Por Gustavo Avelar * – Se tem uma situação que me tira o sono é a desorganização na comunicação do agro a nível global. E se olharmos para realidade desse setor no Brasil é ainda mais crítica. Falta postura, posicionamento, investimentos em massa, estratégia e relacionamento com quem tem o poder da comunicação em massa nas mãos.
Em muitas situações quando se fala em meio ambiente e sustentabilidade, por exemplo, o agro sai como vilão. Você se lembra da história de que os ‘peidos’ dos bovinos foi considerado o vilão do aquecimento global, da segunda-feira sem carne e da ‘vilanização’ da pecuária? E você sabia que a queima de combustíveis fósseis é responsável por 86% das emissões de dióxido de carbono do mundo? Talvez sim. Mas você se lembra de alguém falar, mencionar algo sobre ou fazer uma campanha de segunda-feira com indústrias paradas?
Mas por que isso acontece no agro? Pela experiência que tenho, um dos motivos é a concentração das grandes empresas que conseguem atuar de forma mais próxima da mídia que minimiza o marketing negativo. Além disso a desorganização política do setor também contribui para a falta de ampla defesa sempre que necessária for em plenários, fóruns mundiais, políticas públicas governamentais, ações sociais, dentre outras atividades de atribuições apenas ou especialmente de agentes públicos, como vereadores, prefeitos, deputados (federais e estaduais), senadores, governadores, ministros e presidente.
No caso específico de Mato Grosso essa organização do setor com esses entes públicos se torna um pouco mais complexa, tamanha extensão territorial e característica ambiental diferenciada do Estado, que carrega os três biomas. Com o agro muito pulverizado, acaba ficando sem representatividade e sem voz. Mas, como o produtor pode contribuir em busca de uma solução para isso? Participando de entidades de classe como sindicatos rurais, associações, institutos, ongs do setor, cooperativas, dentre outros conglomerados que discutem a realidade, o presente e o futuro do agro.
Porém, não dá para ser somente sócio ou associado. É preciso estar presente e investir tempo e sabedoria no negócio. Dispor de uma boa equipe técnica e trabalhar muito, já que mídia e pesquisa têm custo e esse é um ponto importante. Veja bem, para mudar a visão que o consumidor final tem do agro é necessário investimento em comunicação e pesquisa. E eu explico o porquê.
Primeiro, para comprovar que o agro é uma das principais ferramentas para a sustentabilidade do planeta são necessários estudos que comprovem o que já sabemos na prática, no nosso dia a dia nas fazendas. Só com pesquisas sérias e estudos honestos conseguiremos dados e fatos que mostrem e provem toda a sustentabilidade agropecuária. O segundo passo é comunicar esses dados. Mas de forma estratégica, com relacionamento, com clareza, continuidade, embasamento, com comprovação, com fatos, com dados, com números e pesquisa.
Da minha parte, criei em 2022 a certificação Fazendas Carbono Zero (FCZero) que tem como objetivo impactar as futuras gerações com sustentabilidade e rentabilidade no agro. Através de boas práticas agrícolas, conseguimos virar o jogo e transformar o produtor rural no mocinho desta novela da vida real. Por aqui também seguimos comunicando e defendendo este setor que produz muito, preserva muito, mas fala pouco.
(*) Gustavo Avelar é engenheiro agrônomo em Mato Grosso e atua com foco na gestão e certificação de propriedades em agricultura regenerativa
Foto: Divulgação / CROP Agro Comunicação