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O úbere da vaca inchou? Pode ser um edema

Por Raquel Maria Cury Rodrigues* e Brunna Granja** –  De acordo com um artigo recente do Journal of Dairy Science, o edema do úbere é um distúrbio metabólico não infeccioso que está presente em uma alta porcentagem de vacas leiteiras. Alguns dos fatores relacionados incluem genética, nutrição, estresse oxidativo, problemas no fígado e alterações fisiológicas em novilhas em fase de recria e no pós-parto. Assim como outros obstáculos referentes à saúde do rebanho leiteiro, o edema também afeta a rentabilidade da fazenda visto que interfere negativamente na produção de leite e na vida útil produtiva das vacas.

Em alguns casos, a mastite clínica pode causar alterações no úbere – como o edema – e pouca alteração no leite. Nesses casos, é indicado diferenciar o edema da mastite clínica para que o produtor saiba aquilo que realmente necessita de tratamento e como deve interferir. Conforme exposto acima, já que há inúmeras e possíveis origens da condição,  o caminho para entender o motivo do aparecimento do edema de úbere não é tão fácil e nem intuitivo.

É interessante pontuar que o problema parece ser mais comum em vacas da raça Holandesa, acometendo em torno de 66% delas pelo uma vez na vida. E quais são as principais características do edema de úbere? O problema é caracterizado por acúmulo de fluído linfático dentro e ao redor dos espaços intersticiais da glândula mamária.

As estruturas de suporte dentro do úbere podem começar a se decompor devido a danos nos tecidos e a produção de leite pode ser reduzida devido ao acúmulo de líquido nos espaços dos tecidos. O risco de doenças secundárias, como mastite ou dermatite na fenda do úbere, também é aumentado e, em casos graves, os danos podem levar ao abate prematuro.

Sobre a vida produtiva do animal, outra séria consequência do edema é ocasionar um dano permanente nos ligamentos suspensórios do úbere, prejudicando a vida produtiva da vaca e reduzindo a sua longevidade. Tudo isso, sem contar o quão o bem-estar dos animais é afetado pelo problema, já que gera sensibilidade e dor no úbere e nos tetos. As vacas acabam ficando menos tempo deitadas e com elas estando mais em pé, o comportamento negativo de pisoteio é intensificado, por isso, cabe aos responsáveis pela fazenda a avaliação do animal a fim de reduzir o incômodo do edema.  Mais estresse, menos leite e mais dor de cabeça!

A prevalência é maior em novilhas de primeira cria, possivelmente porque estes animais têm o sistema vascular da região do úbere menos desenvolvido. Algumas pesquisas apontam que a incidência do edema mamário aumenta continuamente à medida que as novilhas se aproximam do primeiro parto e que os casos mais graves ocorreram naquelas que pariram no inverno e com idade mais avançada. Todavia, existe também a contribuição do fator hereditário, sendo que algumas vacas apresentam uma maior tendência para desenvolverem o edema da mama.

É interessante acrescentar que vacas que passam por períodos secos mais longos (>70 dias) tendem a apresentar maior gravidade quando são acometidas pelo edema.  Também, é curioso destacar que os edemas podem estar associados com o aumento da incidência de mastite clínica no início da lactação e com um aumento modesto na prevalência de cetose na 2ª semana após o parto.

Segundo Kojouri et al (2015), o comprometimento transitório da função hepática das vacas evidenciado por baixas concentrações de lipídios e lipoproteínas circulantes podem também estar diretamente envolvidas na formação de edema de úbere em novilhas. E como podemos prevenir os edema no nosso rebanho?

Estresse oxidativo: o que é e como reduzi-lo? 

Responsável por elevar os danos aos tecidos, inclusive os mamários, o estresse oxidativo é definido como um desequilíbrio entre os radicais livres e as defesas antioxidantes.  A fim de evitar que isso ocorra, é necessário a certificação de que os antioxidantes exógenos, como vitamina E, vitamina C, carotenóides e flavonóides, junto com os aminoácidos, sejam oferecidos na dieta das vacas para a prevenção desse tipo de estresse.

Sal: devemos usar com moderação na dieta dos animais

Várias evidências apontam que o excesso de sal na dieta eleva a prevalência de edema do úbere. Diferentes formas de sais aniônicos incluem cloreto de sódio, sulfato de magnésio, sulfato de cálcio, sulfato de amônio, cloreto de cálcio, cloreto de amônio e cloreto de magnésio. As vacas que consumiram esses sais demonstraram uma maior tendência de desenvolverem – mais cedo – o edema de úbere e além disso, demoraram mais para se recuperarem. Formular dietas adequadas para os animais e oferecer uma dieta específica para as novilhas no final da gestação podem ser opções palpáveis para a fazenda.

Reduzir as lesões nos tetos 

Problemas com o equipamento de ordenha são muito comuns e regular essa ferramenta a fim de evitar edema e outras doenças, como mastite, é primordial para o negócio como um todo. Treinar a equipe para uma boa operação dos equipamentos também é fundamental para a rotina de ordenha. Atitudes simples que resultam em grandes ganhos.

Genética 

Geneticamente, alguns animais são mais predispostos ao edema de úbere. Realizar uma boa seleção genética dos animais reprodutores contribui para evitar casos no plantel. Como o edema do úbere causa deterioração das estruturas de suporte do úbere, pode ser benéfico selecionar melhores características de conformação do úbere para aumentar a probabilidade de um animal se recuperar de um caso grave. É interessante também tentar selecionar animais que melhoram a fenda, a profundidade e o equilíbrio do úbere.

Outros métodos preventivos são: restringir dietas com alta energia, sódio (já citado anteriormente no tópico 2) e potássio nas últimas três semanas antes do parto; exercícios em terrenos planos e em baixa velocidade no pré-parto; ordenhas frequentes e controladas no pós-parto para e disponibilizar acesso livre à água.

Cura espontânea x tratamento

Em casos mais simples, a cura é espontânea e cabe ao produtor e a sua equipe apenas a observação. Porém, se alguma vaca necessitar de tratamento, este é realizado por meio de anti-inflamatórios e/ou diuréticos, massagens nos úberes e alguns exercícios leves.

Como sempre sugerimos nos nossos artigos, um olhar atento do produtor e da sua equipe fazem a diferença nessas situações. Observar e notar comportamentos diferentes das vacas contribui muito para a detecção precoce de inúmeros desafios.

(*) Raquel Maria Cury Rodrigues é Zootecnista pela UNESP de Botucatu. 

(**) Brunna Granja é Médica Veterinária, Mestre em Ciências Veterinárias em qualidade do leite, diagnóstico e controle de mastite bovina pela FMVZ/USP. Analista de Sucesso do Cliente na OnFarm.

Foto: Divulgação / Assis Comunicações

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