Produzir mais “bezerros do cedo”, melhorar os índices zootécnicos, otimizar o manejo e reduzir custos operacionais estão entre as principais vantagens oferecidas pela IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo). Além desses benefícios, essa biotecnologia tem sido explorada como alternativa complementar à indução de ciclicidade em novilhas.
A estratégia esbarra em questões hormonais, imaturidade sexual e escore corporal baixo, fazendo dela um grande desafio na pecuária. Também vale ressaltar que a seleção para precocidade sexual é determinante ao encurtamento da idade reprodutiva. O tema foi amplamente discutido na segunda edição do GlobalSynch Group, que ocorreu no final de agosto, em Ribeirão Preto (SP).
“A questão é que tudo o que aprendemos até agora com novilhas de dois anos não se aplica às pré-púberes”, constata Roberto Sartori, professor do departamento de Zootecnia da Esalq/USP, ao discorrer sobre a fisiologia e os princípios básicos da puberdade em bovinos.
Segundo ele, o que caracteriza o início da puberdade é a primeira ovulação natural, sendo necessário mais dois ou três ciclos para que as novilhas estejam maduras o suficiente para receberem uma gestação, com menor risco de perda do bezerro. “É possível, sim, estimular a puberdade, desde que as novilhas tenham boa genética, nutrição e estejam próximas dessa fase. Caso contrário, induziremos apenas a ovulação”, comenta o pesquisador.
Em outras palavras, são menores as chances ao desafiar novilhas pré-púberes apostando apenas na nutrição. Elas respondem aos protocolos hormonais, emprenham em muitos casos, mas os riscos de perda embrionária são mais elevados. “É preciso avaliar a relação custo-benefício ao trabalhar com novilhas não selecionadas para precocidade sexual. A conta pode não fechar”, diz Sartori, ressaltando que elas exigem um manejo nutricional diferenciado por mais tempo para que possíveis ganhos com bezerros nascidos não se diluam futuramente.
Perda gestacional
Na pecuária leiteira, já são conhecidos os fatores que implicam na perda gestacional. Porém, no gado de corte os experimentos buscam respostas mais objetivas, principalmente em novilhas zebuínas. Ao tentar jogar luz sobre a questão, Bruna Catussi, doutoranda na FMVZ-USP, apresentou números interessantes durante o GlobalSynch Group ao estudar 5.400 novilhas de uma fazenda com décadas de seleção para probabilidade de prenhez aos 14 meses.
Em linhas gerais, ela identificou que novilhas a partir dos 293 quilos, ECC de 3,25 e idade de 14,7 meses, assim como aquelas que expressaram cio ao fim do protocolo hormonal, atingiram melhor fertilidade com menores chances de perdas. Carlos Consentini, da GlobalGen vet Science também discorreu sobre o tema e suas conclusões foram semelhantes em relação à contribuição da genética, a presença do estro e a condição corporal para manutenção gestacional.
“Além disso, vimos que os hormônios utilizados nos protocolos de IATF aumentam a fertilidade e não exercem efeito negativo na gestação”, observou Consentini, ressaltando a importância da coleta de dados a campo para análises aprofundadas.
Impacto do manejo
Além das perdas decorrentes de refluxos medicamentosos, traumas, contusões e abcessos, condutas agressivas da lida também geram perdas em fertilidade. Segundo Rafael Cassiolato, consultor técnico da GlobalGen vet Science, experimentos de campo demonstraram que as fêmeas mais tranquilas são 7% mais eficientes quando comparadas aquelas mais estressadas.
Tamanha é a importância do bem-estar animal que os clientes da GlobalGen vet Science, organizadora do grupo de estudos, passarão a contar com um serviço que permitirá acesso a aulas práticas e teóricas sobre o tema, já na próxima estação de monta.“Nossa proposta é demonstrar que todas as manobras com o gado interferem no desempenho dos protocolos e, mais do que isso, que a certificação em bem-estar animal já é uma exigência mundial”, pontua.
Foto: Divulgação / Pec Press