Fabricantes dos motores são tão importantes quanto quem produz os tratores, as picapes e os caminhões, já que fornecem o coração da máquina. Atualmente, elas estão entrando no marketing voltado ao consumidor final e inovando com tecnologias ecológica e financeiramente viáveis.
Muitos produtores podem não conhecer marcas como Cummins, MWM e Sisu Power, mas grandes empresas estão por trás destes nomes. A primeira delas, por exemplo, está presente nos cinco continentes e conta com faturamento anual superior a US$ 10 bilhões. A segunda é a líder da América Latina em produção e comercialização de motores a diesel. E a terceira produzirá 100 mil unidades no mundo, contando com filiais na Finlândia e Rússia.
Conhecer e confiar na empresa fabricante do “coração” das máquinas são fatores essenciais, mas poucos consumidores prestam atenção para este “detalhe”. Para o gerente executivo da Cummins, Luis Chain Faraj, é importante o consumidor se interessar em conhecer mais sobre as empresas fabricantes, porque o motor é a peça mais valiosa. “Uma empresa que tenha mais de 700 mil motores rodando pelo Brasil é um diferencial, porque tem mais redes de atendimento espalhadas. E como uma máquina do agronegócio parada, seja uma colheitadeira, um caminhão e até uma picape, significa perda de produção, essa rede de atendimento é fundamental”.
A Cummins Mundial produziu 609 mil motores em 2009 (60 mil só no Brasil), o que representa 49% do total do faturamento de US$ 10,8 bilhões. O ano passado foi atípico para a empresa, devido à crise que atingiu principalmente o segmento de caminhões, provocando quedas nas vendas em relação a 2008, quando a Cummins produziu 886 mil motores, atingindo o faturamento de 14,3 bilhões.
Para o diretor de vendas e marketing da MWM, Michael Ketterer, o segmento de caminhões foi o que apresentou maior queda nas vendas em 2009, que era o principal mercado da empresa até ano passado. Com a diminuição acentuada desta categoria, o panorama mudou e as picapes ficaram na frente com 35% das vendas. Caminhões ficaram em segundo, com 30%, seguido pelo mercado agrícola, com 26% e, por último, o mercado de geradores, com 9%.
Já a Sisu Power não sofreu com a drástica redução no mercado de caminhões, já que atua exclusivamente com motores voltados para máquinas agrícolas, fornecendo para as marcas Valtra e Massey Ferguson. “Para 2010 esperamos entrar um pouco mais forte no mercado de tratores já que firmamos uma nova parceria com a Massey e deveremos produzir 19 mil tratores em 2010”, comenta Ricardo Huhtala, diretor da AGCO Sisu Power da América do Sul.
As demais empresas também projetam crescimento para 2010. A Cummins estima produção nacional de 82 mil unidades, contra as 60 mil de 2009, crescimento superior a 36%. A empresa acredita que em longo prazo, o Brasil deverá ser um ótimo mercado consumidor por causa da Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas de 2016, as fontes do pré-sal, do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do mercado agrícola e pela produção de biocombustíveis e de alimento. “Todos esses fatores farão do Brasil um ótimo mercado consumidor de máquinas e equipamentos nos próximos anos”, acredita Luis Faraj.
Já o diretor da MWM prevê alta nos números de caminhões, devido à retomada dos investimentos pelas empresas. “Tivemos a maior queda em 2009 nesse segmento e acreditamos que será onde teremos a maior recuperação em 2010”, comenta Ketterer.
Marketing
Investir em marketing direto ao público final, essa é a proposta das fabricantes de motores a partir de agora. Quando o cliente compra um trator, ele escolhe a marca da máquina, mas leva consigo peças de diversas empresas. Por enquanto, não há tanta influência das marcas dos motores e de demais peças na decisão de compra do trator, mas as fabricantes pretendem investir em comunicação com o cliente final. “Já estamos investindo em canais diretos com o cliente, tais como a Internet, mas também há anúncios em meios de comunicação do ramo para atingir o público comprador e não apenas as empresas”, explica Luis Chain Faraj, da Cummins.
Já a Sisu Power pretende se desvincular da marca Valtra. A ligação existe há anos, inclusive pela fábrica dos motores se situar onde são montados os tratores Valtra. “Fabricamos os motores para vendermos a qualquer empresa. Precisamos separar a ideia das marcas, até porque a Sisu Power é mais antiga que a Valtra e não temos como ficar amarrados à marca se produzimos para o mercado como um todo”, aponta Huhtala, diretor da AGCO.
Tecnologia
As empresas estão voltadas a produzir motores mais eficazes e menos poluentes. Para isso, o etanol está sendo à base para muitas pesquisas, assim como o biodiesel. A MWM está finalizando os testes de um motor que roda com até 80% de etanol, utilizando apenas 20% de diesel. “Gostaríamos de chegar em até 100% de etanol, mas há algumas atividades das máquinas que depende de força e para isso alta combustão do diesel é fundamental. Pretendemos finalizar os testes e inicializar a comercialização em 2012”, prevê Ketterer.
A Sisu Power também pretende investir nesta dupla de combustível e estão tornando o motor com duplo sistema de injeção. Além disso, a empresa está se engajando no biodiesel, buscando aumentar a porcentagem do combustível no diesel comum. “Todos nossos motores já saem de fábrica autorizados para uso de B20 (20% de biosiesel no diesel), sendo que não há perda de potência nem alteração no consumo”, completa o diretor da AGCO.
Já a Cummins procura seguir a legislação europeia, que é a mais rígida, buscando disponibilidade para atuar em qualquer parte do planeta sem restrições. “Atualmente estamos trabalhando com o B20, e nossas metas são os códigos europeus, porque assim estaremos seguindo as regras de qualquer país, podendo fornecer para qualquer cliente”, finaliza Faraj.
A consultoria especializada em projeções no mercado automotivo, CSM Worldwide, estima que sejam produzidos cerca de 166 mil caminhões e ônibus em 2010 no Brasil, número 10% superior a 2009, quando o País atingiu as 150 mil unidades.
Para a Associação dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o mercado de máquinas agrícolas deverá apresentar incremento de 1% em 2010, totalizando 54,5 mil unidades. O baixo percentual se deve aos bons números de 2009, ano em que projetos do governo federal e alguns estaduais, de crédito às máquinas de baixa e média potência, alavancaram as vendas desse tipo de segmento. Estima-se que foram vendidas até 15 mil máquinas a mais devido a esse suporte governamental. Além disso, o presidente da Anfavea, Milton Rego, afirma que há restrições ao crédito aos produtores rurais prejudicando a comercialização neste início de ano.