Pecuária

Confinamento: bom pro pequeno e pro grande

“JÁ TÍNHAMOS A CRIAÇÃO DO SIMBRASIL, QUE É UMA RAÇA QUE APRESENTA UM GANHO DE PESO DE MAIOR FACILIDADE, E COMO SEMPRE FAZÍAMOS O MELHORAMENTO GENÉTICO DA RAÇA, A MELHOR MANEIRA QUE ENCONTRAMOS PARA APROVEITAR ISSO FOI COM O CONFINAMENTO”.

Retira-se do pasto e concentra-se em currais por cerca de 90 dias – é, grosso modo, o objetivo da pecuária intensiva, que garante mais resultados em comparação ao sistema de terminação a pasto. E isso se prova independentemente do tamanho da propriedade, esteja ela confinando 300 cabeças ou mesmo 20 mil.

Em Botucatu (SP), por exemplo, o trabalho de confinamento de gado foi possível em função de todo um favorecimento que a atividade teria diante de todas as outras desenvolvidas na propriedade. “Nós já tínhamos a criação do Simbrasil, que é uma raça que apresenta um ganho de peso de maior facilidade”, conta Giovane de Lima Moretto, produtor rural que dirige os negócios da Granja Moretto. “Como sempre fazíamos o melhoramento genético da raça, a melhor maneira que encontramos para aproveitar isso foi com o confinamento”, afirma.

Essencialmente, a veia produtiva da propriedade botucatuense é a produção de ovos e a silvicultura, a partir do eucalipto. Entram também a produção de suínos, feno e, agora, a produção de carne bovina. Outra vantagem do confinamento, vista por Moretto, é a liberação da área de pastagens para a produção de bezerros, dinamizando o sistema de produção.

O número de cabeças é modesto – 300 estáticas. A opção escolhida pelo produtor é de uma engorda não tão exigente em função do favorecimento econômico. Por ter uma produção farta de capim Napier (Pennisetum purpureum) e milho, ele faz questão de fazer uma oferta maior de volumoso aos animais, com a silagem desses dois produtos, e depois se complementa com os demais ingredientes necessários à engorda dos animais – equilibrando assim a dieta.

No final das contas, foi estabelecido uma porcentagem de 14% de proteínas e 74% de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) – valor obtido a partir da soma das digestibilidades dos nutrientes da dieta, como a proteína bruta (PB), carboidratos fibrosos (FDN), carboidratos não fibrosos e extrato etéreo (cujo valor calórico é 2,25 vezes superior aos demais nutrientes).

Com um período de terminação variável de 90 a 100 dias, é possível fazer três giros no confinamento. “O giro começa em março, depois de 90 a 100 dias, são retirados animais”, diz Moretto. “Logo em seguida, entram mais 300 cabeças, e assim vai até o terceiro ciclo, e aí só no próximo ano é que voltamos a fazer o confinamento”.

Equilíbrio alimentar

A empresa de nutrição animal, Tortuga, é quem tem ajudado o produtor a fazer o balanceamento da dieta a partir do desejo do produtor. O rendimento por cabeça por dia é estimado na faixa de 1,4 quilo (kg) e 1,5 kg. “Tendo, então, a silagem de milho e capim Napier, como volumoso”, analisa o zootecnista e técnico em sistema de confinamento da Tortuga, Aydison Takaguchi Nogueira, “trabalhamos com energéticos, como o resíduo de milho e gérmen de milho gordo, e na parte protéica, o farelo de soja, além do núcleo mineral, o Fosbovi Confinamento Leveduras, que é um produto mineral, com ureia, vitamina A, leveduras vivas e monensina sódica (ionóforo)”. Todos esses ingredientes são misturados e oferecidos aos animais quatro vezes ao dia.

Para cada item da dieta, foi estudado o que melhor se enquadraria em termos econômicos e que também garantisse o bom desempenho de engorda. No caso do resíduo de milho, ele sai da própria produção voltada ao atendimento à alimentação das aves de postura da propriedade. Como para elas, o milho tem de ser padronizado, é feita uma seleção dos melhores grãos – o que sobra é utilizado para compor a ração do gado. “Esse resíduo, que é de qualidade, é analisado bromatologicamente [identifica-se a qualidade alimentar] nos laboratórios da Tortuga, e com base nessa amostragem, fazemos o balanceamento da dieta”, destaca Nogueira.

Quanto ao gérmen de milho gordo, sua opção também se tornou mais viável economicamente, além de possuir grãos num tamanho adequado, sem ser preciso fazer a moagem prévia para se oferecer aos animais. Em termos nutricionais, segundo Nogueira, ele apresenta um bom nível de proteína (10% a 12%) e algo em torno de 8% de extrato etéreo.

Outro que se mostra viável atualmente no mercado de insumos para a alimentação do gado é o farelo de soja. Trata-se de um de um ingrediente protéico, com 46% de proteína, e bastante palatável.

Superconfinamento

Se o rendimento é favorável com 300 cabeças, quem dirá com 20 mil. Esse é o número estático trabalhado pela Fazenda Santa Fé, no município de Santa Helena de Goiás (GO), conduzida por Ricardo de Castro Merola, atual presidente da Associação Nacional de Confinadores (Assocon).

Lá, desde 1985 é desenvolvida a atividade, e desde então foi agregando novas tecnologias para sustentabilidade da produção de uma carne tipo exportação. E no início, eram apenas 300 cabeças. “Naquela época as dietas eram com base em alto volumoso e pouco grão”, lembra Merola. “O intuito era realmente pegar um boi, já quase pronto de 400 kg, tirar do sofrimento da seca em Goiás, e terminá-lo em confinamento num período com um pouco mais de 70 a 90 dias. Ele dava um bom acabamento porque já era um animal desenvolvido, mas o ganho era baixo”, observa o produtor. O ganho no início era de 900 gramas ou até no máximo 1,1 kg. Com o passar dos anos, melhores informações tecnológicas acerca da produção de corte, em especial, sobre a nutrição animal, a fazenda passou a obter ganhos diários de 1,7 kg por cabeça por dia. Sem menor sombra de dúvida, o produtor destaca que o futuro da pecuária de corte no Brasil será o confinamento. Isso significará uma redução drástica de tempo de abate – se um animal, de 10 arrobas, for conduzido em regime de pasto, ele levará um ano para ser terminado, ao passo que a mesma rês, confinada, levará três meses, e ainda com a vantagem de apresentar um melhor rendimento de carcaça.

A evolução no campo

A menor idade de abate e a concentração dos animais geram vantagens para o meio ambiente, pois as áreas de pastagens podem ser convertidas para produção de alimentos. Quanto às emissões de metano, elas serão menores em função da redução do tempo de abate.

Mesmo sendo um tipo de manejo favorável, a veia produtiva brasileira continua sendo a extensiva a pasto. Estima-se que 90% do rebanho nacional sejam criados extensivamente – isso pelo fato de o sistema de manejo ser recente em comparação à idade da atividade pecuária do País. “A indústria do confinamento começou a se desenvolver fortemente a partir do ano 2000”, destaca Merola. “Até então, os confinamentos no Brasil eram para especulação daquele preço que se dava entre safra e entressafra – tínhamos diferenças de até 50%. Parte isso se devia à inflação, mas depois dessa época, com a estabilização da moeda, nós tivemos períodos de confinamento sempre crescentes”, ressalta.

A questão da demanda é, ao mesmo tempo, o inferno e o céu para o crescimento da atividade. Atualmente tem sido um pouco infernal por conta da baixa demanda pelo mercado externo assim como pela falta de animais para se para confinar. De acordo com o presidente da Assocon, hoje é estimado o confinamento de um pouco mais de 2 milhões de cabeças em todo o País, sendo que já houve época em que se chegou a confinar, pelo menos, 1 milhão a mais que isso.

Espera-se uma queda de 5,89% no número de cabeças confinadas este ano em relação a 2009. Este foi o resultado do levantamento de intenção feito com os associados à Assocon, que reúne confinadores dos Estados de SP, GO, MT, MS, MA, PR, RJ e MG.

A pesquisa, feita com 50 produtores entre os dias 19 de abril e 7 de maio, apresentou duas situações distintas. A primeira, é que o grupo de pecuaristas que tem sistemas próprios de cria e recria, que, em geral, é formado por pequenos e médios produtores, deve crescer na atividade cerca de 8,5%. A segunda situação é a dos grandes confinamentos que estimam uma queda de 16,46%.

Produção padronizada

De um lado, a disponibilidade de uma boa dieta para o rebanho, que está relacionada com o uso de alto grão, numa média de 30% da matéria seca como volumoso e 70% de grão; de outro lado, as questões pertinentes à condução de um manejo correto com os animais em termos de sanidade, com respeito ao meio ambiente e socialmente comprometida os trabalhadores que conduzem o dia a dia do confinamento.

É nesse sentido que o sonho de poder padronizar a produção de carne é amplamente destacado para quem quer ser um associado à Assocon. E isso foi possível com a implantação do Programa de Qualidade Assegurada (PQA), saído da parceria a entidade de confinadores com a empresa de sanidade animal, Intervet/Schering-Plough.

Para Merola, a iniciativa será de grande valia para certificação da carne produzida, a partir de um controle mais rígido em diversos pontos do manejo, como, por exemplo, o uso incondicional de medicamentos autorizados, o oferecimento de dietas de qualidade, feitas a partir de matérias-primas testadas e ministradas de forma correta e, principalmente, o respeito ao período de carência de todos os medicamentos. “Recentemente, houve um acidente, que foi uma carne de saiu do Brasil, e foi rejeitada pelos Estados Unidos porque tinha uma dose elevada de ivermectina”, conta Merola. “Por quê? Porque, talvez, não tenha sido cumprido o prazo legal que aquela ivermectina necessitava, e com o PQA, eliminamos esse problema”, atesta.

Pelo programa, também é feito um controle total do meio ambiente, como por exemplo, a proteção de fontes de água e mananciais contra os dejetos dos animais. Vistorias periódicas, feitas de quatro em quatro meses nas propriedades, conduzirão essa nova filosofia da produção de carne.

Censo 2009 do confinamento paulista

É o primeiro censo de confinamento para o Estado de São Paulo com base em dados de 2009. A iniciativa é fruto da parceria entre a Assocon, o Centro de Defesa Animal (CDA), ligado à Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo, e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), em Piracicaba (SP).

Total do rebanho:
342.297 animais

Estabelecimentos rurais:
121
Raças em destaque:
Nelore, 36,4%
Anelorados, 35,97%
Cruzamento industrial, 19,71%
Raças leiteiras, 2,04%
Sem registro de raça definida, 2,08%
Não responderam, 3,8%

Distribuição geográfica:
Araçatuba, 40,4%
Ribeirão Preto, 21%
São José do Rio Preto, 11,9%
Bauru, 10,1%
Araraquara, Assis, Campinas, Itapetininga, Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Vale do Paraíba, litoral sul e região metropolitana da capital, somaram juntas 16,6% do confinamento estadual.

Direção do confinamento:
Proprietário, 66,1%
Diretor ou gerente, 26,4%

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