Produtores do interior de São Paulo pretendem transformar o amendoim em uma riqueza nacional. Muitos já estão nesta empreitada, com excelentes resultados de produção exportação e geração de renda. O popular amendoim está ganhando cada vez mais força no mercado brasileiro.
Depois de perder espaço para a soja na década de 70, a cultura retoma a trajetória de expansão no País e, agora se transforma em uma riqueza nacional. O crescimento dessa cultura se deve tudo graças à união de muitos produtores, como os dos municípios paulistas de Jaboticabal, Pradópolis, Guariba, Dumont e Taquaritinga. Juntos, eles integram a Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba (Coplana).
E como a união faz a força, juntos também, 170 cooperados colhem os frutos de anos de investimento no campo. Só nesta safra serão equivalentes a 52 mil toneladas (t) de amendoim limpo, em casca. Um volume 7% maior, em comparação ao mesmo período do ano passado. Na safra 2007/2008, foram 45 mil toneladas. Em 2007, a Cooperativa foi responsável por metade do amendoim exportado pelo Brasil. Foram 12.128 t.
Além da união, um dos itens responsáveis pelos bons resultados foi a qualidade. “Antigamente não existiam: maquinários, mão-de-obra especializada e mercado. Nesta safra espero colher 12 mil sacas, sendo que 50% dessa produção serão destinados para exportação. Com qualidade, temos mercado certo para vendermos”, explica Celso Antonio Cândido, produtor que há 17 anos investe na cultura do amendoim, sendo que há três é um dos cooperados da Coplana. Hoje dos seus 100 hectares, 50 são destinados à cultura do amendoim e os demais para o plantio de soja. “A área plantada sempre corresponde com o resultado da safra anterior. Se o preço melhora, aumentamos a área de plantio”, explica Cândido, produtor no município de Jaboticabal.
Segundo o produtor e diretor da Coplana, Ismael Perina Jr. desde o plantio à colheita, os produtores recebem acompanhamento técnico. “Além disto, todo o custo é previsto também, desde insumos de arrendamento até transporte. Se eles investem dinheiro querem ganhar dinheiro”, esclarece Perina Jr., que garante a qualidade do produto da cooperativa. “Nos últimos tempos, o requisito qualidade tem melhorado muito e conquistado o paladar europeu”, diz Perina Jr. “Com isto, conseguimos melhores preços no mercado. As dificuldades sempre existem, mas ao longo do tempo, conseguimos rentabilidade com o nosso negócio”, reforça. Em relação aos preços atuais, os produtores apenas lamentam os índices baixos, na média o mercado paga hoje R$ 15 por saca. Porém, o ideal é que chegue a R$ 20, a saca.
No entanto a qualidade do produto veio junto com outro atrativo: o volume de produção. Desde a década de 1980, os produtores daquela região aderiram à rotação de culturas, o que permitiu também a um pequeno proprietário de terras produzir em áreas cedidas por usinas e outros fornecedores, com o arrendamento pago em produto. “Em outras palavras, o cooperado, que era um pequeno produtor de cana, viu sua lavoura ser transformada e tornou-se um grande produtor de amendoim”, comenta o diretor da Coplana.
Neste sistema, após cinco safras de cana-de-açúcar (uma das principais atividades daquelas regiões), começa o replantio devido à baixa produtividade. Neste intervalo, conhecido como reforma de canaviais, pequenos agricultores sem terras disponíveis o suficiente, arrendavam áreas até de grandes usineiros para conseguirem volume e renda adicional. A rotação de culturas resultou na produção de alimentos, com benefícios à comunidade. “A estratégia começou com o plantio de soja e, principalmente, amendoim nas áreas de reforma da cana, que somam de 17% a 20% da área total ocupada pela cultura. Assim, a cada safra essas áreas passaram a ser apenas utilizada para produzir alimentos e que aos poucos ganhou uma outra dimensão”, explica o técnico e engenheiro agrônomo, da Coplana, Juliano Rodrigo Coró.
Com a rotação de culturas, a atividade permitiu que o solo ficasse protegido, que não houvesse competitividade das culturas e que gerasse renda alternativa para os pequenos produtores que arrendavam terras, no período de entressafra da cana”, ressalta Coró. Para ele, a rotação de cultura teve um papel fundamental, uma vez que os benefícios foram sociais e econômicos, gerando renda e emprego, e reciclando o sistema de plantio. “A rotação fechou todo os ciclos da produção”.
Na concorrência pela rotação de ciclo curto, o amendoim entrou em vantagem uma vez que a soja precisava de área maiores e a renda dele era melhor quanto ao volume produzido. Hoje, a média colhida pelos produtores é de 160 sacas de 25 kg por hectare. “Temos resultados excelentes de produtividade. Nos últimos anos com novas cultivares, conseguimos manter a regularidade do volume produzido”, diz o diretor da Coplana e produtor, Ismael Perina Jr., que destinou nesta safra 60 hectares para o plantio de amendoim.
A potência do amendoim brasileiro
Se a produtividade está em ascendência, o mercado também. Impulsionado pelos bons preços internos, os produtores preveem um plano de crescimento da produção no mercado interno, com uma maior presença do produto nas prateleiras das redes de varejo. Além disso, o aumento das exportações e o lançamento de novas variedades, resistentes à doenças, fazem com que o amendoim já produza “bons frutos mercadológicos”, principalmente com a influência das festas juninas. Período considerado a grande vitrine para o setor – quando as vendas aumentam de 30% a 40%.
Hoje, cerca de 80% da produção de amendoim está concentrada em São Paulo. Mas, a tendência é para o aumento das áreas de cultivo em outros estados brasileiros. “Na verdade, há novos projetos com usineiros para desmistificação quanto à cultura do amendoim. Alguns já quebraram o paradigma e plantam cana mais cedo, para inserirem áreas de soja e amendoim, culturas lucrativas”, ressalta o técnico e engenheiro agrônomo Juliano Coró.
Segundo o engenheiro, os produtores plantam no final de setembro, outubro e novembro e colhem até final de fevereiro. Entre os meses de março a abril, é a hora de sulcar a terra e plantar cana novamente.
Porém, outro fator para a expansão da cultura foi o surgimento de novas cultivares de ciclos curto (110 a 120 dias, do plantio à colheita), o que permite que o amendoim possa ser produzido em locais onde a precocidade é um requerimento importante, como é o caso das áreas arrendadas na renovação da cana-de-açúcar, onde o ciclo da cultura não pode ultrapassar 120 dias. Com isto, as cultivares rasteiras cada dia mais estão ganhando espaço nas regiões de produção, pois permitem a maior técnica da cultura. Entre outras vantagens, o porte rasteiro permite a total mecanização da colheita.
Dessas cultivares, a que apresentou mais vantagens foi a Runner IAC 886, sendo mais aceita na Europa. “E por falar na exportação, a porta é ainda muito estreita. Somente empresas com processos qualificados conseguem aprovação do Ministério da Agricultura para colocar o produto no mercado externo. No País, além da Coplana, somente mais duas empresas conseguem atender às exigências”, diz o engenheiro agrônomo Juliano Coró.
Questões de Qualidade
Para garantir um produto seguro, a cadeia produtiva vem se adequando quanto às técnicas de manejo do Programa de Produção Integrada de Amendoim, implementado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Entre outros critérios, o programa estabelece a responsabilidade socioambiental e a rastreabilidade.
A adequação, realizada também pela Coplana, liderou um movimento de mudança de conceitos, como a mecanização no campo e o emprego de alta tecnologia na pós-colheita. “Depois de 1997, com o apare-cimento das aflatoxinas, cada produtor começou a investir pesado para garantir a segurança alimentar e com isto aumentar o consumo do amendoim”, diz Coró.
Segundo o diretor da Coplana, Ismael Perina Jr., a grande vantagem do amendoim é a composição de alta qualidade nutricional dele, podendo ser largamente aproveitado na alimentação, principalmente como suplemento protéico na merenda escolar. “Precisamos fazer o marketing para investir no consumo. Hoje, temos indústrias produzindo manteiga e outros derivados. Precisamos inserir o amendoim no hábito alimentar da população. Aqui no Brasil, o consumo desta oleaginosa concentra-se na área de confeitos, salgadinhos e doces, tornando a paçoca e o pé-de-moleque dois ícones da cultura popular”, argumenta.
Hoje, além de difundir os benefícios do amendoim e aumentar a produtividade, a cooperativa rural do interior de São Paulo provou que pioneirismo e inovação são capazes de transformar áreas produtoras de energia em grandes pólos de produção de alimentos.