Por Raquel Maria Cury Rodrigues* e Brunna Granja** – Que a mastite é uma pedra no sapato dos produtores de leite todo mundo já sabe. O nome da doença agrega diversos microrganismos que são os agentes causadores da patologia e várias implicações – visíveis ou não – nas vacas.
E por que “trocar figurinha” sobre a mastite ainda é tão importante? Porque dia a dia as tecnologias avançam e contribuem ainda mais para a sua eliminação. Decifrar as entraves que a levam para dentro da fazenda auxilia para que os patógenos esbarrem em fortes barreiras e não assolem o rebanho e – quanto mais estudamos sobre o assunto – mais seguros nos tornamos para enfrentar os desafios que aparecem no cotidiano. A informação sempre vence!
A analogia do subtítulo “duelo de titãs” é apenas uma jocosidade para expor a luta das leiterias contra os dois tipos da enfermidade (clínica e subclínica) que, cada uma com suas características específicas, geram danos para toda a cadeia produtiva. A ideia é que sejamos maiores e mais estratégicos que a mastite que tanto acarreta prejuízos, ser mais produtivos e competitivos, prezar pela qualidade e reduzir os custos de produção. Para que isso aconteça, o primeiro passo é monitorar a saúde do rebanho. Assim, destrinchamos abaixo as principais diferenças e características da mastite clínica e subclínica a fim de ajudar os envolvidos na fazenda a realizar um diagnóstico preciso e precoce.
Mastite clínica
Normalmente a mastite clínica é caracterizada por modificações vistas a olho nu no leite e talvez (já que não ocorrem em todos os casos) mudanças nos úberes. Grumos, leite aguado e presença de sangue são algumas alterações relatadas no leite. Já inchaço, edema, endurecimento, vermelhidão e dor, pertencem ao grupo de sintomas que acometem os quartos mamários. Também, o animal pode apresentar outros sinais sistêmicos da infecção usualmente em situações mais graves como febre (aferida pelo aumento da temperatura retal), desidratação e redução no consumo de alimentos, itens que resultam consequentemente em uma menor produção leiteira.
Para direcionar e traçar um plano, a mastite clínica é classificada em graus que podem ser leves, moderados ou graves. No leve (grau 1), há somente presença de alterações visuais no leite como as expostas no parágrafo acima; no moderado (grau 2), além do leite, o úbere apresenta sinais de que algo não está legal e por último, no grau 3, que é considerado grave, a vaca também se torna febril e reduz o apetite.
Mastite subclínica
Mais prevalente que a mastite clínica, as infecções por mastite subclínica – que totalizam de 90 a 95% dos casos – afetam os resultados financeiros do produtor já que reduzem a produção de leite, diminuem a qualidade do mesmo e suprimem o desempenho reprodutivo.
Mesmo oculta, o quarto mamário afetado pela doença pode apresentar diminuição na produção e mudanças na composição do leite, fato que interfere negativamente na fabricação dos laticínios quando pensamos pelo lado da indústria. Essa situação também reduz as bonificações oferecidas aos produtores, fazendo com que percam uma oportunidade de melhorarem a renda.
As fazendas podem monitorar a mastite subclínica por meio de testes individuais como o CMT (California Mastitis Test) e a CCS (Contagem de Células Somáticas). Mundialmente, o padrão de diagnóstico é o valor de 200 mil células por mililitro, ou seja, acima desse valor, é um indicativo que a vaca está reagindo ao patógeno e necessita de atenção. Abaixo desse valor, a vaca é considerada sadia.
Quando a vaca é identificada com mastite subclínica, outras questões também valem ser respondidas, por isso, a importância de uma boa base de dados: esse animal tem mastite subclínica crônica e se sim, é candidato ao descarte já que não responde bem às terapias já propostas? É uma nova infecção? A vaca tem histórico de responder bem ao tratamento? Ela está prenha? Entre outras indagações, essas são algumas relevantes para o desenvolvimento de um planejamento.
Outros testes também podem ser auxiliares como o WMT (Wisconsin Mastitis Test) e o de condutividade elétrica. Conhecer as bactérias causadoras de mastite do rebanho por meio da cultura microbiológica também é crucial para entender com quem estamos lidando. Há vários tipos de microrganismos e se soubermos exatamente qual é a bactéria, a equipe pode tomar a melhor decisão com relação a qual tratamento adotar ou quais medidas preventivas devem ser priorizadas no momento. Essa ferramenta é útil tanto para casos clínicos como subclínicos.
De maneira resumida, tratar as vacas às cegas resulta em uma menor chance de cura e as perdas econômicas serão maiores e em algumas vezes, até desastrosas. Então, o principal recado é: use e abuse do conhecimento disposto e dos recursos que hoje estão extremamente acessíveis.
(*) Raquel Maria Cury Rodrigues é Zootecnista pela Unesp de Botucatu.
(**) Brunna Granja é Médica Veterinária, Mestre em Ciências Veterinárias em qualidade do leite, diagnóstico e controle de mastite bovina pela FMVZ/USP e Analista de Sucesso do Cliente na OnFarm.
Foto: Divulgação / OnFarm