Agricultura

Arroz – A melhor maneira de prevenir a doença são sementes de boa qualidade!

A Brusone é a doença mais prejudicial ao arroz no Brasil, tendo incidência de Norte a Sul do País, causando mais prejuízos em cultivos do Centro-Oeste – conhecidos também como arroz de sequeiros – que em situações drásticas podem sofrer perdas de 100% na lavoura. A doença é causada pelo fungo Magnaporthe grisea, que se desenvolve rapidamente, já que em 14 dias o fungo começa a causar danos na planta do arroz.

Basicamente existem três formas da doença acometer a lavoura. A principal é por meio da semente, mas também pode ser através do ar e de restos culturais. Como temos dois tipos de lavoura de arroz no Brasil, irrigado e sequeiro, a doença ataca de maneiras diferentes em cada local. No Rio Grande do Sul, onde as lavouras são irrigadas, a doença é conhecida como brusone do pescoço, por se desenvolver no primeiro nó abaixo da panícula.

Neste caso, a doença ocorre na fase final da lavoura, causando danos aos grãos, que ficam com peso reduzido e choco. Em situações mais graves de incidência, a infecção pode quebrar a panícula, causando prejuízo total na planta.

Segundo estudos elaborados pelo ex-pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Anne Sitrama Prabhu, cerca de 5 a 10% das terras sulinas são contaminadas pela doença todos os anos. Dentro deste percentual, o prejuízo provocado pela doença variou de 10 a 80% na colheita final. Atualmente, as lavouras localizadas na depressão central e no litoral do Rio Grande do Sul são as mais afetadas pela doença devido às condições de solo e clima mais favoráveis.

Já no cerrado, o fungo se desenvolve nas folhas, causando pequenas lesões que evoluem de tamanho, com margem marrom e centro cinza ou esbranquiçado nas folhas. Em condições favoráveis, as lesões crescem, causando morte das folhas e, muitas vezes, da planta inteira. Isso ocorre devido à diminuição do poder fotossintético da planta ao ser atacada pelo fungo, causando diminuição do tamanho dos grãos.

Transmissão

No Brasil, prioritariamente a brusone é transmitida pela semente infectada. Porém, as sementes infectadas, por si só, não provocam epidemia em condições de plantios bem manejados. Outra fonte de inóculo são os esporos do fungo, que sobrevivem nos restos culturais em lavouras de segundo e terceiro ano de plantio consecutivo. A terceira maneira de contágio são os esporos trazidos pelo vento, produzidos nas lavouras vizinhas ou distantes, plantadas mais cedo, constituindo-se de uma fonte importante de inóculo, que pode causar grandes perdas para as lavouras tardias. Todas as fases do ciclo da doença, desde a germinação dos esporos até o desenvolvimento de lesões, são influenciados em grande parte pelos fatores climáticos.

“A maneira mais importante de se prevenir da doença é adquirir sementes de boa qualidade e procedência, além de plantar o quanto antes, de preferência, em outubro”, explica Daniel Grohs, do Instituto Rio Grandense do Arroz, o IRGA. A boa qualidade da semente amenizará a infestação pelo maior meio de contágio, que é a semente infestada, e plantando em outubro evitará a segunda forma de contágio mais perigosa, que é através do ar. Quando as terras ao redor já estão com arroz plantado e infectado, o ar prolifera o fungo e acaba atingindo as lavouras novas, por isso, é importante que o produtor procure plantar o quanto antes.

Em 2010, especificamente, o problema da brusone será um pouco maior que o normal, já que o fenômeno El Niño trouxe muita chuva e, conseqüentemente, deixou o ambiente extremamente úmido. Na realidade, a chuva tem pontos positivos e negativos em relação à doença. Devido à chuva, muito produtores não conseguem plantar na época desejada, e acabam deixando a semeadura para novembro e início de dezembro, o que facilitará o contágio por meio do ar. Além disso, a umidade facilita a dissipação dos esporos, facilitando a viagem do fungo pelo ar. Por outro lado, a chuva acaba limpando os esporos da folha, diminuindo a dissipação. Com isso, entende-se que a partir do momento que a planta já se desenvolveu, a chuva só vem trazer benefícios. O que não é bom é o orvalho e a elevada nebulosidade. As altas temperaturas (entre 28 e 30ºC) contribuem também para a proliferação.

Já no caso do arroz sequeiro, o ar seco é o maior problema do produtor, resultando em morte rápida das folhas. Em sequeiro, a época de semeadura é a estratégia de menor custo para o produtor no quesito controle preventivo. Em média, nas semeaduras realizadas no mês de outubro, a probabilidade de ocorrer brusone fica entre 0 e 20%. Já a partir de novembro esta faixa fica entre 30 e 40%, e no mês de dezembro entre 60 e 70%. Além disso, as perdas médias de rendimento, caso ocorram doenças nas semeaduras de outubro situam-se entre três e cinco sacas por hectare (sc/ha). Já a partir de novembro, as perdas médias situam-se entre seis e 12 sc/ha. As perdas totais em lavouras, no caso de anos epidêmicos, ocorrem especialmente nas semeaduras realizadas a partir da segunda quinzena de novembro.

Controle em sequeiro

Os danos causados pela brusone em arroz de terras altas podem ser reduzidos significativamente por meio de práticas culturais, uso de fungicidas no tratamento de sementes, aplicação na parte aérea e uso de cultivares moderadamente resistentes. Recomenda-se como medidas de controle o bom preparo do solo, com aração profunda, o que reduz a severidade da brusone pela diminuição do efeito de estresse hídrico, uniformidade de plantio, utilização de sementes sadias, tratamento de sementes com fungicidas sistêmicos, plantio no mês de outubro coincidindo com o início das chuvas. A adubação nitrogenada em cobertura deve ser evitada entre 30 a 50 dias após a germinação, para não aumentar a severidade da brusone na fase mais suscetível. Não se recomenda a pulverização com fungicidas na fase vegetativa. A planta é mais suscetível ao brusone entre 30 e 60 dias após a semeadura. “Em terras de sequeiro usa-se fungicida a cada quinze dias, chegando a cerca de seis aplicações por safra. A primeira seria realizada no final do estágio R2, que é o final do chamado emborrachamento”, comenta Grohs.

A forma mais indicada é a utilização de cultivares resistentes, sendo a opção mais segura e ambientalmente sustentável, pois determina menor necessidade do uso de fungicidas. Segundo o ex-pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Anne Sitrama Prabhu, não há cultivares suficientes disponíveis no mercado para os produtores, que acabam utilizando sementes já conhecidas. “Os produtores estão acostumados a consumirem aquelas que já conhecem. Além disso, não se tem sementes resistentes distribuídas no interior de Mato Grosso”, cita o pesquisador.

Controle em arroz irrigado

Em arroz irrigado, o controle mais adequado é realizado com cultivares resistentes, ou moderadamente resistentes. Nas várzeas do Estado do Tocantins, para cultivares suscetíveis recomenda-se uma a duas pulverizações com fungicidas: a primeira no emborrachamento e outra na época de emissão das panículas, de forma integrada com práticas de manejo da cultura.

No Sul do País espera-se um bom preparo do solo, adubação equilibrada, uso de sementes de boa qualidade fisiológica e fitossanitária, semeadura, entre 15 de outubro e 15 de novembro, controle das plantas daninhas, troca de cultivares semeadas a cada três ou quatro anos e semeadura com densidade entre 120 e 150 kg/ha e com espaçamento não muito reduzido (17 cm).

É importante a adoção de práticas culturais combinada com o uso de cultivares resistentes, porque ambas ajudam a reduzir o uso de produtos químicos e, conseqüentemente, os danos ambientais e de custo de produção.

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