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Negócios: o que é que o oeste baiano tem?

O oeste do Estado da Bahia conheceu um desenvolvimento da atividade agrícola sem precedentes nos últimos anos, junto a isto, ele trouxe também a pecuária extensiva, atraindo grandes pecuaristas.

Quando no século 19, o escritor Euclides da Cunha cita em uma de suas obras, o sertão nordestino, sempre o descreve como sendo uma região de muita seca, miséria e de terras improdutivas.

Hoje, porém, mais de um século depois, um bom pedaço deste sertão mudou. E para melhor. Nos últimos 20 anos, pela crescente produção de frutas (no Vale do São Francisco) e de grãos (concentrado no oeste baiano), algumas regiões têm assistido sem precedentes ao também crescimento da pecuária. Não que a atividade seja recente, mas no Estado da Bahia, por exemplo, sempre se concentrava em parte regionalizadas. Mas, agora, a atividade está pulverizada e ganhando fôlego.

É possível, encontrar lá, no cerrado, grandes projetos agropecuários voltados para cria, recria e engorda, assim como diversos cruzamentos industriais. Sendo que a raça predominante é o Nelore e o Guzerá.

De acordo com os dados da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), hoje só no rebanho do oeste baiano são mais de dois milhões de cabeças. No total, o estado soma mais de 12 milhões de cabeças. Fatores como ampla disponibilidade de grãos, tecnologia de produção e a facilidade para comercialização são alguns dos motivos apontados pelos pecuaristas e, que explicam o avanço nos principais municípios, como: Barreiras, Santa Maria e Barra.

E foi este o “prato cheio” para antigos e novos empreendimentos se estruturarem, lá. Um deles está situado no município de Barreiras, a 871 quilômetros de Salvador. Em pleno extremo oeste baiano, a Fazenda São Francisco e a Fazenda Santo Antônio, são uma das que integram a Empresa Agropastorial Antonio Balbino. Em uma delas, a São Francisco cria-se gado a pasto, mesmo em condições adversas de clima e pastagens. Mesmo com solo arenoso, a divisão de pasto, adubação e manejo correto das pastagens e o aproveitamento de áreas permitiram resultados satisfatórios. Hoje, cultivam-se na propriedade pastagens de Adropogon, Braquiária (Bracharia brizantha e Bracharia decumbens), que garante a alimentação do gado. “Além disto, há um manejo bem direcionado e tecnologias modernas de melhoramento genético e manejo nutricional, ajustando às necessidades de cada animal”, diz o proprietário Antônio Balbino. “Havia por aqui (no oeste da Bahia) uma carência de fortalecer a pecuária da região”, pontua.

O que começou a se fortalecer, em meados dos anos 70, em questão de melhoramento genético e de adaptação melhorou tanto, que a Fazenda São Francisco é responsável por promover atualmente edições da Prova de Ganho em Peso (PGP), focado no projeto Nelore do Cerrado, com a participação de diversos criadores da região. “Submetemos os animais da PGP às mesmas condições e manejo de animais dos comerciais, (corte). Assim podemos perceber quais serão futuros reprodutores com as melhores performances, entre outras características, capazes de transferir aos seus descendentes”, explica o pecuarista.

Com o evento, que se tornou um diferencial na região quando o assunto é a pecuária extensiva, o criador neste ano, teve como objetivo apresentar os resultados do uso de tecnologias modernas na produção animal, tendo como foco a produção de bovinos geneticamente superiores, em condições de pastagens tropicais, assim como o foco de mostrar tourinhos Nelore (Puros de Origem) e Guzerá (Puros de Origem – e Livro Aberto). Além disto, avaliar melhor o gado e o desempenho dos animais a pasto.

Hoje, a Fazenda Santo Francisco conta com 1.400 animais, sendo que há quatro anos, estes números chegavam a 900. Já na Fazenda Santo Antonio, são aproximadamente cinco mil cabeças. E para garantir os resultados econômicos, os pecuaristas, assim como Balbino, vêm investindo em tecnologia de ponta. A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) com transferência de embriões (TE) já estão sendo utilizadas. “Acho que com isto, conseguimos trabalhar melhor”, acrescenta. “Estamos vivendo um novo cenário da pecuária regional em que se instalou uma nova escala de produção. Não cabe mais explorar uma atividade comercial sem ter boa produtividade e tecnologia. Com toda esta transformação é possível trabalhar de forma positiva para chegar a mais resultados”, aponta Balbino.

Terra Fértil para crescer

Outro pecuarista que montou um projeto no oeste baiano foi o selecionador de Nelore, Nelson Pineda. O número de animais o pecuarista não revela. Mas, seu projeto prevê criação em seis mil hectares, na região de Wanderley, no oeste baiano.

Segundo Pineda, que percebeu na região a vocação para a pecuária, a oferta de terra mais barata é uma das vantagens atraente para o crescimento da atividade, mas há outros. “Estamos próximos a regiões produtores de grãos. E a integração lavoura-pecuária é uma nova atividade agrícola que deixou de ser secundária. Com este desenvolvimento, o Brasil poderá atender a demanda mundial à frente de competidores internacionais, como os Estados Unidos e a Europa, justamente porque temos áreas ainda para serem exploradas”, aponta o pecuarista.

Além disto, enfatiza ele, um dos mais relevantes destaques é o fato de o Estado estar fora da Amazônia Legal. “Hoje, o lugar da obrigatoriedade de manter 80% de mata nativa, na Bahia, as fatias são de 20% a 35%, a depender da localização”, conta.

Para Pineda, outro ponto especial da região se refere ao clima, onde existem seis meses de seca e outros seis, período de chuvas. “Durante o período da seca, a suplementação tem um custo mais barato, pela questão dos grãos, que são produzidos em regiões próximas o que diminui o custo. Seguramente, este fato poderá trazer projetos de grandes confinamentos para cá também, como já vem acontecendo”.

No período da seca, o pecuarista também aponta as vantagens: como o tempo para produzir alimentos e preparar a pastagem, que hoje é formada por Capim-mombaça, Adropogon e Braquiária. “Contamos com o sistema de pastagem rotacionado que permite a lotação de 1,5 unidade animal por hectare. Verificamos que com tecnologia, podemos aumentar ainda mais as condições do rebanho e das pastagens. Precisamos ainda vencer alguns desafios, mas já temos dado um grande passo para a contribuição da pecuária nacional”, finaliza.

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