luteólise). Como são líquidos, a via de aplicação é intramuscular. No entanto, esses produtos são eficientes como agentes sincronizadores apenas quando utilizados em animais que já estejam manifestando ciclos estrais regulares. No geral, os animais tratados manifestam o cio de 48 a 72 horas após a aplicação do produto, quando tratados entre o 6º e o 18º dia do ciclo. O segundo meio de controle consiste na aplicação de compostos à base de progesterona para suprimir o cio e a ovulação, até que os corpos lúteos de todos os animais tenham regredido. Eles são implantes subcutâneos aplicados na orelha ou pessários intravaginais, que permanecem no animal por determinado período. Após esse período, geralmente ao redor de nove dias, o implante ou pessário intravaginal é removido e a manifestação dos cios ocorre de 36 a 48 horas.
Seja qual for o método escolhido na propriedade, o médico veterinário e supervisor técnico-comercial da Ourofino Agronegócio, Evandro Davanço Souza, explica que a primeira recomendação é sempre se amparar em orientação técnica para obter melhores resultados. É preciso estar atento quanto aos principais cuidados a serem seguidos em todos os programas de reprodução por IATF, como a correta identificação dos animais e escrituração zootécnica de todos os procedimentos; fazer a avaliação de escore de condição corporal, ou seja, condição corporal dos animais, que em uma escala de 1 a 5 deve estar no mínimo em 2,5. “A capacitação de equipe de inseminadores é outro fato determinante, em virtude de fazer um grande número de inseminações em um curto período de tempo, a mão de obra deve estar qualificada para isso, caso contrário corre-se o risco de redução dos resultados finais. Também deve-se estar atento à qualidade de sêmen, procurando a utilizar somente sêmen de centrais idôneas e esse material deve ser avaliado para evitar o uso de sêmen de baixa qualidade, o que, consequentemente, gera baixos resultados”, completa.
Cristiano Ribeiro acrescenta que diversos trabalhos publicados mostraram a alta correlação da taxa de prenhez com o escore de condição corporal, e isto, se deve, principalmente, porque animais com baixa condição corporal apresentam distúrbios hormonais que bloqueiam a ciclicidades dos mesmos levando-os a condição de anestro (inatividade ovariana). Segundo ele, outros hormônios como a leptina (hormônio produzido pelas células adiposas) também mostraram interferência negativa na fertilidade quando os animais apresentavam baixos escores, ao mesmo passo que animais com boas condições apresentam maiores concentrações de IGF-1 (fator semelhante à insulina) no líquido folicular oferecendo melhores condições de assimilar carboidratos, garantido ovócitos de melhor qualidade e conseqüentemente melhores taxas de prenhez.
Quanto aos animais que podem ser submetidos à técnica, Evandro Davanço ressalta que as fêmeas para IATF devem ser sexualmente maduras, ou seja, já terem apresentado cios anteriores. No caso de novilhas e quando falamos de vacas paridas elas devem ter pelo menos 40 dias após o parto. “Além disso, alguns pontos devem ser levados em consideração como o estado sanitário: enfermidades reprodutivas, como leptospirose e brucelose, além de outras enfermidades gerais, como verminoses, entre outras. Assim devemos priorizar um bom manejo sanitário do rebanho”, diz.
Influência da nutrição e outros cuidados
Para adotar as ferramentas de sincronização de cio e a IATF, os pecuaristas devem estar atentos também à nutrição dos animais. Para Cristino Ribeiro, vale lembrar que essa preocupação deve ocorrer desde o pré-parto, para que seus animais cheguem no momento do parto com escores de condições corporais desejáveis. Assim, a matriz voltará a apresentar ciclicidade mais precocemente, ao garantir que a mesma continue ganhando ou mantendo peso no pós-parto, o produtor conseguirá melhores taxas de concepção. Ele recomenda, se possível, a utilização de creep-feeding (sistema de suplementação para cria com ração balanceada no cocho), como uma grande vantagem não só pelo bezerro, mais para a vaca que mantém escore melhor. Na estação seca, a suplementação das vacas com proteinados também traz impactos positivos no escore, ele garante. “O primeiro passo fundamental é nutricional, oferecendo alimentos e água de qualidade aliados a uma mineralização recomendada para cada categoria, em seguida, a imunização dos animais contra as doenças reprodutivas irá garantir melhores taxas de prenhez e assegurar uma menor perda embrionária e fetal até o momento do parto”, afirma o coordenador, destacando que os animais devem ser avaliados ginecologicamente por um veterinário, principalmente as que se apresentarem solteiras ou com muito tempo de paridas, para que o protocolo seja direcionado a esta fase reprodutiva.
Ainda de acordo com ele, uma etapa importante é uma boa coleta dos dados zootécnicos como nome do touro, o inseminador, categoria, lote, o protocolo, o diagnóstico diferencial, por exemplo. “Para isso, as matrizes precisam estar devidamente identificadas antes dos inícios dos trabalhos reprodutivos. Também é necessário ter cuidado com os fármacos, mantendo-os em local fresco e longe dos raios solares, fazer uma boa higienização, armazenagem e identificação dos implantes que serão reutilizados”, finaliza.