Por Vitor Fascina* – Acadeia de produção animal vem enfrentando grandes desafios quanto à escalada de preços de algumas matérias-primas essenciais para a sua operação. A grave interrupção das cadeias globais de suprimento decorrentes da pandemia da COVID-19, a menor disponibilidade de fretes marítimos e a ocorrência de conflitos geopolíticos, acentuou de forma abrupta os preços das matérias-primas utilizadas na indústria, tais como o Fosfato e isso trouxe consequências imediatas nos custos das rações animais, forçando os nutricionistas a buscarem maneiras de reduzir a necessidade de Fosfato Inorgânico nas dietas mantendo o desempenho.
Essa situação desafiadora e volátil faz com que agora seja a hora de reavaliar as formas de desbloquear o Fósforo contido nas matérias-primas da ração, revendo a inclusão e o tipo de Fitase utilizada. Com a escalada dos preços do Fosfato Inorgânico (preços na Europa acima de € 1500,00/ton, fonte FeedInfo, Abril 2022), aumenta a importância da valorização da Fitase como fonte de Fósforo na dieta, justificando o uso de enzimas dessa categoria mais eficientes na hidrólise do Fitato com maior liberação de Fósforo. Mesmo para os produtores que já utilizam doses moderadas a altas de Fitase alguns passos adicionais podem reduzir os custos e minimizar sensivelmente a necessidade de uso de Fosfato Inorgânico, desde que feitos de forma inteligente.
Diante desse cenário de desafio que nos encontramos, todo o conhecimento e inovação quanto à Nutrição Livre de Fitato faz a diferença. A inclusão de uma Fitase de alta eficácia, como são as de quarta geração, aumenta muito a quantidade de Fósforo disponível para o animal a partir da dieta, quebrando o Fitato dos ingredientes, aumentando a liberação do Fósforo e outros nutrientes que, de outra forma, estariam indisponíveis. Isto significa que é preciso adicionar níveis muito menores de Fósforo Inorgânico à dieta, proporcionando economias substanciais nos custos de alimentação.
Com os atuais desafios de preço e fornecimento no mercado de Fosfatos este é o momento para verificar e capturar oportunidades de melhorias na nutrição livre de Fitato. De forma geral, o uso de Fitase em dietas de aves tem por objetivo inicial uma liberação de Fósforo de 0,15% nas dietas com doses de 1.000 unidades de Fitase/kg. Entretanto, ao avaliar a quantidade de Fitato na dieta de aves e suínos (percentuais maiores ou iguais a 0,22% de Fitato), permite-se ajustes de liberação de Fósforo na dieta acima do normalmente praticado, utilizando Fitases de quarta geração, com a mesma dosagem de 1.000 unidades de Fitase/kg chega-se a liberações médias de 0,18% de Fósforo ou 0,14% de Fósforo digestível em aves e suínos, respectivamente, o que traz benefícios adicionais significativos de nos custos além de ajudar a reduzir o uso de fosfato inorgânico, que é interessante do ponto de vista de sustentabilidade (Tabela 1). Considerando a escala de produção de uma fábrica de ração típica para aves e suínos, até mesmo pequenas reduções na quantidade de Fosfato logo se traduzem em economia da ordem de múltiplos contêineres.
Manter a integridade das rações se tornou mais importante quando os preços dos ingredientes estão elevados. Antes de passar a considerar liberações de Fósforo maiores com o uso de Fitases de quarta geração é necessário fazer algumas verificações fundamentais para garantir que as mudanças façam sentido tanto na teoria (formulação) quanto na prática (para o animal). Para garantir uma mudança segura para doses mais altas, considere as sugestões a seguir. Lembre-se que uma Fitase rápida e eficiente, ajudará a maximizar a degradação do Fitato e a eliminar qualquer risco associado à mudança para doses mais altas.
• Garanta que haja Fósforo Fítico suficiente na dieta. Os níveis de Fósforo Fítico presentes nas matérias primas variam de maneira acentuada. Use equações para Fósforo Fítico baseadas em análises via espectofotômetros NIR tanto para ingredientes como para a ração completa. Isso permite a medição rápida e econômica da quantidade de Fósforo Fítico, eliminando o risco de usar valores médios, disponíveis na literatura, e assegurando que você sempre tenha a quantidade de substrato necessária para a dose de Fitase proposta.
• Faça a quantificação dos níveis de Cálcio nos ingredientes, monitore a origem, tipo e forma do Calcário. O Cálcio, e em particular o proveniente de Calcário, interage com o Fitato no trato intestinal, reduzindo a capacidade de degradação da Fitase. Para frangos de corte, não apenas a quantidade, mas também a solubilidade e o tamanho das partículas de Calcário e de outras fontes de cálcio são importantes. Garantir que todas as adições de Calcário, por menores que sejam, estejam quantificadas na fórmula da ração. Esses são fatores que podem evitar os efeitos negativos do excesso de oferta sobre a eficácia da Fitase.
• Otimize o pH do trato intestinal. Independentemente se estão na dieta ou na água, o uso de acidificantes influencia o pH e a capacidade de ligação dos ácidos do trato intestinal. Entre muitos outros benefícios, também asseguram a degradação ideal do Fitato, garantindo que o pH do estômago seja otimizado para a atividade da Fitase. Na tentativa de economizar custos, a remoção destes importantes aditivos deve ser revisada e, se possível, evitada.
Muitos outros fatores também influenciam a eficácia da Fitase. O uso de água a temperaturas inferiores a 20°C, por exemplo, a presença de outras enzimas como proteases e carboidrases para liberar o Fitato de matrizes mais complexas e a correta relação Fitato-Proteína na ração podem ter um efeito positivo. Para saber mais sobre a influência desses e de outros fatores existem ferramentas como calculadoras de melhor dose de Fitase, na qual é possível avaliar o impacto de diferentes cenários alimentares sobre a acessibilidade do Fitato em diferentes espécies e o que isto significa para a dosagem da referida enzima.
Tabela 1. Exemplos de economia de dietas com liberação de 0,15% de fósforo para 0,18% de fósforo disponível com uma fitase de quarta geração.
(*) Vitor Fascina é Médico Veterinário formado em 2004 e Mestre em Ciência Animal formado em 2007 pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Doutor em Zootecnia (Nutrição e Produção Animal) e Pós-Doutorado em Nutrição e Saúde Animal pela Universidade Estadual Paulista (FMVZ-UNESP-2014). Em 2014, ingressou na DSM como pesquisador do Departamento de Inovação & Ciência Aplicada, atuou como Gerente de Serviços Técnicos de Eubióticos e atualmente é Gerente de Enzimas para a América Latina.
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