A primeira cultivar de gergelim com proteção concedida no Brasil é da Embrapa. A BRS Morena foi desenvolvida pela equipe da Embrapa Algodão (Campina Grande/PB) e deverá atender grandes produtores da região Centro-Oeste onde a cultura tem se expandido nos últimos anos, especialmente no estado do Mato Grosso. A cultivar deve chegar ao mercado em 2020.
“Há cerca de três anos, ao identificar a expansão da cultura do gergelim para o Centro-Oeste, a equipe de melhoramento genético da Embrapa Algodão iniciou o desenvolvimento da BRS Morena. A proteção resguarda o direito da Embrapa sobre a cultivar e permite o maior controle sobre as sementes que serão produzidas e a manutenção do protagonismo da Empresa”, explica a pesquisadora da UD responsável pelo desenvolvimento da cultivar, Nair Arriel.
A proteção se justifica pela possibilidade de detenção dos direitos exclusivos de exploração. As cultivares existentes no mercado brasileiro são de domínio público ou introduzidas, pois a cultura do gergelim era regionalizada, restrita a pequenos produtores do Nordeste brasileiro, esclarece a gestora de ativos da Gerência de Marketing da Secretaria de Inovação e Negócios (GGM/SIN), Aline Zacharias.
Gestão integrada
A perspectiva de expansão da área de cultivo e de mercado tornaram conveniente e oportuna a obtenção dos direitos de proteção, cujos royalties oriundos da exploração comercial da cultivar poderão retornar para a pesquisa, ainda que indiretamente. Uma avaliação construída entre as equipes da unidade de pesquisa desenvolvedora da cultivar e da SIN.
A gestão integrada visa aperfeiçoar a captura de valor para negócios levando em conta a relação custo-benefício e a geração de impactos, diz Zacharias – que como gestora de ativos oferece subsídios à decisão da proteção às profissionais da supervisão de Propriedade Intelectual da Gerência de Ativos (GAT/SIN).
A gerente da GAT, Caroline Turazi, destaca que o estabelecimento de critérios para subsidiar a decisão sobre a conveniência e oportunidade da proteção é um dos papéis da SIN, assim como indicar diretrizes que disciplinem a produção intelectual, tanto no âmbito interno quanto na sua interface com o ambiente externo. A ideia é promover a inserção competitiva da Embrapa no ambiente de inovação em benefício da sociedade brasileira, aponta.
O mercado
A BRS Morena tem como principal atrativo a película marrom avermelhada, bem apreciada em diversos mercados mundiais e será direcionada ao mercado gourmet. Segundo a pesquisadora Nair Arriel a cultivar apresenta alta produtividade de grãos e teor de óleo acima de 50%.
Apesar de 90% do mercado brasileiro de panificação e óleo adotar sementes de coloração branca, o segmento de consumo gourmet tem interesse por aquelas de coloração mais escura, como a BRS Morena. “Para alguns segmentos ela traz um diferencial de sabor. No mercado árabe, por exemplo, eles gostam do tahine feito de sementes mais escuras”, conta.
No momento, a Embrapa Algodão trabalha na prospecção de produtores para multiplicar as sementes e desenvolver mercado para a nova cultivar. “Uma das estratégias será apresentar a cultivar durante o Seminário do Gergelim em Canarana, no Mato Grosso, maior produtor nacional de gergelim, onde estarão tanto produtores quanto compradores de gergelim”, adianta o supervisor na área de inovação e negócios Daniel Ferreira.
A pesquisa
A Embrapa Algodão tem atuado de modo a lançar cultivares cada vez mais produtivas e mais adaptadas a diferentes ambientes; com maior teor de óleo; tolerância a pragas e doenças, mirando tanto o mercado de alimentos quanto o de óleo. “Para isso, vínhamos desenvolvendo variedades de coloração branca ou creme como a BRS Seda e BRS Anahí, nossos lançamentos mais recentes”, pontua.
Já a cultivar BRS Morena apresenta potencial de produção de cerca de 980 quilos por hectare em regime de sequeiro e 1800 quilos por hectares em sistema irrigado. É recomendada para cultivo mecanizado tanto em larga como pequena escala para as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Em relação à produtividade, a BRS Morena está no meio termo entre a BRS Anahí, muito procurada por permitir colheita mecânica e a BRS Seda, mais adocicada, mas que não permite a prática. “A BRS Seda é bastante ramificada e tem sementes de coloração branca, enquanto a BRS Anahí não é ramificada, mas tem sementes bem maiores. Na BRS Morena a ramificação é intermediária e o teor de óleo também se aproxima das duas últimas cultivares lançadas”, compara.