Por Otávio Celidonio* – Nesta semana fui negativamente surpreendido com uma reportagem do Jornal Valor Econômico que apresentou um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre educação. Os dados mostravam que o efeito da educação sobre a distribuição de renda no curto prazo é limitado e também que, mesmo a longo prazo, “a educação não é uma panaceia distributiva”.
Confesso que isto me incomodou e, na mesma hora, busquei dados para tentar entender melhor o assunto que mexia com algo que é quase uma crença minha. O estudo em si é baseado em projeções. Foram feitas estimativas sobre qual seria o efeito sobre a renda e, consequentemente, a desigualdade caso o nível de educação formal fosse maior.
O que se verificou, segundo o modelo, foi que apenas a longo prazo, cerca de 50 anos, com toda a população desenvolvendo nível superior o índice de desigualdade melhoraria 10%. Sem dúvida um número muito distante das minhas expectativas. Procurei e encontrei no trabalho fatos que indicassem pontos críticos da análise e projeção.
Certamente o mais importante foi a premissa assumida de que, mesmo com uma população com maior nível de educação as fontes de rendimento e outros efeitos permaneceriam os mesmos. Esse ponto, por si só, já me faz acreditar que minhas crenças não estão muito erradas, afinal, assumir que o mundo seria o mesmo com uma população que adquiriu mais conhecimento é esperar muito pouco dela.
Um fato simples que indica que o mundo não seria o mesmo se as pessoas tivessem maior nível de educação formal é o próprio mercado da educação. Em países onde a população tem mais estudo, os gastos com educação são significativamente maiores.
Segundo dados do Banco Mundial, apenas considerando os gastos do governo – para o último dado disponível – entre 2011 e 2015 – os 10 países com maior investimento per capita em educação formal aportaram US$ 3.954,26 por habitante, enquanto o Brasil investiu US$ 546,61.
Porém, mesmo olhando os dados com muito cuidado vi que o Brasil ocupa a posição número 56 no ranking de investimento per capita em educação formal. Uma posição relativamente boa e com investimento muito superior ao que vem depois no ranking. Isto nos traz ao ponto importante do estudo e que de fato não podemos negligenciar. A educação sozinha de fato não tem um potencial tão grande de transformação. Isto porque a educação, especialmente, a formal, no padrão atual, é uma fonte básica de conhecimento e o conhecimento sozinho não gera transformação.
Para ocorrer uma melhoria efetiva de vida é preciso desenvolver competências, que além do conhecimento necessitam de habilidades e atitudes. Mais do que educação, é preciso haver uma mudança de atitude, para que de fato todo este potencial conhecimento seja transformado em inovação e negócios. Por isso iniciativas como a dos programas de empreendedorismo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e dos programas de liderança do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) são fundamentais para tentar mudar a cultura e gerar resultados.
Se encararmos a educação como o processo formal consolidado atualmente nas escolas as projeções do estudo feito pelo Ipea estão corretas. Porém, se a sociedade lutar por uma educação transformadora que vá além da perspectiva de oferecer conhecimento, a educação pode ser sim uma fonte fantástica e surpreendente de transformação.
* Otávio Celidonio é engenheiro agrônomo e está superintendente do Senar-MT