Pecuária

Manejo: pastagem bem gerenciada

É com a manutenção e reforma de pastagens, lotação adequada de animais por hectare que o pecuarista poderá garantir mais rendimentos à propriedade.

O jeito mais econômico de se alimentar o rebanho brota da terra e, se manejadas corretamente, as pastagens podem render uma média de ganho de peso vivo, no período das águas (novembro a janeiro), na faixa de 0,6 a 0,8 quilo por animal por dia, podendo chegar a até 1 kg/animal/dia, de acordo com estudos da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). Além de ser econômica, a alimentação a base de pastagem causa danos menores ao meio ambiente e garante maior conforto ao animal, de acordo com a pesquisadora da unidade, Patrícia Perondi Anchão Oliveira, especialista em pastagem e forragicultura.

“O produtor somente tem a ganhar com o melhor manejo das pastagens. Em tempos de crise, saber manejar adequadamente a pastagens, pode viabilizar economicamente a atividade e definir a permanência do pecuarista na atividade”, pondera. No entanto, o problema crônico na pecuária de corte incide justamente no manejo desse alimento destinado ao gado – a degradação do pasto. De acordo com estudos da Embrapa, estima-se que cerca de 80% dos 45 a 50 milhões de hectares de área de pastagens nos Cerrados do Brasil Central, que responde 60% da produção da carne brasileira, apresentam algum grau de degradação. Vários fatores podem estar relacionados com a degradação, entre eles o principal é a redução da fertilidade do solo, associada à redução da disponibilidade do nitrogênio – elemento químico (N) importante para o desenvolvimento das plantas. Também podem contribuir com a degradação o plantio de espécie forrageira não adaptada às condições locais e o manejo inadequado das pastagens, como, por exemplo, a baixa lotação de animais por hectare de pasto (o subpastejo) ou o contrário, número excessivo de animais por hectare (superpastejo).

Para contribuir para melhores resultados na engorda do gado, o pecuarista deverá estar atento à manutenção e reforma de pastagens.

“A recuperação das pastagens, quando for possível adotá-la, é uma prática viável, tanto técnica quanto economicamente”, analisa a pesquisadora Patrícia Anchão. “Se em cada hectare de pastagem degradada se adotasse apenas as primeiras etapas do processo de recuperação, seria possível dobrar a média de lotação animal do Brasil de algo ao redor de 1 para aproximadamente 2 unidade animal (UA) por hectare [1 UA significa 450 quilos de peso vivo], fato que tornaria possível dobrar o rebanho nacional, sem a derrubada de uma única árvore ou ainda reduzir a área de pastagens pela metade, liberando espaço para a agricultura”, calcula.

Em termos de valores, o custo de recuperação pode corresponder a 78% do custo de implantação de uma nova área de pastagem, segundo dados da pesquisadora.

Intensificação da produtividade

Para se ter um pasto produtivo, o pecuarista deve começar com a escolha da espécie ou cultivar, a escolha da área, o preparo e correção de solo, a época adequada de plantio e adubação, e, finalmente, o método de plantio. Estudos da unidade da Embrapa de São Carlos (SP), apontam a viabilidade da técnica de manejo intensivo rotacionado com as forrageiras do tipo Tanzânia e Mombaça, Braquiarão, e Coastcross. Segundo os especialistas, esse sistema permite aproveitar o potencial máximo de crescimento das forrageiras tropicais durante o verão.

“Quando o produtor decide intensificar a pastagem, ele deve rever alguns conceitos”, esclarece Anchão. “Ele deve considerar a pastagem como uma cultura. As pastagens podem extrair mais nutrientes do solo do que a maioria das plantas cultivadas, dependendo do grau de intensificação. Também se torna imprescindível procurar ajuda de profissional especializado e realizar amostragem de solo e análise em laboratórios de qualidade reconhecida”, destaca.

Com o apoio técnico especializado, a escolha da área de cultivo deve ser baseada no tipo de gramínea adequado, o estante (população de plantas por área), a topografia do terreno (áreas planas ou com pequeno declive apresentam vantagens em relação às de maior declive, pois facilitam a distribuição de corretivos e adubos), a infra-estrutura da propriedade, o custo de implantação e a fertilidade original do solo.

As variadas verdinhas do pasto

As forrageiras mais comuns e que podem ser utilizadas sob manejo intensivo são o capim-braquiária, o capim-braquiarão, o capim-colonião, o capim-tanzânia, o capim-tobiatã, o capim-mombaça, o capim-coastcross, o capim-estrela e o capim-tifton. A escolha da forrageira deverá se adequar às características da região, que apresentem condição de responder mais rapidamente às adubações e não estejam em processo de degradação.

Gênero Brachiaria. Teve um papel importante no País, pois viabilizou a pecuária de corte nos solos ácidos e de baixa fertilidade, predominantes na região dos Cerrados, e constitui ainda hoje a base das pastagens cultivadas brasileiras.

Gênero Panicum. O Panicum maximum Jacq. é uma das espécies de plantas forrageiras mais importantes para a produção de bovinos nas regiões de clima tropical e subtropical, sendo a cultivar Colonião a mais difundida e de introdução mais antiga no Brasil. Outras variedades ganharam destaque, em função do potencial de produção de matéria seca por unidade de área, ampla adaptabilidade, boa qualidade de forragem e facilidade de estabelecimento. Entre elas se podem listar as cultivares Tobiatã, Vencedor, Centenário, Centauro, Aruana, Tanzânia, Mombaça e Massai.

Gênero Cynodon. Apresenta-se como mais um recurso forrageiro para as regiões tropicais e subtropicais. Existem duas espécies principais: o capim-bermuda e o capim-estrela. No grupo das bermudas, vários híbridos estão disponíveis: Coastcross, Florakirk, Tifton 44, Tifton 68 e Tifton 85. No grupo das estrelas estão disponíveis as cultivares: Florico, Florona e Ona.

Implantação do sistema

De posse dos resultados da análise de solo, do número de animais e qual categoria (vaca, novilha, garrote, bezerro) vão se alimentar da pastagem, do peso deles e com a ajuda de um técnico especializado, deve-se definir as doses de calcário e nutrientes utilizadas, assim como a fontes de fertilizantes a serem empregadas, segundo a pesquisadora Patrícia Anchão.

O preparo do solo deve ser feito de forma a criar condições ideais para a germinação das sementes e para o crescimento da planta. Nesse estágio é importante permitir o maior contato da semente com as partículas de solo, além de garantir a colocação das sementes em profundidade adequada – para a maioria das espécies forrageiras, a profundidade de plantio recomendada é de 2 a 4 cm. As forrageiras tropicais devem ser plantadas durante o período chuvoso e quente do ano, quando as condições climáticas são mais favoráveis ao desenvolvimento das plantas.

Calagem

A calagem deve ser a primeira prática de correção no solo. “A função dela é corrigir a acidez do solo [fornecendo Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg)], e é muito importante porque a acidez do solo afeta o crescimento das plantas de várias formas e diminui a eficiência de uso de nutrientes aplicados por meio de fertilizantes”, explica a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste.

Essa correção no solo é realizada 30 a 90 dias antes do plantio, de acordo com o Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT) do calcário. “Esse índice reflete o PRNT da acidez do solo e quanto maior o valor dele menor a dose de calcário para diminuir a acidez do solo”, explica Anchão.

Adubação

Cinco elementos estão presentes na adubação do solo e devem ser manejados de forma e doses corretas para melhores resultados na produtividade da cultura de forrageira. São eles: fósforo (P), potássio (K), enxofre (S), nitrogênio (N) e micronutrientes. Para a obtenção de uma maior quantidade de forragem, é necessário considerar que as gramíneas forrageiras são tão ou mais exigentes do que as culturas tradicionais. Dessa forma, para a exploração intensiva das pastagens nos solos de cerrado, a correção e a adubação estão entre os fatores mais importantes a determinar o nível de produção das forrageiras.

Nos programas de correção e adubação de solo são destacados sete erros comuns, de acordo com Patrícia Anchão: (1) a falta de uma amostragem e análise de solo; (2) o uso de fertilizantes, sem verificar a necessidade de calagem; (3) recomendação de doses de fertilizantes, principalmente de N, sem considerar a lotação animal pretendida; (4) correção e fertilização de pastagens para atender animais de genética comprometida, que não ganham peso e nem produzam leite; (5) Adubação de pastagens, principalmente com N, sem possuir número de animais suficiente para consumir a forragem produzida; (6) a falta de monitoramento de fatores climáticos, como chuvas e temperatura mínima; e, finalmente, (7) a falta de consulta de um profissional para realizar as recomendações de fertilização.

Lotação Contínua

Os principais objetivos do manejo das pastagens são assegurar a longevidade e a produtividade da planta, além de fornecer alimento em quantidade e qualidade para atender às exigências nutricionais do rebanho. O manejo das espécies forrageiras está relacionado às características de forma, estrutura e funções orgânicas das plantas. Há dois métodos clássicos de pastejo que podem ser utilizados, o contínuo e o rotacionado.

No pastejo com lotação contínua, os animais permanecem na mesma área durante toda a estação de pastejo ou durante o ano. A vantagem do método de pastejo com lotação contínua é a possibilidade de se obter desempenho animal mais elevado. No entanto, com o decorrer de oferta elevada de forragem, ocorre o acúmulo de material morto, o que prejudica a produção futura de pasto. Assim, à medida que se intensificar a produção das pastagens com essas forrageiras, o pastejo rotacionado também passa a ser indicado, por permitir controle do resíduo pós-pastejo de forma mais adequada.

As plantas do gênero Brachiaria, principalmente a B. decumbens e a B. humidicola, e as do gênero Cynodon podem apresentar bom desempenho sob pastejo contínuo, de acordo com a Embrapa. Nesse caso é recomendado manter a altura das forrageiras entre 20 e 40 cm. Outra forma de se ajustar o manejo é por meio da disponibilidade de forragem. No caso de plantas forrageiras do gênero Cynodon, de forma geral, é recomendado manter a altura das plantas entre 15 e 25 cm. Já para os capins do grupo estrela, que são de porte mais elevado do que os capins do grupo bermuda, é indicado manter altura de pastejo acima de 30 cm.

Rotacionado

O sistema de pastejo rotacionado, que se caracteriza pela mudança periódica e freqüente dos animais de um piquete para outro dentro da mesma pastagem, é o mais indicado, por garantir maior uniformidade e melhor eficiência do consumo da forrageira e maior controle do estoque do alimento ao gado. Esse sistema facilita, assim, a determinação da oferta de forragem, que é definida em termos de quilogramas de matéria seca ofertada por dia por 100 kg de peso vivo (% PV).

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