Agricultura

Fruta paulista: caqui para inglês ver

Fruticultores buscam certificação para atender a necessidade de países europeus, que remuneram muito bem o produtor. O Brasil produz cerca de 43 milhões de toneladas de frutas em 2,2 milhões de hectares, mas exporta apenas 2% como fruta fresca, apesar de que nos últimos oito anos o comércio para o exterior cresceu mais de 19% ao ano.

Em busca desse mercado, fruticultores do estado de São Paulo estão se adaptando às exigências dos países consumidores com a ajuda do Projeto Fruta Paulista.Desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), em conjunto com o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), o projeto é uma parceria para auxiliar o fruticultor. “A intenção é elevar o poder de competitividade dos pequenos produtores de frutas do estado de São Paulo”, afirma Joaquim Xavier Filho, gerente de desenvolvimento do Sebrae-SP.

“Com isso, nós fixamos os fruticultores no campo, agregamos valor e os preparamos para o mercado”. Uma maneira encontrada para melhorar as condições dos produtores foi através do GlobalGap, um certificado internacional que garante a procedência da fruta. Ou seja, um consumidor estrangeiro tem segurança do produto que está comprando, se este for certificado com o selo. O projeto pretende atender 320 produtores de diversas culturas, como o caqui, o abacaxi e a uva até o final de 2009.

Uma das regiões já atendidas é a de Pilar do Sul, próximo a Sorocaba, a 102 quilômetros de São Paulo, capital. Fruticultores, unidos pela Associação Paulista de Produtores de Caqui (APPC), são beneficiados pelo projeto e estão conseguindo exportar a fruta para a Europa. Carlos Akira Morioka possui 3.000 pés de caqui do tipo foyu (uma variedade mais consistente, parecida com a maçã) e conseguiu seguir as orientações do Sebrae-SP para conquista da certificação.
“Em 1992 eu comecei a produção de caqui”, conta Akira. “Em 2000, eu e outros produtores sentimos a necessidade de formar uma associação para aperfeiçoar as práticas e melhorar as condições de venda. Em 2004, nós vimos que precisávamos de algo a mais, e isso era o GlobalGap”. Diante da necessidade, os produtores buscaram ajuda de uma consultoria para tentar a certificação. Quando já estavam em fase final, mas ainda não tinham todos os requisitos, o Projeto Fruta Paulista surgiu.

“Não vou dizer que começamos do zero, mas quando o projeto começou”, explica Cláudio Shoiti Ito, produtor e diretor da área de exportação da APPC, “nós tivemos de fazer cursos, oferecidos pelo Sebrae, de capacitação, de higiene e limpeza, do uso de EPI [equipamento de proteção individual], entre outros que são necessários para conseguirmos o certificado”.

Hoje, as fazendas certificadas possuem banheiros na lavoura, pias para os funcionários lavarem as mãos antes da colheita, locais apropriados para armazenagem de produtos químicos e também para manuseio deles. Além disso, os funcionários recebem treinamentos e orientação a respeito das boas práticas agrícolas.

A exportação de parte da produção diminui a concorrência interna dos produtores e eleva o preço da venda. “Nós víamos que tinham muitos pés de caqui na região”, declara Carlos Akira, “e achamos que se não tivéssemos como escoar essa produção, acabaríamos com uma forte concorrência entre nós mesmos”.

Com certeza os pequenos produtores encontram dificuldades em realizar todas as mudanças já que o investimento inicial precisa ser feito. “Toda essa mudança realmente é onerosa. Trazer água potável até a lavoura não é barato, mas todos os custos compensam”, afirma Shoiti. “Hoje nosso produto tem mais confiança para o consumidor lá fora, tem mais qualidade, nossos funcionários são mais capacitados e estamos muito mais organizados em todos os sentidos”.

Sobre a dificuldade dos funcionários em aderirem às mudanças, os produtores foram enfáticos em dizer que os empregados ficaram satisfeitos. “Eles viram que a mudança era para melhor, e o quê é para melhor, todos querem. Então eles gostaram das alterações que foram propostas nos cursos”, comenta Akira.

O produtor diz que a responsabilidade aumenta com a certificação. Caso a fruta apresente algum problema lá na Europa, é possível saber de qual produtor ela veio, quando foi colhida e de qual fileira de pés. “Só não dá pra saber de qual pé foi colhido, mas tudo isso mostra que as pessoas podem confiar no nosso trabalho”, enfatiza Akira.

Exportação

Outro produtor que também faz parte da associação e que está exportando é Paulo Shigueru Toyoda. Ele possui cinco mil pés de caqui foyu e mais 1.500 de rama forte (variedade mais popular, a qual a consistência é mole). Com a produção certificada, Toyoda exporta grande parte, tendo uma preocupação especial com os frutos. Além das redes protetoras para que o granizo não destrua a produção, ele envolve os frutos com papéis para proteger de pássaros e insetos, além de manter o caqui mais úmido.

“Pretendo exportar ainda mais do que exporto hoje, porque o preço se mantém durante a safra e se paga muito bem, mas ano a ano vamos aumentando isso”, acredita Toyoda.

Um problema que os agricultores enfrentam é a ausência de produtos químicos licenciados pelos países compradores. “Há produtos licenciados que não são vendidos no Brasil, então temos que usar produtos autorizados por esses países para outras culturas, para atendermos a necessidade do comparador”, explica Shoiti.

Apesar de ter mais trabalho, o produtor obtém diversos benefícios com a venda ao mercado europeu. “A exportação é muito boa porque o preço é o mesmo durante toda a safra. Nós já sabemos quanto vamos receber por nossas frutas, coisa que no mercado interno é totalmente o contrário, já que um dia pode estar com o preço alto e no outro com preço baixo. Além disso, no exterior se paga a mesma coisa por frutos grandes e pequenos, já no Brasil o pagamento é melhor por frutos grandes”, afirma Shoiti.

Além da certificação, o Sebrae contribuiu com os produtores levando-os a feiras internacionais de frutas. Em uma delas, Shoiti, o representante de exportação da APPC, foi à Alemanha a fim de divulgar a fruta, e deu certo. “Nós conseguimos muitos contatos na feira, apesar dos problemas com a chegada das frutas, que ocorreu no último dia de exposição”, lembra.
Atualmente, nove produtores estão certificados na região, mas outros 14 estão aguardando o resultado para receberem o GlobalGap. “O Sebrae realmente está tocando o projeto para que cada vez os produtores tenham mais condições de produzir e participar do mercado com qualidade”, explica o coordenador regional do Sebrae de Sorocaba, Eduardo Flud.

O desenvolvimento da produção

A exportação é muito importante para a fruticultura e para o Brasil já que 40% dos empregos no agronegócio são requisitados na produção de frutas. Em 2008, foram exportadas 888 mil toneladas de frutas frescas, equivalente a US$ 724 milhões. Os valores altos referentes à pequena quantidade mostra a importância do mercado externo. “A Inglaterra paga muito bem, mas o produtor não pode ser só produtor, tem de ser um empresário já que tem tanta papelada e burocracia”, explica Cláudio Shoiti.

Akira relembra um dos fatores essenciais para que os produtores atinjam o mercado externo. “Agora, sem estarmos juntos em uma associação não seria possível exportar, nem conseguir a certificação”, declara Akiri. Shoiti complementa: “Juntos nós temos volume para a exportação, senão, nós estaríamos vendendo para exportadores e não direto para os países consumidores”.

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