Falta de alimentação é porta de entrada de diversas doenças no gado que podem trazer prejuízos ao pecuarista na época de seca. A chegada do frio traz algumas peculiaridades na criação do gado, que podem determinar o lucro ou o prejuízo da atividade. Por ser um momento em que o pasto se torna ralo, o pecuarista deve se preocupar com a saúde do animal, que pode estar debilitada devido à escassez de alimento.
Nesta época do ano, o rebanho fica mais vulnerável e os bezerros são os que mais sofrem, porque têm dificuldade em manter a temperatura do corpo. “É no período de seca, que 80% da criação brasileira realiza os partos da bezerrada. O frio e a baixa umidade relativa do ar diminuem a incidência de vírus no ar, o que dificultam o surgimento de infecções provenientes do parto”, explica Pedro Paulo Pires, pesquisador da Embrapa Gado de Corte (MS).
Porém o organismo do recém-nascido tem dificuldade para manter a temperatura do corpo e acaba ficando mais suscetível a doenças. “O ideal é o pecuarista separar o rebanho em lotes por idade, já que quanto mais novo, mas debilitado fica o animal. Se você misturar o gado, os mais novos podem contrair doenças e assim passam a ser transmissores para o restante”, afirma Raul Mascarenhas, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste (SP).
Pneumonia
Segundo ele, um problema recorrente nessa época do ano é a pneumonia, que é uma inflamação nos pulmões dos animais. “A incidência de sol faz com que se tenham menos bactérias no ambiente e como no inverno o sol é fraco, o ar se torna mais carregado. Além disso, a baixa temperatura e a baixa umidade do ar facilitam a atuação das bactérias no animal”, explica Mascarenhas. Uma vez que os pulmões são infectados, os animais passam a ter dificuldade respiratória, tosse brônquica, corrimento nasal e temperatura elevada. Com a evolução da doença, o animal passa a ter cada vez mais dificuldades em respirar e acaba ficando deitado no pasto. Em alguns casos pode chegar à morte, mas todos sofrem com a perda de peso, trazendo prejuízo ao pecuarista.
Caso o produtor identifique animais com esse tipo de patologia, o tratamento deve ser realizado à base de antibióticos de amplo-espectro, anti-inflamatórios e mucolíticos, exigindo a participação de um médico veterinário no planejamento do trato.
Ceratoconjuntivite
Outra doença típica de inverno é a ceratoconjuntivite, ocorrida nos olhos dos animais. Geralmente os animais jovens são os mais afetados pela doença que é transmitida pela poeira existente nessa época do ano. Com o tempo seco, as bactérias Mycoplasma e Moraxella chegam na mucosa dos animais através da poeira, provocando vermelhidão nos olhos, lacrimejamento e pode aparecer uma mancha branca no meio do olho, que seria uma úlcera de córnea, podendo levar a cegueira. “A maioria dos animais acabam se curando sozinhos quando a quantidade de poeira baixar, mas alguns, o pecuarista terá de tratar para evitar a perda da visão do animal”, explica Mascarenhas.
Intoxicação
Com a escassez de pasto, o gado começa a procurar alimento e em alguns casos acaba consumindo plantas tóxicas. “Mesmo não tendo palatabilidade, os animais acabam se alimentando de plantas tóxicas porque não há alternativa. Dependendo da quantidade consumida da planta e do sistema imunológico, o animal pode morrer por intoxicação”, comenta Raul Mascarenhas, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste. Além da morte, a intoxicação pode levar a paralisia e a abortos. Ao ser identificado o problema no rebanho, os animais devem ficar sem movimentação, já que o exercício acaba acelerando a circulação sanguínea, piorando os sintomas. O correto é deixar o gado estático, aguardando a intoxicação passar. Os medicamentos antitóxicos só contribuem com o fígado para eliminar a toxina do órgão.
Carrapatos
Devido à baixa resistência provocada pela má alimentação do gado, o carrapato se torna um inimigo mortal para o rebanho. “Na época fria, o animal acaba ficando com pelos longos e o pecuarista que não acompanhar de perto, não percebe a incidência do parasito. Como o animal já está debilitado devido à escassez de pasto, a ação do carrapato é muito mais danosa e provoca anemia no gado, podendo levar a morte”, afirma o pesquisador, Alfredo Pinheiro, da Embrapa Pecuária Sul, do Rio Grande do Sul.
Para proteger o gado de todos esses problemas, a alimentação é a principal deficiência a ser sanada. “O sistema imunológico enfraquecido é a porta de entrada para as doenças. Além de perder peso naturalmente devido à diminuição da alimentação, o gado perde a saúde. No final das contas, um rebanho mal alimentado resulta em perda de peso devido, não só pela alimentação, mas também pelas doenças”, explica Raul Mascarenhas, da Embrapa Pecuária Sudeste.
“Independente de qual região que o pecuarista está, se ele realizar um programa parasitário preventivo adequado e providenciar alimentação ao gado na época da seca, o animal pode ser encaminhado ao frigorífico em dois anos, independente da raça”, afirma o pesquisador Alfredo Pinheiro. O controle parasitário deve ser realizado entre os meses de março a maio para prevenir problemas no inverno.