O mercado de picapes médias promete esquentar já no início de 2010. A chegada de uma nova e, provavelmente, forte concorrente neste disputado mercado pode alterar o quadro atual, onde Hilux (entre as mais sofisticadas) e a S-10 (entre as mais populares) ainda reinam absolutas.
A Volkswagen, que não costuma jogar para perder em nenhum dos segmentos onde compete, está preparando o lançamento da Amarok, uma picape de aparência forte, robusta, linhas harmônicas e sóbrias, bem ao gosto do produtor rural. O alvo principal, os próprios executivos da montadora confessam, ”é brigar de igual para igual com a Hilux”. Uma coisa a nova picape alemã já tem em comum com a japonesa: ambas trazem sobre (e sob) o capô marcas que, no mercado brasileiro, desfrutam de muito prestígio e confiança.
Com 5,25 m de comprimento e chassi tipo “escada”, a nova picape revela em sua carroceria os traços inconfundíveis do novo estilo de design da Volkswagen, com ênfase nas linhas horizontais. Para o lançamento da Amarok, a Volkswagen desenvolveu um motor turbodiesel de alta tecnologia, confiável, econômico e com baixo índice de emissões. O TDI 2.0 com 120 kW / 163 cv e injeção commonrail conta com dois turbo compressores sequenciais, que disponibilizam um torque de 400 Nm a apenas 1.750 rpm.
A Amarok conta com câmbio manual de seis velocidades. Além da pronta resposta à solicitação do condutor, o motor impressiona pelo baixo consumo, referência para todo o segmento, com tração integral não permanente, mesmo no modo 4×4 o motor TDI de 163 cv é econômico, atingindo 12,8 km por litro. Graças ao tanque de combustível de 80 litros, pode realizar viagens de mais de 1.000 km sem necessidade de reabastecimento. A tração 4 x 4 é acionada por meio de um botão e o torque é dividido igualmente para os dois eixos. Para situações mais difíceis, a pick-up conta com tração reduzida, que permite transpor caminhos bem mais difíceis. Esse recurso possibilita enfrentar subidas com 100% de inclinação (45º) com carga total. A suspensão progressiva de alta capacidade, com três lâminas de molas principais e duas auxiliares, garante proteção em caso de sobrecarga.
Para o mercado brasileiro, será oferecida inicialmente a Amarok Highline com mais conforto. O modelo conta com retrovisores externos parcialmente cromados, detalhes cromados no exterior e interior e molduras das caixas das rodas alargadas, pintadas na cor da carroçaria, alojando rodas de alumínio de 18 polegadas. A versão topo de linha é caracterizada, também, pelo painel de instrumentos com cor de fundo exclusiva, ar-condicionado digital (Climatronic), revestimento dos bancos e detalhes de acabamento em couro e sistema de som mais sofisticado.
A caçamba da Amarok conta com as maiores dimensões da categoria. Com altura de acesso de apenas 779 milímetros, tem área útil de 2,52 m2 (1.555 mm de comprimento e 1.620 mm de largura). Mas isso não é tudo: a distância de 1.222 mm entre as caixas das rodas é a maior disponível no segmento. Graças às suas medidas e à capacidade de carga de até 1,15 tonelada, é possível transportar equipamentos de trabalho volumosos. Além disso, com o acoplamento opcional, a Amarok pode rebocar trailers de até 2,8 toneladas.
A Amarok conta também com um sistema ABS específico para utilização off-road, acionável por meio de um botão, que reduz significativamente a distância de frenagem em pisos de terra ou cascalho. Ela vem equipada com sistema eletrônico de estabilidade (ESP), em velocidade abaixo de 30 km/h, além do ABS para off-road conta também com o assistente de descida (Hill Descent Assist), equipamento que mantém a velocidade constante nas descidas, aumentando a segurança e o controle em declives acentuados. O motorista poderá ajustar a velocidade nas descidas, desde que abaixo dos 30 km/h, através do freio ou do acelerador. Além disso, todos os veículos com ESP dispõem do assistente de subida (Hill Hold Assist), que imobiliza automaticamente o veículo nas subidas até que o condutor acelere o suficiente para impedir o recuo involuntário.
Primeiro round
A performance nas vendas a partir dos meses de março e abril, quando a Amarok deve chegar definitivamente ao mercado nacional, é que ditarão os caminhos a seguir pela atual líder da categoria. Por enquanto, para sua linha 2010, a Toyota anunciou as principais novidades somente nos novos modelos à gasolina, mais acessíveis em termos de preço e mais voltados para o uso urbano, revelando sua intenção de abocanhar um mercado mais popular, para lazer e serviço na cidade, que hoje está nas mãos da S-10, ainda a picape média mais vendida do Brasil, em números absolutos, segundo dados da Fenabrave.
A versão SR 4×2 a gasolina, lançada no ano passado, ganhou a opção da transmissão automática de quatro velocidades. O para-choque traseiro da configuração de entrada passa a ser cromado, dando uma aparência semelhante às Hilux SR e SRV a diesel. A Hilux é vendida nas versões Standard, SR e SRV, com duas opções de cabine (simples ou dupla) e outras duas de tração (4×2 ou 4×4).
Embora tenha sido lançada em 2005 e, de lá para cá, tenha apresentado apenas poucas mudanças de acabamento, o visual da Hilux ainda se mostra bem atual e agradável. Para se ter uma idéia da aceitação da picape entre os produtores rurais, basta dar um passeio pelo estacionamento de qualquer leilão ou feira agropecuária realizada por todo o Brasil. O cenário lembra o pátio da fábrica da Toyota, tamanha é a quantidade de Hilux enfileiradas nas vagas.
Picape “cachaceira”
Também de olho num filão maior do mercado, a Mitsubishi foi mais além e lançou no ano passado um motor flex (álcool e gasolina) para sua L-200 Triton, oficialmente a terceira picape média mais vendida do Brasil (há de se ressalvar, porém, que os números da Fenabrave somam as vendas da Triton com a versão antiga, que ainda é fabricada e oferecida no mercado). Com um design ousado em seu lançamento (2007), a Triton já não causa tanta estranheza nas ruas e seu jeitão meio “urbanóide demais”, foi sendo deixado de lado com seu desempenho nos terrões, pelo Brasil afora.
O motor V6 Flex da Triton, com 3,5 litros, 24 válvulas, e comando de válvulas no cabeçote, desenvolve 200 cv a 5.000 rpm e torque de 31,3 kgfm a 3.500 rpm quando utiliza gasolina como combustível e 205 cv a 4.800 rpm e torque de 32,3 kgfm a 3.500 rpm com álcool. Para funcionar com álcool o V6 Mitsubishi passou por sensíveis modificações nas suas partes internas, especialmente nos pistões, anéis e sede de válvulas. Todas as partes que passaram a ter contato com o álcool, como bicos injetores, galerias de combustível e corpo de borboleta, foram re-analisadas e receberam tratamento especial devido à alta corrosividade do combustível.
O tanque de combustível é feito em material plástico de alta resistência, o que elimina qualquer possibilidade de deterioração por ação do álcool. Outro ponto positivo com relação à adoção do novo tanque é que sua capacidade, que aumentou de 75 l para 90 l, garantindo uma autonomia significativamente superior. As linhas de combustível também são de material plástico e o bocal de abastecimento recebeu tratamento à base de níquel. O modelo conta ainda com sistema de partida a frio para as regiões com baixas temperaturas.
O modelo a diesel possui motor de 3.2 Common Rail, câmbio mecânico de cinco marchas, bancos de couro, e quatro cilindros em linha. Possui também Airbag duplo, ar condicionado, computador de bordo, freio a disco nas quatro rodas e potência de 165cv.
Em todas as versões de motorização (flex ou diesel), o sistema de tração é o Easy Select 4WD, que permite a opção de três modos distintos de atuação: 4×2; somente tração traseira, recomendado para uso urbano/rodovias e que se traduz em economia de combustível e menor nível de ruído; 4×4; tração nas quatro rodas, ideal para pistas de baixa aderência, como terra, areia, cascalho, lama etc.; 4×4 com reduzida; indicado para uso em situações em que o torque máximo se faz necessário, como a transposição de obstáculos, tarefa facilitada pelo diferencial traseiro de escorregamento limitado (LSD), que transfere automaticamente a tração para a roda que necessita de força. Com ângulo de entrada de 39º, saída de 26º e altura livre do solo de 220 mm, a cabine dupla demonstra aptidão para o uso em situações de off-road.
O sistema de freios Dual Grip com discos ventilados nas rodas dianteiras possui dispositivo antibloqueio ABS com EBD. Ele distribui eletronicamente a força de frenagem entre os eixos dianteiro e traseiro e possibilita ao veículo manter uma trajetória correta e segura mesmo em situações limites de utilização dos freios.
Outra “Japa”
Totalmente re-estilizada em 2008, a Frontier tem um visual bem sofisticado, efeito da enorme grade cromada que traz na parte da frente. Por dentro, porém, o acabamento é simples, quase espartano, sem muita frescura, ou seja, perfeita para o campo.
Apesar dos 3.020kg de peso, o motor de 140 cavalos com quatro cilindros garante um ótimo arranque. Além da boa retomada, a picape atinge pico de 164 Km/h. A potência do motor não decepciona quando exigida para os trabalhos da fazenda. Possui o “Sistema de Escorregamento Limitado” (VLSD) que ajusta as velocidades das rodas frontais com as traseiras, melhorando a tração e diminuindo o gasto excessivo de combustível.
O interior do veículo possui os itens básicos para considerarmos um utilitário confortável. Ar condicionado, direção hidráulica, câmbio automático, bancos de couro, piloto automático no volante e som com MP3. O diferencial é a bússola digital localizada no retrovisor da picape.
Cara nova, velha conhecida
Passando por sua quarta re-estilização desde que foi lançada no mercado brasileiro, a Ranger nunca mudou sua cara de verdade, em mais de uma década e meia. Algumas alterações sutis aqui, outras alí, mas não há como negar: é a mesma Ranger de sempre. É como uma sessentona cheia de botox. Pode até ficar uma coroa enxuta, mas se der uma de brotinho, cai no ridículo. Com isso, a picape da Ford começa a dar sinais de cansaço. De vice-líder e virtual rival da S-10 há cerca de 10 anos, hoje ela perde feio para as três mais vendidas do país, conseguindo emplacar um pouco mais do que a metade do que vende a L-200, terceira colocada no ranking, por exemplo.
Considerando a tradição da marca no mercado brasileiro, talvez uma mudança mais radical no projeto do veículo trouxesse a Ranger de volta a briga. Ou então uma troca pura e simples da Ranger pela mítica F-150, a campeã da marca norte-americana, que nunca deu as caras por aqui, a não ser para meia dúzia de endinheirados felizardos que importaram o modelo. Essa, com certeza, estaria brigando “cabeça-a-cabeça” com as demais.
Excesso de “bijuteria”
A última mudança mais significativa na S-10, a picape média mais vendida do Brasil, aconteceu há cerca de 10 anos. De lá para cá, a General Motors encheu a caminhonete de penduricalhos, inúmeros apliques de plástico na frente, no paralama ou em qualquer lugar que sobrasse, colocou bagageiro no teto, santo-antônio e inúmeros outros “fru-frus” para disfarçar a idade do modelo. O recurso foi tão repetidamente utilizado que a S-10 nova que vemos circular pelas ruas hoje lembra uma tia velha cheia de brincos, colares e pulseiras, e, é lógico, batom em excesso.
E como explicar a liderança no ranking da Fenabrave? Preço competitivo e uma boa gerência na área de vendas corporativas foram ao longo destes anos grande aliada da montadora. E, é claro, qualidade, facilidade de peças de reposição e uma rede de assistência que só uma das três maiores montadoras do país pode oferecer também pesou. Para se ter uma idéia, a S-10 aumentou significativamente o número de unidades vendidas em 2009, emplacando quase 9.000 unidades a mais do que em 2008 e mantendo praticamente inalterada a sua vantagem em relação a Hilux. Vantagem essa que já havia sido bem menor nos anos de 2006 e 2007.
Mas pode ser que, mesmo vendendo como picolé no verão, a boa e velha S-10 como conhecemos esteja com os dias contados. É o que dá a entender o recente anúncio que a General Motors fez, ao dizer que investirá R$ 500 milhões na fábrica de São José dos Campos, SP. Embora não diga o modelo que será lançado, a montadora acabou fornecendo uma pista ao revelar que o mesmo veículo será produzido na Tailândia. Para quem não sabe, o país asiático é berço de várias picapes médias à venda hoje, como a Hilux e a L-200 Triton.
Segundo a GM, o veículo terá porte médio e chegará ao mercado no segundo semestre de 2010. De qualquer modo, a GM precisará desenvolver um modelo que seja econômico e com baixa emissão de poluentes, porque a recente queda nas vendas de picapes nos Estados Unidos pode inviabilizar a nova S-10 antes do nascimento. Por outro lado, se renascida, a respeitável senhora pode por um pouco mais de pimenta na briga por este mercado, que tem o produtor rural como um de seus principais clientes.