O carrapato do boi, Rhipicephalus microplus, está presente em quase todo o território nacional e é um dos problemas mais relevantes economicamente na pecuária bovina. Além do desconforto e a irritação promovidos pela fixação e presença do parasito no corpo, o consumo do sangue e as lesões ocasionadas no couro do animal, o carrapato é vetor da Tristeza Parasitária Bovina (TPB), um complexo de doenças que pode promover a morte dos animais.
O controle deste ectoparasita é essencial para mitigar seus prejuízos e precisa ser realizado de forma rotineira na fazenda, levando em consideração as características climáticas e epidemiológicas particulares de cada região. Entender o ciclo do carrapato é primordial para o seu combate.
As larvas do parasito costumam estar presentes em grande quantidade no ambiente e ficam à espreita aguardando a presença do hospedeiro, nesse caso principalmente os bovinos. Uma vez que ganham o corpo dos animais, estas larvas procuram locais para se fixarem, iniciar sua alimentação e evolução para as diversas fases do ciclo parasitário. O período parasitário médio é de cerca de 21 dias para as fêmeas. Durante este período, quando as fêmeas atingem sua capacidade reprodutiva são fertilizadas pelos machos e intensificam a alimentação com o sangue dos hospedeiros, atingindo o grau máximo de ingurgitamento ou tamanho. Tecnicamente estar fêmeas passam a ser chamadas de teleóginas, no campo chamado de jabuticaba ou mamona.
As teleóginas maduras, repletas de sangue e com milhares de ovos, se destacam dos animais e, chegando ao solo, buscam locais mais frescos e abrigados da luz solar. Ali permanecem por determinado período para então iniciarem a postura dos ovos. Por fim, estes ovos são incubados e dão origem a milhares de novas larvas que, após um período de maturação, adquirem a capacidade para infestar os animais. Esta fase, onde o parasito permanece no ambiente é denominada fase não parasitária ou fase de vida livre e tem duração variável de acordo com as condições ambientais, especialmente de temperatura e de umidade relativa do ar.
“Nas épocas do ano com médias de temperatura e umidade mais alta, a fase não parasitária se acelera. Já nas épocas mais frias e/ou secas, esta fase se alonga podendo chegar a vários meses ou, até mesmo, é interrompida”, diz Marcos Malacco, médico-veterinário da Ceva. “A questão é que em épocas do ano com temperatura e umidade mais altas temos aumento ou verdadeiras explosões da carga parasitária no ambiente e, consequentemente, nos animais. Este fenômeno é denominado geração do carrapato e, de uma maneira geral, no Brasil temos 3, 4 ou até 5 gerações do parasito por ano, dependendo das regiões, época do ano e das condições climáticas, sendo mais frequente 4 gerações”.
A primeira geração de carrapatos, conhecida como G1, corresponde aos carrapatos que sobreviveram ao período mais seco e/ou mais frio do ano, surgindo após o início do período das chuvas ou metade/fim da primavera. Durante o verão, o aumento das precipitações, a temperatura média e a umidade relativa do ar mais altas, dão oportunidade para o surgimento de uma outra onda de infestações, a 2ª geração (G2), e o impacto dela tem relação direta com o impacto da G1, ou seja, quanto maior a infestação na G1 maior será a infestação na G2. No final do período mais chuvoso e/ou pouco antes do início da época de temperaturas mais frias, surge a 3ª geração de carrapato (G3) e esta, na maioria das regiões brasileiras, é a de maior impacto (maior infestação), estando este diretamente relacionado ao impacto da G2.
“O combate à essa segunda geração é muito importante, porque a redução destes parasitas neste momento também reflete na redução da terceira geração, que costuma ser a de maiores infestações nos animais. Este fato pode coincidir com surtos da Tristeza Parasitária no rebanho de animais jovens”, Malacco explica.
Um controle estratégico eficaz contra estes ectoparasitas deve buscar combater as cargas parasitárias nos animais, buscando a máxima redução no número de teleóginas ou mesmo da viabilidade de seus ovos e de sua postura no ambiente, onde encontra-se pelo menos 95% da carga parasitária global (quando comparamos a quantidade total de carrapatos e relacionamos o que encontramos nos animais e no ambiente). Para que a ação seja efetiva, é importante que todo o rebanho passe pelo processo, preferencialmente no mesmo período.
“O carrapaticida ideal a ser usado na propriedade precisa atuar nas diferentes fases de desenvolvimento do carrapato (larvas, ninfas, estágios pré-puberes e adultos) eliminando-as diretamente por contato (ação mais rápida) e via sangue dos animais tratados (via sistêmica – ação mais duradoura)”, o médico-veterinário complementa. “A redução da infestação ambiental é primordial para o sucesso no controle destes parasitas”.
Um rebanho livre do carrapato é um rebanho com maiores chances de expressar todo o seu potencial genético, tendo maior desempenho produtivo e promovendo um maior retorno ao pecuarista.
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